Cidades

PF desocupa Reitoria da Unifap

Estudantes permanecem no campus da Universidade, mas agora se alojaram no ginásio de esportes


No início da madrugada desta quinta-feira, 28, um oficial de justiça, com o apoio de policiais federais deu cumprimento a mandado de reintegração de posse e desocupou o prédio da Reitoria da Universidade Federal do Amapá (Unifap), que estava ocupado desde a terça-feira, 26, por um grupo de cerca de 30 estudantes, que reivindicam melhorias estruturais e pedagógicas na Universidade, além da normalização dos serviços de fornecimento de água tratada e energia elétrica. Outra reivindicação é a melhoria da qualidade do ensino da instituição, considerando que 12 cursos receberam notas entre 01 e 02 na última avaliação feita pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) no início deste ano.
 
Ouvido pela equipe de reportagem do programa LuizMeloEntrevista (DiárioFM 90.9) na manhã desta quinta-feira, 28, um dos líderes do movimento, identificado como Rafael, explicou que o movimento foi deflagrado em consequência do encerramento das conversas com a direção da Unifap: “Essa ocupação é exatamente o esgotamento das conversas no âmbito burocrático; há uma série de documentos apresentados à Reitora, mas ela sempre e limitar a dar respostas mínimas e não faz o encaminhamento das propostas apresentadas. O movimento vai continuar, vamos usar outros métodos de mobilização e articulação para que a Reitora cumpra com suas obrigações institucionais; em vez de fazer isso, entretanto, ela mobiliza a polícia para nos tirar da Universidade, mas resolvemos que vamos permanecer, porque o nosso movimento é legítimo; vamos resistir; não estamos prejudicando absolutamente nada, tanto que permitimos a entrada de servidores responsáveis pela folha de pagamento para não haver prejuízos aos funcionários, mas a própria Reitora radicalizou e impediu a entrada desses servidores’.
 
O estudante revelou que várias entidades nacionais se aliaram ao movimento, mandando representantes, o que mostra a pluralidade do movimento: “Estamos cada vez mais fortalecidos exatamente por conta da legitimidade do movimento; nossa pauta exige cumprimento imediato, para que o cenário da Unifap seja mudado; para isso, é preciso haver empenho de todos, por isso vamos resistir”, prometeu;
 
Radicalização
A Reitora da Unifap, Eliane Supérti, foi entrevistada ao vivo pela bancada do programa, comandada interinamente pelo jornalista e radialista Douglas Lima, composta pelos também jornalistas e radialistas Elden Carlos e Ziulana Melo. Ela deu a sua versão: “Enquanto o movimento foi pacífico, com os alunos se manifestando de forma pacífica, sua legitimidade era indiscutível, porque era possível manter a convivência com o movimento; porém, quando passaram a radicalizar, tivemos que adotar uma posição mais dura, mesmo porque eles se fecharam ao diálogo, tanto que tínhamos uma reunião agendada para 15h de terça-feira, fomos ao local onde a reunião ocorria, mas eles (os estudantes) falaram que não queriam reunião naquele momento, pois fariam uma assembleia para fechar a pauta para discussão até pela manhã; mais uma vez concordei, aceitei; eu teria que viajar, mas não viajei e fiquei aguardando; só que, novamente, eles não concordaram com a reunião; aí, não tivemos outra alternativa, senão entrar com a medida judicial para evitar mais prejuízos ainda para a administração e mesmo o funcionamento da Universidade”.
 
De acordo com a Reitoria, a radicalização foi o motivo ensejador do ajuizamento da ação de reintegração perante a Justiça Federal: “Não desligamos o ar condicionados e nem cortamos fornecimento de água, embora, por si só, já é racionada por deficiência no fornecimento pela Caesa; no horário da reunião eles radicalizaram, falaram que não fariam reunião, argumentei que o pessoal responsável pela folha teria que trabalhar, a assessoria jurídica teria que trabalhar, e se não adentrássemos no prédio não teríamos como pagar empresas terceirizadas e salários; pedimos aos estudantes que reconsiderassem; demos um período e, ao final do prazo, eles decidiram que não deixaram ninguém entrar; pedi mais uma vez para reconsiderarem, mas eles radicalizaram; a partir daquele momento o movimento deixou de ser pacífico para ser invasão; aí não tive outra alternativa, senão a de ir à Procuradoria-Geral da Unifap e tomamos a decisão junto com a procuradora-chefe de entrar com a ação judicial; o juiz entendeu que gestão da Unifap tem razão e determinou a imediata desocupação pra que a gente garanta o fluxo de trabalho”.
 
Extinção de cursos e corte brusco orçamento
A Reitora lembrou que desde ano passado vem alertando a sociedade, através da imprensa, que a Unifap sofreu 50% de corte dos recursos em 2015; por causa disso, o recurso alocado foi suficiente apenas para manter o funcionamento básico da instituição, causando atraso em todas as 16 obras em andamento.
 
