“Jambu, tucupi, achei pratos interessantes no Amapá”
Nessas idas e vindas do jornalismo, quando as vidas de milhares de pessoas passam pelo cotidiano da nossa cobertura midiática, a grande maioria sai de cena sem que se perceba, como o francês Jean-Pierre Coffe, que somente agora soube-se que já está no andar de cima. Ele foi uma das personalidades que já vieram ao Amapá conhecer exemplos de produção orgânica de alimentos, tanto que encontramos em nossos arquivos a entrevista exclusiva que ele concedeu ao Diário em Macapá. A notícia tem que ser inédita e recente, diz o protocolo, mas a memória do jornalismo é algo que passa a ser factual quando uma boa história grita por ser recontada. Relembre, a seguir, o que disse este grande artista do teatro, da televisão e do rádio em Paris sobre o contato com os amapaenses.
CLEBER BARBOSA
Da Redação
Uma das personalidades mais populares no mundo da televisão e do rádio na França, o irreverente Jean-Pierre Coffe, visitou o Amapá após uma longa viagem de Paris a Macapá em que mergulhou no mundo da produção sustentável de palmitos de açaí. Defensor da alimentação saudável, sem agrotóxicos, Jean-Pierre conheceu todos os detalhes do processo, desde a colheita, o transporte, a comercialização em regime de cooperativismo dos caboclos ribeirinhos, até o cuidadoso processo industrial que tem garantido ao palmito amazônico grandes inserções na gastronomia internacional, especialmente na Europa. O francês recebeu o jornalista Cleber Barbosa no restaurante Sapucaia, do Ceta Ecotel, onde esteve hospedado, quando concedeu uma entrevista exclusiva que o Diário do Amapá publica a seguir.
Diário do Amapá – O que motivou sua vinda ao Brasil agora, especialmente para conhecer o Amapá?
Jean-Pierre Coffe – Vim ao Brasil encarregado por um grande grupo de distribuição francês para encontrar produtos em conserva de qualidade, sendo orgânico ou de qualquer modo sustentável, daí vir ao Amapá ver a produção de palmito de açaizeiro que é industrializado aqui.
Diário do Amapá – E sobre o contato que o senhor teve com a gastronomia brasileira, especialmente a do norte do Brasil, quais suas primeiras impressões?
Jean-Pierre – Eu cheguei aqui na quinta-feira, portanto há pouco tempo, daí ter tido pouco contato com a gastronomia brasileira, mas aqui no norte tive muito prazer em conhecer os peixes locais, observar a maneira com que eles são cozidos, mas também tive contato com o jambu, o tucupi, enfim achei os pratos regionais muito interessantes, muito agradáveis mesmo. Comi com muito prazer.
Diário do Amapá – O Brasil tenta se consolidar como destino turístico internacional também apostando na sua gastronomia, o senhor acha esse um viés importante para o setor, daí ser explorado do ponto de vista econômico?
Jean-Pierre – Turismo implica-se também em alguma cultura e nesse sentido temos sim a gastronomia, então se não se colocasse a gastronomia brasileira para os turistas que estão vindo seria um erro, pois as pessoas quando vêm estão sempre à procura de uma coisa diferenciada, entre elas a gastronomia, certamente.
Diário do Amapá – A capital da França é o maior destino turístico mundial, então o que mudou na rotina dos franceses depois de apostar no turismo, que historicamente tiveram que aprender a lidar e receber bem quem os visita?
Jean-Pierre – O fluxo maior de turistas na França, e em Paris em particular, é de extremos orientais, chineses hoje e japoneses, mas a influência maior da cozinha fora da França é da cozinha italiana, mas a cozinha oriental está tendo uma penetração muito grande na França também. Quanto à cozinha brasileira a gente não vê em Paris ainda com uma influência muito presente.
Diário do Amapá – Então há uma tendência histórica de abertura, não é mesmo?
Jean-Pierre – Posso dizer que está havendo certa invasão de cozinhas estrangeiras comuns, populares, os McDonald’s da vida, o que não é o que eu gosto. Eu gostaria de ver um grande restaurante brasileiro em Paris, com aquilo que vocês de melhor a oferecer.
Diário do Amapá – O seu trabalho como crítico de gastronomia na França é feito com muito bom humor, isso chama a atenção, apesar de seus compatriotas terem a fama de não ser bem-humorados, isso é verdade?
Jean-Pierre – O meu bom humor não é incompatível com a seriedade do trabalho, por exemplo, as perguntas que você fez até agora foram sérias e eu respondi de maneira séria… (risos) Mas sobre o que vi aqui, com o trabalho dos brasileiros, achei muito sério, da indústria, das pessoas que vi, funcionários, caboclos comprometidos com o trabalho, digno de entusiasmo.
Diário do Amapá – Por falar em humor, qual a influência que teve seu avô, que na época da guerra teve a ousadia de xingar um soldado alemão durante a invasão à França?
Jean-Pierre – Fico espantado de você saber disso tudo! Como conseguiu?
Diário do Amapá – Coisas da internet…
Jean-Pierre – Muito bem… (mais risos)
Diário do Amapá – Mas e como foi para o senhor fazer esta viagem tão longa de Paris até o Amapá, atravessar o Atlântico e saber que aqui o Brasil mantém com a Guiana Francesa a maior fronteira que seu país possui com qualquer outro país do mundo?
Jean-Pierre – Eu não conheço a gastronomia de Caiena, apenas a de Guadalupe e da Martinica, mas posso dizer que a gastronomia brasileira é bem superior a estas duas, certamente.
Diário do Amapá – Muito obrigado pela entrevista.
Jean-Pierre – Eu é que agradeço, pois isso prova que aqui no Amapá também existem bons jornalistas. Obrigado por pesquisar tantas coisas a meu respeito.
Perfil…
Entrevistado. O francês Jean-Pierre Coffe foi um famoso apresentador de rádio e roteirista de televisão, autor e produtor teatral, cozinheiro e ator nascido em 24 de março de 1938 em Luneville, Meurthe-et-Moselle . Ele foi conhecido pela defesa, com virulência, da autêntica cozinha e produtos locais. Ele praticamente não conheceu o pai, que foi para a guerra em 1937 e morreu em combate em 1940. Há registros de que seu avô, que era jardineiro, cometeu a ousadia de chamar um soldado alemão de porco, durante a invasão nazista, fato que pode ter influenciado a Jean-Pierre a ser irreverente desde cedo, pois já aos 13 anos encantou-se pelo teatro. Ele também sempre apreciou uma boa cozinha, o que também o fez brigar com a balança, chegando a pesar 120 quilos aos 18 anos.
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