Tarde demais
Ao insistir com a ideia de que o seu afastamento definitivo do poder da República significa um golpe de Estado, Dilma Rousseff, hoje na condição de ré, esquece que não lhe restam mais as mínimas condições para continuar governando o país.
Ruy Guarany – jornalista
Articulista
Te acordo como estava anunciado, a presidente afastada Dilma Rousseff deu divulgação à carta endereçada aos senadores. O texto, em si, não traz nada de novo que possa reverter a consumação do impeachment que segue o seu curso normal e chegará ao seu final com o julgamento que já tem data marcada para a sua realização.
Ao insistir com a ideia de que o seu afastamento definitivo do poder da República significa um golpe de Estado, Dilma Rousseff, hoje na condição de ré, esquece que não lhe restam mais as mínimas condições para continuar governando o país. Como alguém se arvora em falar de golpe, quando está claro que as instituições estão funcionando em toda a sua plenitude, seguindo rigidamente os preceitos constitucionais. Ao pedir, “encarecidamente”, aos senadores, para que anulem o processo contra a sua pessoa, prometendo a convocação de um plebiscito para a realização de eleições gerais, teve como resposta do presidente do Senado, Renan Calheiros, que o impeachment é constitucional, e o plebiscito, não.
Faltando sete dias para o início do julgamento, a situação da Presidente afastada se complica ainda mais diante da ameaça de se tornar ré pela segunda vez, por decisão do STF que, respaldado em provas consistentes e resultantes das investigações da Lava Jato, recomendou abertura de processo contra ela, Lula e o ex ministro José Eduardo Cardozo, por tentativa de obstrução da justiça.
No tocante aos apelos constantes da carta enviada aos senadores, além de considerados nulos pela maioria que apoia o impeachment, é voz corrente, no Senado, de que foram feitos tarde demais.
Aconteceu em São Paulo – Jânio Quadros baixou ato determinando que os taxistas passassem a usar um boné de cor amarela, como identificação. Sabedores de que Jânio era um aficcionado da poesia, deram entrada a um requerimento, em forma de verso, pedindo que, ao invés de usar o boné na cabeça, que usassem na mão. Jânio deu o seguinte despacho, também em forma de verso: “O pedido, motorista, não tem cabeça nem pé ou vislumbre de razão. Ponha o boné bem à vista, que a cabeça é para o boné, e não o boné p’ra mão. Ponha, amigo, o boné, ponha. Indefiro a petição”.
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