Entrevista

“O porto de Santana será uma ferramenta para o desenvolvimento

Dono de quatro mandatos consecutivos como deputado e depois de ter se destacado na questão fundiária do Amapá, Eider Pena decidiu largar a política partidária e assumir de vez o lado empreendedor. Um dos pioneiros no agronegócio do Amapá, acaba de ser empossado novo presidente da Companhia Docas de Santana. E é exatamente o Porto […]


Dono de quatro mandatos consecutivos como deputado e depois de ter se destacado na questão fundiária do Amapá, Eider Pena decidiu largar a política partidária e assumir de vez o lado empreendedor. Um dos pioneiros no agronegócio do Amapá, acaba de ser empossado novo presidente da Companhia Docas de Santana. E é exatamente o Porto de Santana que mais recebeu a ação de seu último mandato, quando marchou ombreado a outras lideranças políticas locais na engenharia de um projeto até então pouco provável, que é escoar a produção de grãos do centro-oeste do Brasil por Santana. Esse e outros projetos que ele carrega na pasta foram tratados nesta entrevista com o jornalista Cleber Barbosa, de que o Diário do Amapá publica a seguir os principais trechos. 

 

Diário do Amapá – Como aconteceu o convite para o senhor se tornar o novo presidente da Companhia Docas de Santana?
Eider Pena – Olha, todos esses anos de mandato como deputado foram ligados ao desenvolvimento a partir do setor primário, para fazer com que o Amapá deixasse de ser um estado apenas consumidor para se tornar produtor. Todo esse patrimônio fundiário que temos, na hora que se transformar em produtivo, numa base alimentar capaz de atender às necessidades locais, eu creio que terá que ter uma parte dela exportada. Então eu sempre tive essa relação do campo com o porto.

Diário – E essa vocação portuária de que se tanto fala?
Eider – O Amapá é um estado com uma das melhores logísticas em nível de Brasil e já nos proporcionou a escoação da produção agrícola. Eu e o deputado Jorge Amanajás, assim como o deputado Lucas, tivemos um grande trabalho nessa relação fundiária, para buscar alternativas para o Amapá, perseguindo contra o ideal de termos aqui a famosa economia do contracheque público.

Diário – A Icomi trouxe ao Amapá um executivo responsável por descobrir alternativas econômicas além da mineração, que foi Fernando Guimarães, pelo Irda. Ele sempre defendeu que o porto daqui pudesse deslanchar com a navegação de cabotagem. Ele estava certo?
Eider – O Amapá e a Amazônia como um todo pouco utilizam a hidrovia e todos os estudos hoje remetem a essa constatação de que transportar por hidrovia é 30% mais barato do que por rodovia. Então isso demonstra que o saudoso Fernando Guimarães estava na plena razão. A gente só tem a agradecer a ele, que já tinha uma visão futurística em relação ao Amapá. Hoje os grandes debates são neste sentido, eu mesmo na Assembleia [Legislativa] fiz audiências públicas que mexeram com o setor, inclusive o prefeito Robson naquele período ele era vereador e se posicionava em relação ao porto, tem um grande conhecimento em relação à questão portuária.

Diário – Sobre esse projeto de escoar a produção de grãos do Centro-Oeste pelo Porto de Santana, como vai se dar?
Eider – Como o Amapá está numa posição geográfica estratégica ele vai atender principalmente o centro-oeste do Brasil, como o estado do Mato Grosso, que está no centro do Brasil e hoje para levar sua produção agrícola até o Porto de Paranaguá (PR) leva 2.150 quilômetros e vindo para o Amapá muda completamente a rota. São cerca de 700 quilômetros do norte de Mato Grosso até o Porto de Miritituba (PA) e de lá através de barcaças vai trazer até o Porto de Santana e daqui para praticamente para o mundo todo. Então o Amapá se tornou o grande parceiro do Centro-Oeste do Brasil.

Diário – E o caminho inverso, ou seja, essa infraestrutura modal de transporte pode também ser utilizada para a distribuição de outras mercadorias que chegariam ao Brasil pelos mesmos navios graneleiros?
Eider – Pode. E assim baratear o custo dos insumos. O Amapá inclusive poderá ter uma misturadora de insumos agrícolas, ou seja, vai receber a produção agrícola do norte do Mato Grosso e os navios que vão levar para o resto do mundo, que passam no Canal do Panamá, por exemplo, Estados Unidos e o Mercado Comum Europeu, poderão trazer insumos agrícolas que serão colocados nessas barcaças e atender o Brasil, pois alguns insumos não temos em nosso país. O potássio, por exemplo, é muito caro, então é importante apostarmos nisso para que dê certo. Nós podemos navegar no Rio Amazonas é muito caro, a cabotagem nela é muito cara, então esses navios que param no Amapá, fazem o transbordo da carga e levam para Manaus, Belém e todos os outros lugares de barcaça, é viável.

