Entrevista

“Licenciar uma obra ou a pesquisa de petróleo não é uma decisão política”

Em entrevista, ministra Marina Silva critica o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, defende o direito de Lula buscar reeleição, cita metas climáticas e até dá pistas sobre o petróleo do Amapá


 

Cleber Barbosa
Da Redação

 

O quão forte é lobby do agronegócio pela Ferrogrão? Isso chega aqui no seu dia a dia de trabalho? Há uma maneira sustentável de fazer essa obra?

Marina Silva – Essa obra foi encaminhada para estudos. Obviamente que esses estudos vão trazer informações importantes da viabilidade social, econômica, ambiental, mostrando diferentes vetores. Eu sempre insisto que não dá mais para a gente fazer os licenciamentos caso a caso. É preciso colocar em prática a avaliação ambiental estratégica para obras de infraestrutura quando se trata de ferrovias, hidrovias ou estradas. Tenho insistido muito nessa tecla para grandes empreendimentos e, no caso da exploração de petróleo, a avaliação ambiental estratégica para a área sedimentar. Então, nesses casos, você consegue uma quantidade de informações muito maiores, que ajudam os processos de licenciamento para que sejam calçados por informações que, a priori, nos mostram de alguma forma se aquele empreendimento é de alto impacto, de médio impacto ou se é praticamente impossível de ser licenciado. Hoje eu diria que o esforço é para que a gente tenha um processo de olhar para os empreendimentos vendo a área de abrangência de cada um.

 

É possível que a senhora se convença de que pode haver a Ferrogrão?

Marina – No caso dos licenciamentos, não é um convencimento da ministra, é uma decisão técnica do órgão licenciador. Eu costumo dizer que não é uma decisão política. Quando diz que sim, é uma decisão técnica; quando diz que não, é uma decisão técnica. Obviamente que você olha para os empreendimentos e há uma busca de reduzir impacto, de atender determinadas demandas. Isso aconteceu já em algumas situações. Por exemplo, o linhão de Tucuruí demorou mais de uma década para ser licenciado. O que acontecia é que os pedidos que eram feitos pelo órgão licenciador não eram atendidos adequadamente. A demanda dos povos indígenas, de que deveriam ser ouvidos e considerados, não eram atendidas. No momento em que teve uma empresa que resolveu fazer o dever de casa, resolveu-se um problema que era importante do ponto de vista do suprimento de energia em função da necessidade do linhão.

 

Qual é a opinião da senhora sobre a situação da Venezuela? Frente ao que estamos vendo, dá para chamar o regime de Maduro de uma democracia?

Marina – Um regime democrático pressupõe eleições livres, sistemas transparentes, que não haja nenhuma forma de perseguição política ou tentativa de inviabilizar que os diferentes segmentos da sociedade cheguem ao poder e não venham a sofrer qualquer tipo de constrangimento ou impedimento. Na minha opinião pessoal, não falo pelo governo, não se configura como uma democracia, muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todos as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano.

 

A senhora defende que o presidente Lula seja candidato à reeleição?

Marina – O presidente Lula conseguiu algo inédito em situações bastante adversas. Quando a democracia, o país, precisaram de uma liderança para poder evitar uma das piores situações que o Brasil poderia passar, de um segundo governo Bolsonaro, ele foi a pessoa capaz de congregar essa frente ampla. Ele tem todo o direito, se quiser buscar um quarto mandato.

 

Diário – A senhora ainda sonha em ser presidente?

Ferat – Não, eu não tenho isso no horizonte. Hoje eu dei uma contribuição efetiva durante três vezes em que concorri. Não tinha mais, no meu horizonte, concorrer. Eu fui ser candidata a deputada federal pelo contexto que estávamos vivendo naquela oportunidade e o povo de São Paulo generosamente me elegeu deputada federal com uma plataforma que era de ser deputada por São Paulo e pelo Brasil, porque eu sei que a minha causa não consegue ficar dentro de um espaço geográfico limitado. Tive a honra de, pela terceira vez, ser convidada para ser ministra do Meio Ambiente do presidente Lula e, graças a Deus, ver que a política ambiental que formulei há 20 anos, com a ideia de que deveria ser transversal, agora é, de fato, transversal. Agora mesmo nós estávamos fazendo o Plano do Clima Participativo, com a presença da ministra das Mulheres, do Ministério da Fazenda, a Secretaria-Geral da Presidência, o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério de Ciência e Tecnologia.

 

O que a Marina Silva, ministra desse mandato do Lula, diria para Marina Silva de 2003 a 2008?.

Marina – Marina, você agora é ministra de um governo de frente ampla. Antes, eu era uma ministra do Partido dos Trabalhadores e hoje eu sou uma ministra de um governo de frente ampla, sabendo que tem que fazer essas mediações.

 

 


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