Entrevista

“A paralisação do setor local da mineração também afetou a cadeira do turismo”

O Amapá depende fundamentalmente do transporte aéreo para que a economia possa girar e que atividades como o turismo possam acontecer. Para o especialista Elenilton Marques, que já foi presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV) há uma crise instalada também no setor da aviação, que acaba de anunciar um corte significativo na oferta de voos pelo país, com reflexos diretos na rota entre as cidades de Belém e Macapá, onde termina uma das rotas domésticas. Para ele, não dá para ficar chorando sobre o leite derramado, mas sim que enfrentar de frente o problema, com criatividade e força de vontade. Estratégias como a participação em feiras também podem impulsionar o turismo receptivo. Ele esteve no Conexão Brasília, da Diário FM e deu suas dicas para o enfrentamento da recessão.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Em tempos de crise como se verifica, dá para continuar acreditando em uma resposta do setor de turismo?
Elenilton Marques – Olha, as coisas estão difíceis mesmo, todo mundo sabe, mas a gente tem que tocar o barco né? E o turismo tem essa capacidade de sempre trazer novidades.

Diário – O senhor presidiu a Abav, então também tem a sua agência de viagens e acaba de abrir uma filial em Belém, a ideia é apostar nessa rota regional?
Elenilton – Exatamente, abrimos uma filial em Belém e mantemos um box no aeroporto da capital paraense, o que nos leva a fazer essa ponte aérea, digamos assim, entre Macapá e Belém, mas vale a pena, pois estamos na Amazônia e a região como um todo carece de um incremento do turismo.

Diário – Sobre essa grande expectativa em torno de um voo regular para Caiena, que a Azul começou a operar de Belém para lá, como o setor das agências de viagem vem acompanhando e até fazendo lobby para incluir Macapá nessa rota?
Elenilton – Isso, foi no ano passado que a Azul Linhas Aéreas começou com o primeiro voo Belém/Caiena e é verdade sim que a gente tem articulado aqui junto à classe política, junto ao Governo do Estado principalmente, pois a gente tem interesse nesse voo, o mercado tem interesse, os profissionais tem interesse, enfim, a sociedade como um todo tem interesse que esse voo saia de Belém, passe por Macapá e depois vá para Caiena. A gente tem buscado alternativas junto ao Executivo e junto à própria Assembleia [Legislativa] através da Comissão de Turismo, para a gente achar uma viabilidade que possa que isso possa acontecer realmente.

Diário – Que tipo de demanda esse voo pode atender presidente?
Elenilton – Olha, seria uma coisa muito boa para nós amapaenses, especialmente aqueles que possuem familiares morando na Guiana Francesa, como também para fortalecer o turismo tanto daqui para lá como de lá para cá. Não podemos esquecer também que para a nossa região amazônica seria muito mais prático, econômico até, que para uma viagem à Europa os passageiros pudessem sair de Caiena, fazendo conexão na capital da Guiana Francesa, pois o tempo de viagem diminuiria muito, assim como a tarifa, se compararmos com as viagens que hoje saem para aeroportos de Paris e Londres via São Paulo ou Rio de Janeiro.

Diário – Fala-se também no mercado sobre a provável entrada de outra companhia aérea brasileira nessa região do Platô das Guianas, que seria a Gol operando um voo para a capital do Suriname, Paramaribo. O que já se sabe a respeito?
Elenilton – Sim, o voo já começou a operar, com a Gol fazendo esse novo trecho que é Belém/Paramaribo. Sabe-se que a Gol também já fez várias alianças comerciais com companhias que atuam nessa região, como a KLM, a Air France também, então há a possibilidade desse voo também fazer o trecho para Caiena e de lá possibilitar novas conexões para países vizinhos, como do Caribe, Estados Unidos ou a própria Europa como dissemos anteriormente.

Diário – E como está o setor dos voos domésticos, fala-se em alta de preços?
Elenilton – O que tem acontecido em nosso setor é que por conta da crise houve uma redução de voos no país e só aqui no Amapá a gente perdeu vinte e nove voos desde 2016. Em consequência disso, as nossas tarifas ficaram muito mais caras.

