Lula critica Ibama sobre demora em liberação de pesquisa de petróleo na costa do Amapá
Presidente aborda em entrevista, entre outros pontos, a questão de pesquisa de petróleo na Margem Equatorial do Amapá, cujo licenciamento, a Petrobras, vem sendo procrastinado pelo Ibama, com alegações técnicas

Luiz Melo – Por que o senhor considera 2025 como o ano mais importante de seu mandato no governo?
Lula – Em 2025 a sociedade brasileira vai começar a colher tudo de bom que plantamos e fizemos crescer neste meu terceiro mandato. Quando chegamos em Brasília, em janeiro de 2023, encontramos o Estado muito desestruturado, com ministérios e importantes órgãos públicos desmontados. Recomeçamos do zero muitos programas que tinham funcionado muito bem até terem sido destruídos por quem não se importava com a população. É o caso do Minha Casa, Minha Vida, do Farmácia Popular e do Mais Médicos.
A verdade é que o Brasil voltou a ter governo – e um governo que dá valor às pessoas. Nossa economia cresceu, pelo segundo ano seguido, muito além das previsões. O desemprego nunca foi tão baixo. E o investimento voltou a correr nas veias de nossa economia. Para termos uma ideia, o Novo PAC está investindo R$ 4,7 bilhões em projetos de infraestrutura no Amapá, sendo que R$ 3,6 bilhões são exclusivamente para o Estado, e os outros R$ 1,1 bilhão para projetos regionais, como é o caso da tão esperada BR-156, que o estado ao Pará.
Além disso, como parte da colheita a que a população tem direito de realizar, estamos anunciando, hoje, ações do Governo Federal que envolvem investimentos de pelo menos R$ 780 milhões no Amapá. Investimentos que envolvem a implantação de Instituto Federal de Tartarugalzinho. Será o sétimo Instituto Federal do Estado – sendo que os outros seis foram criados nos meus governos e no governo da presidenta Dilma.
Queria citar também a doação do terreno da Gleba Cumaú, uma terra da União que vai passar para as mãos do estado, que se comprometeu a fazer a urbanização e a regularização fundiária da região, beneficiando mais de 1.200 famílias. E cito também nossos investimentos e a inauguração de linha de transmissão e subestação que vão garantir a segurança energética e evitar novos apagões como os que afetaram o estado em 2020.
Luiz Melo – Diz-se que não se constrói o futuro sem olhar o passado. O governo do senhor adota essa premissa, ou só tem olhado pra frente porque o passado, desmontado como o senhor diz, não tem nada a nos ensinar?
Lula – Olhar para frente, e nunca ter medo de sonhar grande, é fundamental. Mas é preciso também lembrar do passado – não para guardar mágoa, não para alimentar ressentimentos, mas sim para que a gente reconheça o que de bom e de ruim pode acontecer neste país.
Entre 2010 e 2014, por exemplo, o Brasil foi a sétima maior economia do mundo. Foi naquela época que saímos do Mapa da Fome da ONU e que passamos a despertar a curiosidade e a admiração de todo o planeta. Depois de 2016, contudo, vivemos retrocesso atrás de retrocesso. Caímos 3 posições no ranking das maiores economias, voltamos ao Mapa da Fome, o desemprego cresceu como nunca.
Quando olhamos para o passado, portanto, é para reconhecer isso: que somos um país extraordinário, que podemos ter uma sociedade mais justa. E é também para lembrar que é com a democracia e com o diálogo que manteremos nossas conquistas a salvo de gente insensível que pode destruir, em pouco tempo, avanços que levaram muitos anos para serem construídos.
Luiz Melo – Se houve desmonte do país, no passado recente, qual é, então, o Brasil que o governo do senhor está construindo para discutir com os brasileiros?
Lula – É um Brasil que cuida das pessoas. Um Brasil que fortalece o serviço público para que todos acessem aquilo a que têm direito: a educação, a saúde, a moradia. Onde se governa para todos, não para apenas uma pequena parcela de nossa população – justamente a parcela que não precisa tanto de ajuda. Um país onde cada cidadã ou cidadão possa correr atrás dos sonhos de uma vida digna, seja em um emprego com carteira assinada, seja tocando seu próprio negócio, como empreendedor. Um país com crédito de volta, para que as pessoas produzam no campo e na cidade, vivam de seus pequenos comércios. Um Brasil com menos violência e menos ódio, e muito mais amor e solidariedade. Onde o trabalho volta a ser bem remunerado, como está acontecendo agora, com o salário mínimo aumentando acima da inflação e a massa salarial batendo recordes e chegando a R$ 339,5 bilhões. E no qual os governos locais são valorizados, como é o caso do Amapá: no ano passado, nossos repasses para o Estado e seus municípios cresceram em 26%, chegando a R$ 9,3 bilhões.
Luiz Melo – O G20 foi o melhor de todos para o Brasil, o senhor tem dito. E o que esperar da COP30 em Belém do Pará, em breve? Por que a COP30 em Belém? É para que os países, enfim, enxerguem a grandeza do que é a Amazônia Brasileira?
Lula – O mundo todo vem há décadas falando da Amazônia e agora a Amazônia vai falar para o mundo. A COP 30 é uma chance única para nosso país mostrar sua liderança no combate às mudanças climáticas. Vamos discutir temas essenciais para o mundo todo, mas o grande destaque vai ser, é claro, a Amazônia. Falaremos diretamente sobre a preservação da floresta, mas também das cidades e capitais amazônicas. Mostraremos que a tecnologia e o trabalho de quem vive na região é grande parte da solução que o mundo busca. Uma solução que cuida do planeta ao mesmo tempo em que traz justiça social e melhora a vida das pessoas.
Luiz Melo – Como o senhor pretende desmontar a mentira, como tem prometido? Pra evitar que a extrema direita acabe com a democracia, que seria a grande derrotada no final das contas?
Lula – Em primeiro lugar, mentira se desmonta com a verdade. Vamos falar cada vez mais com a população, mostrar as mudanças positivas que obtivemos na economia, no combate à fome, no retorno do desenvolvimento. Faremos isso para que a desinformação não tome conta. Em segundo lugar, não é possível deixar que a Internet continue sendo essa terra sem leis, que enriquece meia dúzia de bilionários a custas de ódio sendo espalhado e democracias sendo ameaçadas. A União Europeia já tem uma legislação que evita abusos, sem comprometer o direito à liberdade de expressão, nem a possibilidade de as empresas fazerem negócios em um ambiente com uma regulação clara. Tenho certeza de que o Brasil também está maduro para essa discussão, e vamos colaborar para que ela aconteça de forma muito democrática.
Luiz Melo – Enfim, presidente, a imprensa brasileira tem tido resposta do senhor às perguntas feitas para o seu governo? Então responda, presidente, por favor: o senhor vai mandar liberar a exploração do petróleo no Amapá?
Lula – Eu entendo que o mundo continuará explorando e usando petróleo por mais alguns anos. Vejo que países vizinhos já têm projetos para a Margem Equatorial. E tenho a absoluta certeza de que nós não podemos ficar para trás. Pois é justamente essa riqueza que financiará a nossa transição energética e nos colocará definitivamente como a potência mundial da energia verde.
O que precisamos agora é que, a partir do posicionamento do Ibama, possamos iniciar logo os estudos sobre o verdadeiro potencial da área. A Petrobras, que já mostrou ser capaz de explorar e produzir petróleo e gás com baixíssimo impacto ambiental e social, graças a investimentos pesados em tecnologia e sustentabilidade, terá a competência para também conduzir da melhor forma esse empreendimento, garantindo a todos a segurança que é necessária.
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