“A soja já é o terceiro produto na pauta de exportações do estado do Amapá”
O setor do agronegócio vive um momento de franca expansão no Amapá, tendo registrado um volume de produção de grãos que chegou à casa das 50 mil toneladas no ano passado, levando a soja ao patamar de terceira maior riqueza exportada para países como China, Espanha, Israel e México. Mas segundo o presidente da Aprosoja-AP, empresário Daniel Sebben, esses números poderiam ser ainda mais arrojados, não fossem os problemas e gargalos que o setor enfrenta por aqui, alguns deles já nevralgicos, como os licenciamentos ambientais. O representante dos produtores foi ao rádio ontem, esclarecer esses e outros pontos sobre o agronegocio, em entrevista ao jornalista Cleber Barbosa, durante audição do programa Conexão Brasília, pela Rádio Diário FM. Os principais trechos o Diário publica a seguir.
POR CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
Diário do Amapá – O setor do agronegócio do Amapá fechou o ano de 2017 celebrando os números que garantiram uma boa safra, resultando em dois embarques para o exterior. Foi um ano bom então?
Daniel Sebben – É, realmente, no ano passado a produção de soja superou a marca das 50 mil toneladas aqui no Amapá, sendo necessários sim dois navios para dar vazão a toda essa produção, que foi levada a mercados como México, Israel, Espanha e também a China. Então a gente registra que a soja já ocupa, apesar de ainda muito aquém do nível de produção que nós podemos ter aqui, mas já é o terceiro produto na pauta de exportações do Amapá, o que é motivo de comemoração para produtores, empresas, enfim, todos os envolvidos na cadeira produtiva e as milhares pessoas que estão envolvidas aqui no processo de produção. Além disso tem o milho também, cuja produção 100% fica toda aqui no estado.
Diário – Já é o terceiro colocado entre os produtos que o Amapá exporta?
Daniel – Sim, o terceiro, com quase 8% das exportações do estado, alcançando aí U$ 22 milhões [de dólares] em exportações, ou seja, foram 22 milhões de dólares que saíram desses países que acabei de falar, China, México, Israel e Espanha, e que entraram diretamente aqui na economia do Amapá para remunerar todo o processo produtivo, não só os produtores, mas também fornecedores, a cadeia de combustíveis, mão de obra, insumos, prestação de serviços, enfim, toda uma cadeira produtiva.
Diário – O senhor disse que a soja já é o terceiro produto na pauta de exportações do Amapá, então a pergunta que fica é quem são os dois primeiros?
Daniel – Ficando atrás apenas do cavaco e do ouro. O cavaco de madeira, do eucalipto, o principal produto da Amcel, uma das maiores empresas aqui do Amapá. O ouro na verdade ainda é o principal produto de exportações aqui do estado, com mais de U$ 160 milhões de exportação. O problema é que o ouro, assim como o minério de ferro e os demais produtos da mineração têm uma cadeia produtiva muito curta né, como todos sabem só dá uma safra, como se diz, é extração, embarque e exportação; já a cadeia agrícola você observa que começa muito antes da produção, muito antes do plantio, e termina muito depois da colheita, enfim, o processo de produção envolve uma cadeia muito grande e à medida com que essa cadeia se consolida no estado possibilita que esses processos de verticalização, de transformação do grão, também cresçam e aumentem, gerando ainda mais movimentação financeira, gerando ainda mais agregação de valor, com isso gerando mais empregos, enfim, envolvendo uma cadeia cada vez maior, com a industrialização e a transformação dos grãos em farelos e posteriormente ração e proteína animal.
Diário – E o Amapá já possui mão de obra qualificada para atender essas demandas?
Daniel – Olha, o agronegócio tem por característica envolver uma cadeia de mão de obra bastante horizontal. Quando a gente fala especificamente no processo produtivo, aquele no campo mesmo, essa mão de obra que já existe no Amapá hoje é suficiente para suprir essa demanda. Alguma parte dessa mão de obra, inevitavelmente, teve que ser digamos assim importada, nesse processo de imigração que até hoje chegam pessoas ao Amapá com qualificação principalmente na área agronômica, na área técnica produtiva, em busca dessas oportunidades de emprego que a mão de obra local até bem pouco tempo não era capaz de atender. Mas essa é uma parte da mão de obra necessária, como eu disse, pois o agronegócio se espraia. O setor de comércio de combustíveis, por exemplo, já é consolidado no Amapá, tem mão de obra já especializada nisso, tem empresas especializadas, estão empregando mais e ainda empregarão mais pelo movimento do agronegócio; da mesma forma o setor de insumos, o setor de transportes também, aliás, 100% do transporte feito pelo agronegócio do estado do Amapá, pela soja, milho, seja dos insumos que vêm, o calcário, o fertilizante, sementes, defensivos, seja o produto final que sai, que são os grãos, tudo isso é feito por mão de obra local. Só no transporte, o número de mão de obra empregada é maior do que o processo produtivo. Então a grande demanda de mão de obra do agronegócio não é para dentro da porteira, mas fora dela, nas cidades, nesses processos que assessoram, que permitem que a cadeia de produção aconteçam lá no campo.