Diário – Aqui sempre se ouviu falar que em termos de calado, ou seja, da profundidade do nosso porto, estaríamos em situação de vantagem em toda a região, mas hoje com o avanço da tecnologia e o aumento da demanda os navios que atracam aqui, do padrão Panamax, já estariam obsoletos, pois há navios bem maiores operando no mundo. Como atender a essa exigência?
Eider – A tecnologia é uma coisa fabulosa mesmo. Antigamente quando a gente estudava Geografia aprendemos que na Amazônia não se produz nada e hoje provamos que se produz sim, tanto é que a Amazônia Legal hoje compõe com o Mato Grosso os maiores produtores de grãos do mundo. Sobre essa questão dos navios hoje existe uma barreira que é o Canal do Curuá, nessa saída do Rio Amazonas para o oceano, que praticamente suporta um navio de 50.000 toneladas. Sabemos que quanto mais aumenta a capacidade de carga de um navio diminui o custo do transporte então com certeza o Brasil irá estudar uma possibilidade e nós no Porto de Santana vamos disponibilizar todas as ferramentas para que ele possa ser um dos melhores terminais da região Amazônia e do Brasil.

Diário – Existe um passivo histórico com relação a ocupação desordenada do entorno do Porto de Santana, o que estaria impedindo sua expansão. Como está essa questão?
Eider – Já tem uma decisão judicial sobre essas três áreas, uma que era uma olaria e até um matadouro, determinando a reintegração de posse para o Porto. Duas áreas já foram totalmente liberadas e inclusive estamos iniciando um trabalho de georrefenciamento delas. A outra área é a do matadouro que só precisa definir a indenização das benfeitorias, então poderemos tocar sim a ampliação da área portuária.

Diário – Depois do acidente do desabamento do porto da mineradora Anglo American boa parte do embarque de minérios passou a ser feita pelo Porto de Santana. O senhor diria que o terminal deu sua parcela de sacrifício para não levar a um estrangulamento do setor mineral?
Eider – É verdade, pois de uma certa forma o porto sofre muito com isso pois se trata de uma carga muito pesada e ele não estava totalmente preparado para a escoação de minério, tanto é que se você for hoje ao porto vai ver que o acesso ficou bastante desgastado. É preciso fazer investimentos para que a gente possa recuperar tudo isso. É bom lembrar que além de carga o porto recebe hoje também navios transatlânticos, daí já termos um projeto para a construção de um terminal de passageiros, tanto que viajarei a Brasília nos próximos dias para tratar da liberação dos recursos. Além disso o projeto prevê a construção de mais dois berços para receber mais navios com uma capacidade maior.

Diário – E como estão as condições financeiras do Porto de Santana?
Eider – Com a paralisação da atividade mineral, desde o desabamento do porto, o porto de Santana ficou numa situação econômica bem difícil, mas acredito que daqui a sete, oito meses com a produção agrícola local a gente melhora sua capacidade econômica dele, assim como estamos buscando entendimento com a Amcel para a renovação do contrato dela conosco, que deverá sofrer um reajuste pois está bastante defasado. A partir daí é fazer investimentos no porto que não tenho dúvida será uma das grandes ferramentas para o desenvolvimento do Amapá.

 

Perfil…

Entrevistado. O amapaense Eider Pena Pestana nasceu na cidade de Ferreira Gomes, distante 133 quilômetros da capital Macapá. Tem 53 anos de idade, é casado com a ex vereadora e atualmente deputada estadual Edna Auzier, com quem tem três filhas. É professor de educação física, graduado pela Escola Superior de Educação Física do Pará, com especialização em Psicomotricidade. É empresário e produtor rural. Foi deputado estadual por quatro legislaturas consecutivas, entre os anos de 1998 e 2014. Entusiasta do agronegócio e da questão das terras do estado, teve destacada atuação na Comissão de Políticas Agrárias do Parlamento. Não disputou reeleição e no último dia 3, assumiu a presidência da Companhia Docas de Santana. 


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