Entrevista

“Nós temos que trocar o pneu do carro com ele ainda em movimento”

Pela pasta da saúde do Governo do Amapá, sob a gestão do governador Waldez Góes (PDT), já passaram um promotor de justiça, uma delegada de policia civil, um coronel da Polícia Militar e, desde abril deste ano, um auditor fiscal. Trata-se de João Bittencourt da Silva, considerado mais técnico do que político, discreto e sem muita aparições midiáticas. Talvez até pelo perfil profissional, tem atuado muitos nos bastidores como se tivesse feito com sua equipe uma grande auditagem da máquina, preparando por respostas mais eficazes. Coincidência ou não, a semana foi marcada pela ida do chefe do Executivo ao Parlamento Estadual, quando falou ser a saúde a prioridade dos próximos anos no Amapá. O secretário foi ao rádio ontem (8), quando deu detalhes sobre o que virá por aí. Acompanhe.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Durante a semana o senhor foi à Brasília junto aos demais secretários de saúde dos estados, para alinhar estratégias sobre o coronavírus, como foi?
João Bittencourt – Na verdade nós temos uma reunião mensal em Brasília para tratar das questões de saúde pública de todos os estados. Essa reunião seria inicialmente no dia 12, mas o ministro Mandetta nos convocou para que fizéssemos uma reunião emergencial em razão dessa problemática que está se avizinhando com relação ao coronavírus. Inicialmente detectado na China, na Província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Dos casos detectados no mundo 99,2% estão dentro do território chinês, e desses detectados lá 70% estão dentro dessa província, então a China em uma decisão muito acertada e protetora inclusive da humanidade, resolveu cercar duas províncias, então ninguém entra, ninguém sai, sem autorização do Exército chinês.

Diário – Um mal necessário?
João – Isso tem feito com que essa enfermidade não se alastre numa velocidade como se imaginava para o resto do mundo. Lógico que antes dessa decisão de fechar suas fronteiras, alguns chineses saíram, infelizmente, portando esse vírus. Daí se observar algo entre 20 a 24 países que já confirmaram casos de coronavírus. O Brasil, graças a Deus, ainda estamos livres dessa enfermidade, apesar de oito casos suspeitos, que felizmente ainda não se confirmaram.

Diário – A letalidade da doença é preocupante secretário?
João – Hoje temos uma transmissibilidade mais rápida, através da saliva, mas uma letalidade um pouco menor do que aconteceu em 2002 quando esse vírus se apresentou pela primeira vez. Mas em todos os países do mundo, e o Brasil não é diferente, estamos tratando disso como prevenção de alta complexidade, tanto que aqui no Amapá a nossa Vigilância em Saúde, comandada pelo companheiro Dorinaldo [Malafaia] tem capitaneado todos os esforços, acatando todos os comandos nacionais para que a gente possa em qualquer momento tanto detectar quanto fazer o isolamento e o tratamento [de alguma pessoa infectada].

Diário – O pesquisador amapaense José Carlos Tavares, estava trabalhando exatamente em Wuhan e voltou ao Amapá dizendo não ter percebido nenhuma barreira ou controle nos aeroportos, até porque não apresentada sintomas da doença.
João – O primeiro caso comprovado se deu no dia 8 de dezembro, portanto a gente já houve falar de coronavírus há mais de um mês, com medidas de proteção muito acirradas em todos os estados. Felizmente com a tecnologia hoje e a capacidade de se informar, tirando as fake News que a gente tem que ter cuidado, então como não temos um caso sequer confirmado no Brasil, não podemos também criar um pânico em nossas unidades, nossos hospitais. Mas sobre o professor Tavares, com o conhecimento que tem, decidiu submeter-se ele próprio a uma quarentena. Mas, de fato, quando ele veio [da China] ainda não se tinha todo esse cuidado, mas imediatamente as centrais e os órgãos de defesa começaram a tratar desse assunto com a gravidade que realmente requer.

Diário – Então o maior contingente de pessoas acometidas está mesmo em Wuhan?
João – Sim, especificamente nessas duas províncias citadas anteriormente, só que a gente fala província e pode parecer algo menor, um pequeno interior, só que apenas na província de Hubei a população é de 12 milhões de habitantes, equivalente a população de São Paulo.

