Quilombo do Rosa terá primeira edição do Encontro dos Quilombos do Amapá
Evento, considerado uma plataforma de debates, entre várias finalidades, visa garantir que voz das comunidades tradicionais seja ouvida em discussões de âmbito internacional, com foco na preservação e nos direitos territoriais
Cláudio Rogério
Especial para o Diário do Amapá
Nos dias 7, 8 e 9 de novembro, o Quilombo do Rosa, na zona rural de Macapá, sediará o 1º Encontro dos Quilombos do Amapá, reunindo lideranças e representantes de mais de 40 comunidades quilombolas tituladas e certificadas. O evento visa debater políticas públicas de igualdade racial implementadas pelo governo do estado, além de apresentar o projeto Amapá Quilombola, agora parte do programa estadual Amapá Afro, destinado a garantir direitos e avanços para as populações negras e quilombolas.
Durante o encontro, serão discutidos temas essenciais para os quilombolas, como educação, cultura, saúde, habitação, infraestrutura e saneamento básico. A programação marca também um momento histórico para a comunidade do Quilombo do Rosa, que receberá oficialmente o título definitivo de posse de terras na abertura do evento, no dia 8 de novembro, entregue pelo governador Clécio Luís. Essa conquista foi sancionada e entregue em setembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia em Alcântara (MA), reforçando o compromisso do governo federal com os direitos territoriais quilombolas.
Preparação para COP30
O encontro também representa um passo importante na preparação do Amapá para a COP30, que será realizada em 2025 em Belém (PA). O evento, considerado uma plataforma de debates e fortalecimento dos territórios quilombolas, visa garantir que a voz das comunidades tradicionais seja ouvida em discussões de âmbito internacional, com foco na preservação e nos direitos territoriais.
“Iniciamos o Mês da Consciência Negra com esse grande evento, que irá reunir lideranças das comunidades tradicionais e promover o debate sobre temas que irão nortear a formulação e execução mais assertivas de ações e políticas públicas de igualdade racial e para o fortalecimento dos nossos quilombos. Assim, nos dias 7, 8 e 9 de novembro, sob as copas acolhedoras das árvores do Quilombo do Rosa, convidamos a todos a se aquilombarem e a transformar este encontro em um marco histórico de nossas lutas e conquistas”, declarou Josilana Santos, diretora-presidente da Fundação Marabaixo.
Painéis temáticos e debates
O Encontro dos Quilombos contará com painéis temáticos que abordarão questões fundamentais para as comunidades quilombolas. Entre os temas, destacam-se ‘Quilombolas do Amapá: a luta por efetivação de direitos frente ao atual cenário político no Brasil’; ‘Direitos territoriais quilombolas: legalidade, coletividade e saberes que devemos proteger’. Esses debates têm como objetivo fortalecer o diálogo e a articulação entre as comunidades quilombolas e o governo, buscando assegurar que as políticas públicas atendam efetivamente às demandas dessas populações.
História de resistência
Entre as histórias de resistência que existem no Quilombo do Rosa, destaca-se a de Dona Geralda, uma líder local que se tornou símbolo da luta pelo direito ao território no Quilombo do Rosa. Alguns anos atrás, ela se opôs com bravura à tentativa da empresa Icomi de despejar rejeitos de manganês com arsênio no solo quilombola, um território considerado sagrado pela comunidade.
Em novembro de 2002, quando os moradores celebravam o tradicional Encontro dos Tambores, Dona Geralda se deparou com caminhões carregados de rejeitos minerais, prontos para despejar os resíduos em escavações feitas na mata. Em um ato histórico, ela se lançou em um dos buracos e declarou que não sairia dali, impedindo a operação.
Sua atitude corajosa movimentou todas as comunidades negras em defesa daquele solo sagrado, e foram dias de conflitos, até o crime ambiental ser interrompido, tornando-se aquele dia um símbolo de resistência e defesa do território.
Hoje, Dona Geralda é uma figura inspiradora para movimentos sociais e ambientais na Amazônia, e sua história reafirma a importância da luta quilombola pela preservação de seu território e pela integridade dos ecossistemas. Seu ato de resistência ecoa no Encontro dos Quilombos, reafirmando a importância da união e da luta das comunidades quilombolas do Amapá.
Marco na luta por igualdade e preservação
O Encontro dos Quilombos do Amapá não apenas celebra as conquistas das comunidades quilombolas, mas reforça o compromisso de garantir a continuidade e o fortalecimento de políticas públicas em prol da igualdade racial e da preservação dos direitos territoriais. O evento reflete o papel dessas comunidades na construção de um futuro mais justo e sustentável, onde a resistência e a coragem, como a de Dona Geralda, continuam a inspirar e a nortear o caminho pela dignidade e justiça social.
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