Resistência é favelar: a história que Maracatu vai contar
Para o carnaval oficial de 2023, Maracatu da Favela levará para a avenida do samba o enredo “Resistência é Favelar”; um resgate de nossas referências de ancestralidade africanas.
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Maracatu da Favela é uma instituição carnavalesca da cidade de Macapá, localizada no Bairro Santa Rita, conhecido carinhosamente como Favela. Foi registrada oficialmente em 15 de dezembro de 1957, mas sua fundação se dá pelo menos 10 anos antes de seu registro, pois Maracatu da Favela tem seus alicerces no bloco “Tricolores da Folia”, criado pelo senhor Vagalume, Bloco este, formado por trabalhadores da antiga empresa ICOMI.
Mais tarde este bloco se tornou uma escola de samba permanecendo o mesmo nome. Anos depois, em dezembro de 1957, o Senhor Vagalume, na residência de dona Gertrudes, reuniu com os senhores Cadico, Mané de Souza, Biló entre outros e transformaram a Escola de Samba Tricolores da Folia em G. R. E. S. Maracatu da Favela, prova disso, é que as cores da bandeira foram preservadas: o azul, o branco e o preto.
Somente nos anos 70, na presidência do senhor Heitor de Azevedo Picanço, que as cores verde e rosa fizeram parte de seu pavilhão sagrado. Seu brasão oficial é formado por quatro elementos: O surdo (representa o samba), a coroa (representa a majestade do samba no Amapá), as folhas de louro (representa as vitórias conquistadas) e a Pomba da Santíssima Trindade (representa a religiosidade da Favela).
Maracatu da Favela participou de todas as batalhas de confetes e de todos os desfiles oficiais de carnaval. Consagrou-se nove vezes campeã nos desfiles realizados pela Liga das Escolas de Samba do Amapá (1976, 1978, 1983, 1985, 1999, 2003, 2007, 2012, 2013). Conquistou seu bicampeonato histórico com os enredos “Espelho, espelho meu…” e “Tic-tac – é tempo de folia” nas presidências de Luiz Mota (Geléia) e Marcos Souza (Selva), respectivamente e, como carnavalesco dos enredos, Sandro Macapá.
Foi vice-campeã em seis concursos oficias (1998, 2000, 2002, 2009, 2014, 2020). Desceu ao grupo de acesso em 1995 e subiu novamente ao grupo especial no ano seguinte com o enredo sobre o compositor amapaense Osmar Junior.
Tem como seus maiores baluartes o Senhor Vagalume, Seu Cadico, Biló, Dona Gertrudes, Dona Generosa, Dona Neusona, Seu Pelé, Dona Fifita.
Para o carnaval oficial de 2023, Maracatu da Favela levará para a avenida do samba o enredo “Resistência é Favelar”; um resgate de nossas referências de ancestralidade africanas.
No fim da década de 1940, na cidade de Macapá, com o processo de urbanização feito pelo governador da época Janary Nunes, criou-se dois núcleos populacionais de identidade negra, a partir da retirada destas populações do centro da cidade. Uma parte da população foi para o que hoje é o bairro do Laguinho, aceitando as condições apresentadas pelo governo.
Do outro lado da história, Dona Gertrudes Saturnino Loureiro, negra devota da Santíssima Trindade, moradora da frente da cidade de Macapá, recusou-se a ir para o Laguinho em função das terras serem destinadas apenas aos homens.
Desta forma foi para a região da Favela onde se estabeleceu com sua família e fundou o Marabaixo da Favela, e junto com outros moradores fundaram um bloco de sujo que posteriormente tornou-se o Grêmio Recreativo Escola de Samba Maracatu da Favela.
A partir deste “êxodo” liderados por Dona Gertrudes, este espaço territorial se fortalece e cresce aos olhos da população. Seu território foi diluído entre os bairros de Santa Rita e Bairro Central e restando poucas famílias de seus primeiros moradores, pois, hoje, essa área é muito valorizada pela urbanização e pela especulação imobiliária, além de grandes espaços comerciais.
Entre todas essas circunstâncias, vale ressaltar que o espaço territorial no qual chamamos de “FAVELA”, mesmo com todo este progresso, ainda há resistência nos ritos, nas tradições e nas manifestações culturais, políticas e religiosas
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