Entrevista

“A abertura provisória da ponte pressiona positivamente que o Brasil conclua suas obras”

O governador do Amapá teve a honrosa missão de chefiar a delegação brasileira que foi a Oiapoque ontem para a cerimônia de abertura da ponte binacional entre o Brasil e a Guiana Francesa. Mas Waldez Góes, ao seu estilo, foi de extrema generosidade com as demais lideranças políticas que estiveram lá, franqueando a palavra a todos e demonstrando que a experiência de estar no terceiro mandato à frente do Setentrião pode ser empregada a favor da diplomacia e da mobilização. E essa será a tônica para que as forças públicas locais continuem envidando esforços para a conclusão das etapas que faltam para a inauguração oficial, marcada para o final do ano, após a conclusão do processo eleitoral da França, que impediram agora a vinda do presidente Fraçois Holand e, consequentemente, do colega Michel Temer.


Edição CLEBER BARBOSA
colaborou AFONSO BENITES

Diário do Amapá – Coube ao senhor representar o Governo do Brasil no evento de inauguração da ponte binacional. Como foi isso governador?
Waldez Góes – É, foi uma solicitação do Governo Federal para que eu representasse o estado brasileiro, chefiando a delegação oficial do nosso país, composta por nossos deputados federais e senadores, deputados da Assembleia Legislativa, representantes do Poder Judiciário, enfim, de nossas instituições e do povo nessa solenidade de abertura provisória da ponte.

Diário – Então ainda não é a inauguração oficial, mas a abertura para o tráfego é isso?
Waldez – Sim, o que é muito importante, afinal são mais de duas décadas de tratativas para que nós chegássemos a esse ponto, de abrir inicialmente para o tráfego de carros de passeio. É um momento histórico, apesar de ser uma abertura parcial, pois isso vai ser feito em várias etapas, com a próxima sendo a abertura para veículos de turismo e em seguida de transporte de cargas. As obras começaram em 2007 e agora é que estão sendo concluídas, então é uma longa trajetória que não podia ser diferente, afinal são dois países diferentes, de continentes distantes, de moedas diferentes, de legislação eleitoral e sistema de governos diferentes, de legislações de licitações também, idioma, enfim, isso tudo para dizer que construir um acordo e chegar a esse momento requer muito trabalho.

Diário – E que passaram pelas mãos de oito presidentes da república diferentes, quatro de cada lado, não é mesmo?
Waldez – Sim, e é por isso que tudo tem que ser tratado como programa de estado e não de governo; governos têm prazo para começar e terminar, mas o estado não, ele é permanente como a população também é permanente, daí nós estarmos comemorando bastante hoje esse primeiro passo que vai ser muito importante para o Amapá especialmente.

Diário – Em que sentido governador?
Waldez – Olha, para a abertura deste sábado, mesmo que provisória, três acordos tiveram que ser aprovados pelo Parlamento Francês e pelo Congresso Nacional do Brasil, com as respectivas sanções pelos presidentes da França e do Brasil. Os acordos dizem respeito à comercialização de produtos de subsistência, não só alimentação, o que significa que na região compreendida entre a Guiana Francesa e o Oiapoque nós vamos ter uma área de livre comércio para um número significativo de produtos. Outro acordo versa sobre transporte internacional, para justificar exatamente o transporte de cargas e de passageiros, bem como um acordo de assistência civil, que prevê o emprego da defesa civil dos dois países, representados pela Guiana Francesa e pelo Amapá, com suas equipes altamente preparadas, inclusive já tendo realizado diversas simulações para dar toda a segurança necessária na área da ponte.

Diário – Mas ainda existe muita coisa a ser feita, não é mesmo?
Waldez – Sim, são muitas etapas, que são vencidas uma a uma a cada momento, mas tenho certeza de que nós vamos vence-las. Eu reafirmo aqui que estarei permanentemente nessa mobilização da nossa bancada federal, dos nossos prefeitos, dos nossos parlamentares estaduais, das nossas instituições federais, estaduais e municipais, sobretudo a comunidade de Oiapoque, vereadores, prefeita, empreendedores, enfim, que serão os primeiros a receber de nós a atenção, afinal é a porta de entrada, daí nós estarmos com diversos projetos já articulados e cobrando do governo brasileiro também uma maior atenção de investimentos uma vez que Oiapoque como cartão de entrada do Brasil precisa ser melhor cuidado, com um bom projeto de mobilidade urbana, um bom projeto habitacional também, preparar a orla e garantir realmente as condições de políticas públicas para Oiapoque primeiro, pois estando bom para Oiapoque e seus moradores o turista que visitar a cidade certamente irá se sentir bem.