“Todas as 16 obras em andamento estão com o cronograma de execução em atraso, e  algumas estão paradas; em 2016, com 7 mil alunos, 485 professores e 44 técnicos trabalharemos com a planilha orçamentária de 2014 quando tínhamos 2 mil professores; sequer temos orçamento e o duodécimo ainda não está liberado; temos que eleger prioridades, como infraestrutura, atendimentos aos cursos, cortes de diárias e passagens; colocamos recursos na áreas de pesquisa e extensão; nos próximos meses inicia o primeiro semestre de 2016, porque, em decorrência da greve, ainda estamos no 2º semestre de 2015; com a entrega das obras dos blocos de fisioterapia, enfermagem e engenharia elétrica, prevista para os próximos três meses é que veremos como ficará a situação para então definirmos o que fazer dentro do que é disponível”, ponderou Supérti.
 
Para outra líder do movimento, Joyse Collares, ouvida no ginásio de esportes da Unifap, por telefone, por uma equipe volante do programa, a desocupação do prédio, da maneira que ocorreu, foi arbitrária e desrespeitosa: “O oficial de justiça veio acompanhado da polícia e a desocupação foi feita à noite; ele voltou hoje pela manhã e nos informou que teríamos que desocupar o ginásio, o que descumpre a ordem judicial, que determina claramente que a ordem é desocupar o prédio da Reitoria, por isso vamos permanecer no ginásio; ela (a Reitora) está tentando marginalizar o movimento, mas nossas pautas são muito claras na Unifap há anos; são as mesmas pautas desde que ela (Eliane supérti) assumiu, mas, infelizmente, não temos qualquer ação concreta e continuamos sem estrutura, sem água, sem luz e refeição de qualidade”.
 
Para Joyse Collares, os problemas existentes na Unifap são decorrentes de má gestão: “Nós sabemos dos cortes nos recursos, dos impactos que causam à Universidade, mas há prioridades básicas; porém, o que falta mesmo é gestão; ela (a Reitora) diz que não tem dinheiro para limpar bebedouros, e até ninhos de sapos existem nos bebedouros; há muita coisa pra fazer, que pode ser feita, e o que falta é habilidade para a gestão lidar com esses problemas”.
 
No contraponto, Supérti garantiu que providências são tomadas para a resolução dos problemas: “Reafirmo que enfrentamos uma situação de crise, mas, mesmo assim, o RU (Restaurante Universitário) foi licitado há pouco tempo e entrou em funcionamento no início desde semestre de 2015; estamos acompanhando permanentemente a execução do contrato através de duas nutricionistas da Unifap, que acompanham a elaboração da comida e fazem relatórios, além de um responsável técnico da a empresa; foi encontrado; quanto ao ninho de sapo no benebedouro isso faz muito tempo, cerca de três, é coisa do passado, não ocorreu na atual gestão”.
 
A Reitora justificou a extinção de cursos: “A situação é critica em cursos que tiraram nota 02 consecutivamente no Enem e estão ou sob ajustamento junto MEC; quanto ao curso de bacharelado em historia, que tirou nota 01 e 02 não tem mais jeito, e o colegiado de historia entendeu que curso deveria ser encerrado; essa decisão foi da própria Unifap, do colegiado, não do MEC; a supressão foi feita e sua reformulação depende de decisão do colegiado de história; mas o curso de licenciatura continua, e tenho ido pessoalmente às visitas técnicas a todos os cursos, com o objetivo de estudar a situação e reverter o quadro de deficiências estruturais que esses cursos possuem. Tenho certeza que vamos mudar esse cenário negativo da Unifap, inclusive para que os 12 cursos com nota 02 obtenham nos próximos exames do Enem pelo menos notas 03 e 04. Nós estamos numa luta muito árdua para mudar o cenário e transformar a Unifap numa grande universidade; nós vamos fazer isso”, prometeu.
 
Problemas de água e luz
 
De acordo com Eliane Supérti, os problemas de água e luz estão sendo solucionados: “Na Unifap temos queda de energia constante, como acontece em toda cidade; para resolver esse problema, adquirimos 11 geradores, cujas instalações estão em fase de fase conclusão, o que permitirá energia no campus mesmo faltando em toda a cidade; dentro de 90 dias as subestações estarão concluídas e já em funcionamento; com relação à situação da água é mais grave, porque é de responsabilidade da Caesa e vivemos momento grave de racionamento; toda a comunidade acadêmica sofre com isso; o poço artesiano da Unifap está contaminado por ferro, por isso não posso ligar, mas já alocamos uma solução técnica, e estamos aguardando a conclusão dos estudos para colocarmos filtro no poço e retirar o ferro para poder ser utilizado”.

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