Políticos de ontem e de hoje
Não há mais nada esclarecedora no momento, no país, do que essa advertência de Darci Ribeiro, senão o descalabro de homens públicos do Brasil atual receberem fraudulentamente R$ 600 milhões
Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista
Eis a questão: a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Qualquer autor ficcionista de ontem ou de hoje teria dificuldade de desenhar a atual situação política do Brasil com as variantes inacreditáveis quanto ao procedimento e aos personagens em cena, principalmente nas últimas décadas. No dizer do antropólogo Darci Ribeiro, no livro ‘Povo brasileiro’, “O que houve e hoje é uma minoria dominante espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma social vigente”.
Não há mais nada esclarecedora no momento, no país, do que essa advertência de Darci Ribeiro, senão o descalabro de homens públicos do Brasil atual receberem fraudulentamente R$ 600 milhões, distribuídos entre 1 mil 829 políticos, divididos em 28 partidos, incluindo entre eles 167 deputados federais de 19 siglas, 28 senadores e 16 governadores, demonstrando aquilo que Darci Ribeiro escreveu que essa concentração de poder nas mãos da elite econômica é acompanhada de profunda desigualdade de renda e baixo grau de mobilidade social. Aqui está posta a questão.Mas o lamentável é que o Brasil nunca foi assim. Na história do país existem figuras que se notabilizaram pela defesa patriótica conjugada à ferrenha disciplina quanto aos gastos públicos, fator que hoje causa vergonha aos mais simples dos brasileiros que foram seguidamente às urnas confiando no Brasil melhor e que hoje sentem profunda aversão aos políticos em geral e bradam por mudanças, já
O que mais dói é saber que a classe política colocou o país no pior caminho e com sérias dificuldades para se recuperar e para encontrar logo um atalho face à desconfiança nos homens que formam o governo, todos contaminados com o vírus da desonestidade. Apontam vários caminhos para estancar a crise, sendo o mais efetivo eleições diretas que, pela Constituição, só ocorrerão em 2018, restando como solução imediata a indicação indireta no caso de impeachment de Temer. Surge a desconfiança: Quem no mar de lama aberto a céu aberto seria o candidato com perfil ideal para comandar o que, até hoje, não conseguiu?
Quando de fala em político limpo e honesto que colocava o dever acima de suas intenções pessoais, lembram-se de Leonel Brizola (1922/2004). Sob fogo cerrado do Jornal O Globo, sofreu ferrenha perseguição como governador do Rio de Janeiro por duas vezes. Nacionalista e defensor da juventude, o político gaúcho deixou legado notável de político identificado com as necessidades da população, principalmente quanto às crianças. Ainda como governador, Brizola, num discurso, deixou mensagem que pode ser interpretada como o bom político. Disse: “Uma palavra especial: neste momento nós devemos aos jovens, aos adolescentes que estão aí abandonados, uma palavra. Aos jovens universitários, das gerações jovens que estão abandonados em busca de ganha pão e à margem de um emprego digno. A vocês jovens de meu país quero transmitir esta mensagem: tomem o destino de você nas mãos. Não confiem nesses políticos. Tudo está corrompido. Quem lhes diz é Leonel Brizola que não quer nada para ele, com seus cabelos brancos. Essa geração de políticos é perdida. Não esperem nada dessa geração política. Tome o vosso destino em vossas próprias mãos. Nós queremos que o futuro seja de vocês, mas nós queremos mais, que o presente seja de vocês. Brizola governou o Rio de Janeiro em dois mandatos – 1983/87; 1991/1994.
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