Entrevista

“A família me preparou para o mundo.”

Dona de uma emocionante história de superação, a professora Shahla Lotfi, que nasceu no Irã mas que teve que abandonar sua pátria por sofrer intolerância religiosa, relembra a trajetória até chegar ao Brasil e morar no Amapá.


 

Cleber Barbosa
Da Redação

 

Diário do Amapá – A senhora tem toda uma história como educadora em cursos de idiomas, no Brasil e no exterior, então já fica difícil identificar esse sotaque, que vem exatamente de onde professora?

Shahla Lofti – Bem, devo pedir desculpas pelos meus erros de português, mas tenho uma amiga iraniana como eu que fala assim, que se eu perder esse sotaque perco o meu charme… [risos] Mas eu nasci no Irã, sou de uma família bahai, uma família muçulmana, e nós professamos uma religião que prega a unidade da diversidade, trabalhamos muito em prol do social, o bem-estar da humanidade. Então quando eu terminei meu ensino médio ainda lá no Irã, com meus dezoito anos, fui para a Índia fazer um trabalho voluntário, a ideia era voltar para o meu país, continuar meus estudos e tudo, mas foi exatamente num período que corriam rumores de uma revolução islâmica, então as famílias que não professavam o islamismo acabaram sendo perseguidas, então minha família achou por bem não voltar para o Irã. Continuei com meu trabalho voluntário para ver o que iria acontecer depois.

 

Diário – E o que veio em seguida?

Shahla – Bem, para surpresa nossa e com o conhecimento que todo mundo teve, as coisas só pioraram depois, aconteceu a revolução e o meu retorno para o Irã, para a Pérsia ficou impossível, daí decidi ir morar na Austrália, Nova Zelândia, depois América do Sul e especificamente aqui no Brasil.

 

Diário – Direto para o Amapá professora?

Shahla – Na verdade ainda teve o Amazonas primeiro, em Manaus. Teve um tempo que eu tive um barco, viajava pelos rios, sempre com esse mesmo trabalho religioso. Mas depois eu tive que trabalhar também, pois a família não teve mais como dar suporte para mim devido a problemas de perseguição.

 

Diário – E foi trabalhar exatamente com o que professora?

Shahla – Pois é, eu pensava sobre isso mesmo, então decidi aproveitar meus conhecimentos de inglês e entrei no ramo de escolas de idiomas.

 

Diário – Isso aconteceu em que época, nos anos da década de 1980?

Shahla – Não, mais para trás… [mais risos] Bem antes, não tenho o menor dificuldade de falar a minha idade… Eu saí em 1974 do Irã. Cheguei aqui no Brasil exatamente em 1977, então em abril de 2017 fiz quarenta anos de Brasil, então eu amo esse país de paixão, o Norte do Brasil então eu gosto muito, tanto que toda a minha trajetória foi na região amazônica e desde 1991 eu estou aqui no Amapá com as escolas de idiomas que eu tenho aqui.

 

Diário – A gente ouvindo a sus história, fazendo recortes de algumas palavras como diversidade, tolerância, responsabilidade social, voluntariado e a própria iniciativa de estudar idiomas, coisas contemporâneas hoje, além de uma necessidade para o mercado de trabalho. Parabéns, foi uma visionária!

Shahla – Verdade, obrigada. Na realidade eu tive o privilégio de nascer numa família que me preparou para o mundo, através da fé Bahai, é uma característica da minha religião que nós sejamos preparados na unidade e da diversidade, não olhamos credo ou religião, raça, classe de ninguém, nós somos educados desde criança para uma visão ecumênica, de todas as crenças e trabalhamos para o bem-estar da humanidade.

 

Diário – E nesses anos todos aqui no Brasil, um país tão miscigenado, tão plural, a senhora deve ter reencontrado aqui compatriotas seus que são islâmicos também?

Shahla – Sim, sim, a gente não tem dificuldade em conviver com ninguém, temos muita facilidade, até porque não somos contra ou a favor de ninguém, mas de um convívio saudável, com respeito mútuo e multicultural, temos muita facilidade de convívio, não temos problema nenhum neste sentido.

*A íntegra da entrevista em nosso blog CleberBarboa.Net.

 

Perfil

Shahla Lotfi – A iraniana Shahla Lotfi, 67 anos, mora no Brasil desde 1997 e no Amapá desde 1991. Ela é empresária e administra duas escolas de idiomas em Macapá. Ela informou que a vinda para o país foi por motivos religiosos para divulgação da religião Bahá’í.

 

A origem
– Shahla Lotfi nasceu no Azerbaijão, norte do Irã, tem 63 anos de idade, e é mãe de duas filhas que nasceram no Amapá.
– Desde a adolescência abraçou causas humanitárias, uma característica de sua religião, chamada Fé Bahai, indo fazer trabalho voluntário na Índia, em 1974.
– Pouco depois, diante da iminência de uma revolução em seu país, partiu para o mundo, valendo-se do domínio da língua inglesa para morar na Austrália, Nova Zelândia e depois a América do Sul.
– Chegou ao Brasil em 1977, para morar em Manaus (AM) e em 1991 mudou-se para o Amapá, fundando uma escola de idiomas chamada Skill.
– Desde o final do ano passado assumiu também a franquia do curso de idiomas Yázigi, num arrojado projeto educacional.

Família
– Shahla Lotfi tem duas filhas macapaenses e disse que não pretende mudar de cidade. A religião que a administradora segue, a Bahá’í, surgiu na Pérsia, que hoje é o Irã, em 1844.

 

 


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