Stefan Zweig e o Brasil de hoje
É sabido que o livro de Zweig colocou o Brasil como o país do futuro devido à grandeza do seu território, destacando a admiração à gigante Amazônia.
Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista
Existem datas na história mundial que passam despercebidas embora tenham grande importância na afetividade e no sentimento de um povo por elas atingidas. É o caso da publicação, em 1941, do livro ‘Brasil, País do Futuro’, do austríaco Stefan Zweig, obra que distingue o Brasil “como uma terra que quem o visita não gosta de deixá-lo”. São 78 anos de uma publicação do autor entre os grandes da literatura mundial.
Zweig, fugido da Europa destroçada pela guerra de 1939, e aqui, em Petrópolis, no Rio, escreveu a obra na época líder de vendagem, mesmo com restrições por parte de opositores da ditadura de Getúlio Vargas.
No Brasil, aliás sua derradeira etapa de vida aos 60 anos, Zweig percorreu o país colhendo informações para a publicação e nela fez o retrato de um território inigualável, expressando “como coisa rara e beleza perfeita, quase um sonho”. O livro conta observações feitas durante visita ao Rio, São Paulo, Minas e Bahia, anotando o Rio de Janeiro como uma “cidade soberba, que o torna realidade nas horas mais tristes e não há cidade mais encantadora na terra’”.
É sabido que o livro de Zweig colocou o Brasil como o país do futuro devido à grandeza do seu território, destacando a admiração à gigante Amazônia.
Chegou então a hora dos brasileiros nascidos depois daquela época perguntarem o que foi feito para o aproveitamento do mestre literatura mundial? Vamos, então, por parte. Objetivamente mesmo, nada foi feito em relação ao futuro almejado. É de conhecimento geral que o progresso do país foi massacrado e assaltado por uma horda de corruptos que atingiu as fontes de riquezas do país, como, o mais grave, tirou o direito do povo de contribuir para o advento de um país melhor. A classe dominante deixou de lado a obrigação de tornar o país num plano educandário visando a formação de um povo consciente com direitos e deveres. Seria preciso esforço no sentido de estender a educação a país de jovens, pois sem educação a vida se torna um fardo pesado demais.
Os males que o Brasil deixou de cuidar para justificá-lo como o país do futuro justifica os dias amargos da grande população. As boas iniciativas desprezadas sem as quais nenhum país avança, e o Brasil acaba sendo tido como o rei da impunidade, por onde provém a desordem e a insegurança para o povo que quer viver em paz. Muitos outros seriam os itens que foram relaxados e deixados de lado por uma visão ambígua, longe da imagem retratada pelo livro.
O futuro do Brasil poderia ter vivido progresso nas sete décadas, porém foi prejudicado pela visão curta de quem tinha nas mãos a obrigação de acertar. Zweig deu cabo à vida, desiludido com o trauma de sua Áustria maltratada por Hitler. Suicidou-se em 22 de fevereiro de 1942, em Petróplis, deixando uma carta de despedida comovente e triste. Num trecho da carta, ele escreveu: “Assim em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal. Saúdo todos os meus amigos e que lhes seja dado uma aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impotente, vou-me antes”.
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