Diário – Foram vinte e nove voos cancelados ao longo de um mês, é isso?
Elenilton – Exatamente, não foram voos cancelados, mas sim voos retirados da rota Macapá/Belém/Macapá. Por conta disso a gente vai com certeza sentir dificuldade com relação aos preços que vão ficar muito mais caros, daí a nossa dica para sempre é para a antecipação de uma viagem, como uma programação para as férias, pois comprar com bastante antecipação o preço vai ficar mais em conta. Então a gente vive essa expectativa de um aperto mesmo em nosso setor.

Diário – Trata-se de uma redesignação de voos, é isso?
Elenilton – Foi uma readaptação da malha aérea. Mas que não foi mudada apenas para Macapá, mas a nível nacional também houve uma redução de 30% da malha aérea, um enxugamento dos voos em função da baixa taxa de ocupação das aeronaves, ou seja, tinha menos pessoas viajando no período, por conta também dos preços, empurrados pela alta do dólar, enfim, uma conjugação de fatores que afetou muito o setor. E em Macapá não é diferente, a gente tem sentido também. Para citar um exemplo, a nossa relação com o turismo tem mais um aspecto de negócio, ou seja, as pessoas vem muito ao Amapá para fazer negócios e por conta também de alguns problemas que a gente teve aqui, como o acidente com o porto, o fechamento de mineradoras, enfim, tudo isso afeta o turismo, pois essas pessoas mesmo que viagem a negócios, também fazem turismo, acessam os nossos serviços turísticos, hospedam-se em nossos hotéis, comem nos restaurantes, usam táxi, locadoras, enfim, geram essa renda e que acaba afetando a nossa economia como um todo.

Diário – E como reagir, Elenilton o que dá para fazer?
Elenilton – A gente tem que estar muito antenado, temos que tentar desenvolver outras formas, ser criativo mesmo. A gente já percebeu que no Brasil o turismo é o centro do negócio como um todo, sabe? Para que se possa fazer o turismo é preciso que se tenha a infraestrutura adequada, assim como os serviços, as políticas públicas também, seja uma boa educação, a rede pública de saúde, assim como uma boa internet, as ruas tem que ser asfaltadas, então o turismo depende de tudo isso. Se a gente tiver essa infraestrutura toda funcionando com certeza teremos mais visitações.

Diário – E com os nossos atrativos turísticos também bem conservados e acessíveis, não é?
Elenilton – Sim, claro, temos várias atrações turísticas em nosso estado e o carro-chefe acho que é o ecoturismo, pois temos as nossas belezas naturais, temos o equinócio, o carnaval que também é sempre muito grande e que atrai muitos turistas de fora, até internacionais, como da Guiana Francesa. Então temos que saber aproveitar e valorizar esses atrativos, pois isso representa realmente esse dinheiro chegando aqui com os turistas e que vai ajudar o estado a se desenvolver, fazendo girar a roda da economia, como se costuma dizer.

Diário – Então é mais que apropriado o estado enviar delegação para eventos como a ABAV, a Expo Internacional de Turismo em São Paulo?
Elenilton – Pois é, isso é o que chamamos nas estratégias do turismo de promoção e marketing. Participar de eventos como esse, a maior feira de turismo do continente, é muito importante e estamos apostando muito nessa e em outras feiras do setor, organizando delegações, entre empreendedores, agentes de viagem, guias, assim como dançadoras do marabaixo e os técnicos do estado, por meio da Secretaria de Turismo, para o papel de vender o destino Amapá para todo mundo!

 

Perfil…

Entrevistado. O empresário Elenilton Marques da Silva nasceu em Tucuruí (PA) mas mudou-se ainda pequeno para Macapá (AP). Tem 37 anos de idade, possui bacharelado e licenciatura em Geografia, pela Universidade Federal do Amapá (Unifap) e especialização em Geoprocessamento, pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-AP). Ingressou por concurso público na Eletrobras, estando lotado nas Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte). Abriu, há dez anos, junto com sua família a Poroc Turismo, uma conceituada agência de viagens de Macapá e que acaba de abrir filial em Belém do Pará. Assumiu em novembro de 2013 a presidência da Associação Brasileira de Agências de Viagem no Amapá (Abav-AP).


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