Diário – Entre essas demandas está a necessidade de concluir a pavimentação da BR 156, que deveria estar pronta para a inauguração da ponte. Mas a abertura provisória da ponte o senhor entende que pode acelerar esse processo?
Waldez – Exatamente, assim como também falta concluir a obra da Aduana do lado brasileiro. Nós sabemos que durante os doze meses do ano no Amapá chove oito meses, portanto são só quatro meses de verão e em condições de trabalhar, daí em minhas administrações anteriores termos avançado construindo pontes de concreto no inverno e asfalto no verão. Então a abertura provisória da ponte pressiona positivamente para que o Brasil conclua suas obras. Obviamente foi mais fácil para a Guiana fazer a sua parte porque de Saint George até Caiena são 200 quilômetros, enquanto de Macapá a Oiapoque são 600 quilômetros, portanto três vezes mais, então era óbvio que demorasse um pouco mais para o Brasil fazer a sua parte.

Diário – E qual será a estratégia para isso governador?
Waldez – Ela já está em curso. Agora no dia 27 de março mesmo o diretor nacional do DNIT, doutor Walter, virá ao Amapá assinar a ordem de serviço para a construção dos últimos 112 quilômetros que faltam ser pavimentados na BR 156. Então a abertura por etapa também pressiona todos nós agentes públicos a realizarmos aquilo que ainda falta do lado brasileiro. É verdade que ainda falta o pátio aduaneiro, mas quem chega a Oiapoque hoje vê obra para todo lado, sinalização sendo feita, enfim, os prédios estão prontos, as equipes da polícia federal, da receita federal da vigilância sanitária e a polícia rodoviária federal já estão mobilizadas, prontas para dar toda a assistência. Nossa expectativa é que até o final do ano tudo esteja pronto e uma terceira etapa, do lado comercial, relacionada ao transporte de cargas e de passageiros também.

Diário – E com relação à possibilidade dos empreendedores brasileiros, através do Amapá, claro, poderem realizar trocas comerciais com a Guiana Francesa, onde, sabidamente pouco ou quase nada é produzido já que o abastecimento se dá através da França continental?
Waldez – Os acordos que citei anteriormente versam sobre isso também, apesar de ainda não ter sido muito bem repercutido junto à classe dos agentes públicos, dos agentes políticos, dos empreendedores, como também junto à imprensa. A abertura da ponte antecipou a aprovação de alguns acordos como a comercialização de produtos de subsistência, o que significa que não são produtos apenas de alimentação, mas de subsistência na região. Se você chega em Oiapoque, mesmo com o país em crise, vê um comércio aquecido, pois é a única fronteira com moeda invertida, ou seja, onde a nossa moeda vale menos que a do outro lado, o que aparentemente poderia ser uma desvantagem, comercialmente é uma vantagem pois esse acordo prevê que alguns milhares de produtos de subsistência irão receber incentivos, como uma área de livre comércio. Então a tendência é ter uma maior frequência de franceses comprando do lado brasileiro, aquecendo o mercado de Oiapoque.

Diário – Para fechar governador, o que fica de tanto trabalho e investimentos ao longo das últimas décadas para se chegar a este dia que se propõe ser histórico entre o Amapá e a Guiana Francesa?
Waldez – Que o Amapá e a Guiana Francesa já possuem relações sociais, culturais, comerciais a muitos anos. O que o Brasil e a França estão buscando é correr atrás, pois os povos dessa região já estabeleceram essa cooperação, de usos e costumes, com brasileiros casando com franceses, francesas casadas com brasileiros, indígenas que passam um período estão do ano do lado brasileiro e depois do lado francês, então não tem fronteira entre povos, os governos é que fazem suas fronteiras, isso a gente vê em toda a história da humanidade. Então os governos precisam se adaptar a essa realidade e ter um maior controle sobre isso e não tem maior controle sem presença.

Perfil…
Entrevistado. Antônio Waldez Góes da Silva exerce pela terceira vez um mandato de governador do Amapá, tendo ao longo da carreira apenas uma filiação partidária, o PDT. Foi deputado estadual constituinte, tendo chegado ao Parlamento Estadual com forte apelo popular ao ter sido o mais votado, vindo do serviço público como extensionista rural, uma de suas maiores vocações. O destaque como legislador o projetou a disputar o Executivo, inicialmente tentando virar prefeito de Macapá e depois concorrendo ao Governo do Estado por duas vezes, sendo eleito na terceira. Seus dois mandatos anteriores foram marcados por ter sido o que mais avançou na pavimentação da BR 156, a principal rodovia federal do Amapá. 


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