Diário – Então uma boa parte dessa demanda o estado já consegue atender, falta, então gente daqui para as demandas mais especializadas, é isso?
Daniel – Sim, o próprio processo de produção em si, ali no campo, até bem pouco tempo atrás o Amapá não tinha essa mão de obra, pois sequer existia um curso de agronomia aqui no estado, um curso de técnico agrícola, por exemplo, são cursos básicos que são necessários para a qualificação da mão de obra local.
Diário – Então vem em boa hora a notícia de que além da Universidade Estadual também a Unifap está preparando a oferta de cursos nessa área não é?
Daniel – Pois é, felizmente, mas ao longo do tempo isso iria naturalmente irá acontecer e com o crescimento do agronegócio o Amapá vai conseguir absorver essa mão de obra em formação, assim como já acontece hoje com os amapaenses aproveitando as oportunidades de emprego no setor.
Diário – Na Universidade Estadual o curso de agronomia já é uma realidade, e na Federal a oferta poderá ser ainda mais abrangente não é?
Daniel – Sim, seria um centro de ciências agrárias, não só com o curso de agronomia, mas zootecnia, veterinária, ciências agrárias, enfim, engenharia agrária; o que também é uma boa notícia pois a gente vê que a coisa realmente está acontecendo e que todos os elos da cadeia produtiva estão vislumbrando essa oportunidade do agronegócio futuro e estão se preparando para isso, inclusive na área acadêmica.
Diário – Mas tem tudo são rosas, não é? A gente tem notícia de que o setor passou por alguns perrengues este ano que passou, seja ainda por gargalos como o registro cartorário, mas sem dúvida por uma crise institucional que envolve os licenciamentos ambientais, com foco no Ibama?
Daniel – É, importante você levantar isso, pois a gente fala com entusiasmo sobre essa atividade, afinal trabalhamos com isso, acredita muito e quer ver acontecer. Então pode parecer que estamos voando em céu de brigadeiro, mas tem muita turbulência sim, são muitas dificuldades que colocam em risco a própria existência da produção agrícola no Amapá. E uma das grandes dificuldades é a questão institucional entre órgãos do próprio poder público, como aqueles de licenciamento estadual e os de licenciamento federal, entre entendimentos, entre diferentes correntes políticas, ideologias diferentes de alguns grupos políticos que acabem gerando problemas seríssimos para a produção. No ano passado tivemos muitos atropelos, cabeçadas digamos assim, entre Ibama e Imap; O Imap licenciou – e é quem tem que licenciar atividades no estado – e o Ibama por sua vez entendeu diferente e multou, embargou grande parte dessas áreas, o que só foi solucionado, mesmo que temporariamente, na Justiça Federal, que felizmente entendeu que os produtores não poderiam pagar essa conta por um erro do poder público. Então o Ibama e o Imap precisam corrigir isso definitivamente, por meio de adequações e diálogo, pois o tempo passa e daqui a pouco vem outro ciclo de plantio em março e a gente precisa de segurança jurídica.
Perfil…
Entrevistado. Vanderlei Daniel Sebben Filho tem 31 anos de idade, nasceu em Realeza-PR, formado em Administração de Empresas e também em Gestão de Agronegócio, pela Universidade Federal de Várzea Grande-MT, com duas especializações. MBA em Gestão Empresarial de Cooperativas Agrícolas (FGV) e em Mercado de Capitais e Derivativos (UFMT). É casado e pai de uma menina (Catarina) de 9 meses; Mudou-se para o Amapá em 2012 como produtor de grãos do Centro-Oeste em busca de novos mercados, tendo depois implando uma fazenda de soja em Macapá, a Fazenda São Francisco, às margens da BR 156. Em 2015 ajudou a fundar a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Amapá (Aprosoja-AP), sendo o atual presidente da entidade.
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