Não é só a pandemia que está tirando o sono das pessoas.
A importância de noites bem dormidas e a boa qualidade do sono ganham destaque nesta semana, pelo Dia Mundial do Sono, quando boa parte da população vem relatando problemas que para este especialista nem sempre relacionados à Pandemia.
Dr. Luciano Drager é cardiologista, especialista em sono e vice-presidente da ABMS
Diário do Amapá – Enquando boa parte da população mundial e brasileira vem relatando problemas relacionados a um dos momentos mais revigorantes, o ato de dormir, dá pra dizer que a pandemia é a principal causa ou de fato existe um indicativo de que dormimos mal?
Luciano Drager – Uma pesquisa realizada, no país, no ano passado, demonstrou que 44% dos respondentes afirmaram dificuldade para pegar no sono, depois da chegada da covid-19. Pelo mundo, a situação é a mesma: no Reino Unido, a proporção de insones caiu de um a cada seis para um a cada quatro entrevistados; na China, a taxa de insônia aumentou de 14,6% para 20% e, na Grécia, quase 40% diziam estar sofrendo de insônia. É importante ressaltar que a pandemia pode ter agravado um quadro pré-existente de distúrbio do sono, que só será resolvido com um diagnóstico correto.
Diário – Pelo que esse levantamento apontou qual é exatamente esse contingente doutor?
Luciano – Estima-se que quase 2/3 [dois terços] dos brasileiros adultos, tenham comprometimento da qualidade do sono, o que pode significar a presença de um ou mais distúrbios de sono para justificar este quadro, tais como a insônia, a privação do sono, os transtornos de ritmo circadiano, a apneia do sono, entre outros.
Diário – Essa apneia do sono é o popular ronco, não é mesmo? O que ela sugere?
Luciano – Neste contexto, a apneia do sono se destaca, pois acomete cerca de 1/3 [um terço] da população adulta brasileira, e apesar de sua alta prevalência, segue sub-diagnosticada. A apneia respiratória do sono é caracterizada por períodos repetidos de dificuldade na passagem do ar pela região da garganta durante o sono, gerando na maioria das vezes, o ronco. O ato de dormir passa a ser não um descanso, mas um fator de má qualidade de vida, resultando em um quadro devastador ao indivíduo, com impactos sociais e econômicos. Durante a pandemia, esse quadro está ainda pior para muitos devido ao desconhecimento da população sobre o tema.
Diário – O que dizer a respeito do tratamento então deste problema?
Luciano – No longo prazo, os pacientes podem ter problemas cognitivos, metabólicos e cardiovasculares, caso não tratem a apneia do sono. O tratamento apesar de complexo e multidisciplinar, é altamente possível. Além de ser necessário incluir na rotina a boa alimentação, principalmente em casos de obesidade e a atividade física.
Diário – Beber água é método de prevenção?
Luciano – Um dos tratamentos mais efetivos contra a apneia é CPAP [Continuous Positive Airway Pressure], que utiliza pressão positiva contínua nas vias aéreas. O pressurizador de ar conectado por meio de uma máscara antes de dormir, funciona de modo a impedir a ocorrência dos eventos que impedem a boa respiração durante o sono.
Diário – Como inovação, há restrições?
Luciano – A Dra. Claudia Albertini, de empresa lider em saude conectada e uma das maiores fabricantes mundiais do dispositivo diz que há ainda certo preconceito em relação ao aparelho, uma vez que se trata de uma tecnologia que deve ser usada todos os dias e há um período de adaptação, mas sua indicação é bastante abrangente e engloba desde as formas mais moderadas de apneia até as mais graves. Em mais de 50% dos pacientes adultos que tem hoje a apneia, a indicação é pelo CPAP.
Diário – E sobre resultados, existem números para coroborar com esse otimismo doutor?
Luciano – Usando esta tecnologia na avaliação do uso do CPAP em um grande número de pacientes no Brasil, México e Estados Unidos, nós publicamos um trabalho recente mostrando que a adesão em média é muito boa – 75% atingem um bom critério de uso – com a telemonitorização ao longo de um ano.
Diário – Para fechar, uma reflexão final.
Luciano – A adesão é fundamental porque se trata de uma doença crônica que pode levar a comorbidades. O sono de má qualidade gera fadiga, falta de concentração, irritabilidade, imunidade baixa, entre outros efeitos, por isso, é importante aderir ao tratamento com seriedade.
PERFIL
Luciano Ferreira Drager
Atualmente é Professor-Doutor do Departamento de Clínica Médica da FMUSP, Médico Assistente da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração I n Cor-HC-FMUSP.
Formação Acadêmica
– Graduado em Medicina (1998) pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Doutorado (2007) em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da USP, Pós-Doutorado (2009-2011) pela Johns Hopkins University, USA
Experiência e atuação no setor
– Pós-Doutorado pela Johns Hopkins University, USA (2009-2011).
– Doutor em Ciências pela FMUSP (2007).
– Orientador permanente da Pós-graduação da Cardiologia e da Nefrologia da FMUSP.
– Médico Assistente da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração (InCor), HCFMUSP.
– Desenvolve desde 2003 pesquisas na área das consequências cardiovasculares dos distúrbios de sono.
Premiações
– Recebeu diversos prêmios entre eles o prêmio de Jovem Investigador pela American Thoracic Society (James B Skatrud New Investigator Award, 2011) InterAcademy Medical Panel Young Physician Leader (2012).
– É membro do Programa Jovens Lideranças Médicas da Academia Nacional de Medicina (2015-2020).
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