Diário – Existe uma preocupação também sobre aspectos xenofóbicos secretário?
João – Sim, pois isso aconteceu na China, mas poderia acontecer em qualquer país, inclusive aqui, portanto nós brasileiros não gostaríamos que nenhum país agisse de forma hostil conosco, então nós não vamos em hipótese alguma permitir qualquer coisa neste sentido com o povo chinês, que contribui com a humanidade, em tudo que faz, principalmente dentro da área do comércio, daí termos uma tratativa leve. Até porque temos outras enfermidades, igualmente graves, como a febre amarela, a malária, a dengue, o H1N1, com transmissibilidade igualmente rápida e letal que não podemos esquecer.

Diário – O governador na mensagem ao povo transmitida no Parlamento falou sobre todas as áreas da gestão, mas concentrou uma atenção especial à saúde. Como o senhor recebeu essa atitude?
João – A gente fica feliz em saber que o governador Waldez, após ter dado um tratamento diferenciado para a educação, para a segurança pública, hoje, como sempre fez, mas agora um olhar mais específico para a saúde. A nossa equipe tem um entendimento total das nossas responsabilidades, do que precisa ser feito e dos passos que já estamos dando, um trabalho árduo de coletar dados dentro de uma área da dimensão de um município, de uma capital, pois temos um quantitativo de servidores de um município, com uma complexidade até maior, pois enquanto um município tem um foco na área da saúde e vários em outras esferas, o nosso é com a saúde da população. Nós trabalhamos com o carro rodando então a gente troca o pneu com ele em movimento, pois não podemos deixar de comprar medicamentos, pagar pessoal, honrar com os contratos continuados, mas por outro lado tem que ir atrás dos recursos, fazer licitação, prestar esclarecimentos aos órgãos de controle, enfim. Mas felizmente essa equipe tem a confiança do governador, que acredita em nossa proposta e nas nossas ideias, então estamos prontos e aguardando toda essa atenção que está sendo dada para a Secretaria de Saúde do Estado.

Diário – E tudo com austeridade, afinal já passaram por essa pasta um promotor de justiça, uma delegada, um coronel da PM, e agora um auditor fiscal, uma demonstração da preocupação do governador em acertar na saúde. Como é isso para o senhor?
João – A Secretaria da Saúde, assim como todas as outras, tem um olhar direcionado para a população, então nenhum recurso pode ser desviado, nenhum recurso pode ser investido que não seja de forma legal, pois de todas as pastas a da saúde é a que tem um olhar maior dos órgãos de controle. Nós recebemos por dia algo em torno de dez mandados judiciais para prestar esclarecimentos, ao Ministério Público, o Tribunal de Contas, tanto na esfera estadual como federal, temos reuniões com os organismos de controle internos da sociedade, como sindicatos, associações, comissão Inter gestora bipartite, enfim, um controle gigantesco que a gente tem que se submeter, além de prestar o atendimento à saúde, controlar pessoal, todas as complexidades, como estrutura predial, enfim, costumo dizer que a saúde é um quadripé que não se sustenta se tirar um deles: gasto com pessoal, compra de medicamentos, compra de correlatos e estrutura predial.

Diário – Ainda sobre a mensagem do governador, ele falava sobre mais que remediar, é preciso evitar que a população adoeça, daí também lançar um projeto de saneamento, universalização de água tratada e esgotamento sanitário.
João – Com certeza. A gente sabe que a estrutura predial é responsável por uma parte importante do controle para evitar o agravamento dentro de nossas unidades hospitalares, que na sua maioria tem uma idade superior a 50 anos, portanto as discussões sobre saneamento também passam por esse debate da infraestrutura.

 

Perfil…

Entrevistado. João Bittencourt da Silva é paraense de Abaetetuba, mudou-se para Macapá aos 2 anos, é casado, tem 54 anos de idade e três filhos. É advogado, professor e contador. Servidor de carreira do Estado, é auditor da Receita Estadual; já foi coordenador de Tributação da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz); foi presidente da Junta de Julgamento de Processo Administrativo e Fiscal e é diretor jurídico do Sindicato dos Auditores do Estado do Amapá, entre outras experiências na área, como ter sido secretário municipal de Administração da Prefeitura de Macapá e secretário de Finanças de Santana. E abril de 2019, recebeu convite do governador Waldez Góes (PDT/AP) para assumir o cargo de secretário de Estado da Saúde (SESA).


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