Entrevista

“Posto policial no bairro é o sonho de qualquer comunidade no Amapá”

O comandante da Polícia Militar do Amapá, coronel Rodolfo Pereira, esteve no rádio para participar de um debate com a equipe do programa Conexão Brasília, ocasião em que falou das novas estratégias para o enfrentamento da violência e o combate ao crime no estado. Disse ser ainda muito frequente pedidos para implantação de postos policiais nas diversas comunidades, mas que essa modalidade de policiamento está ultrapassada e descreve os mais novos conceitos de policiamento ostensivo – e assim preventivo – como a interação com as comunidades e outras forças policiais através das plataformas da internet, como as redes sociais. Mas também diz que o bom e velho faro policial ainda resolve muitas ocorrências e evita que vidas sejam perdidas no cotidiano das ruas.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO

Diário do Amapá – Comandante quanto tempo de farda o senhor já tem?
Rodolfo Pereira – Agora em 2019 faço trinta anos de serviço já… [risos]

Diário – O Amapá tem uma polícia militar que pode ser considerada jovem ainda em relação a outras corporações, e até pouco tempo os oficiais que comandavam a instituição não tinham tempo para ir à reserva e voltavam para a tropa. Isso ainda acontece?
Rodolfo – Não, a Polícia Militar como uma instituição bastante estudada, tem uma estrutura bastante inteligente, ao passo que só galga o posto de comandante-geral quem está no último posto, portanto final de carreira, então na maioria das vezes acontece o policial que comanda e após esse período vai para a reserva, que acho vai ser o meu caso também, pois completo o tempo [30 anos] em junho.

Diário – E como se dá a participação das mulheres comandante, há oficiais também no último posto?
Rodolfo – Sim, temos mulheres na tropa e também oficiais no último posto [coronel] o que é muito gratificante para nós. O decreto de criação da Polícia Militar do Amapá é de 1975, porém só começou a admitir policiais femininos a partir de 1989, com a incorporação da primeira turma.

Diário – E essas oficiais são do quadro de saúde ou combatentes também?
Rodolfo – A coronel Elza é do quadro de saúde, mas a coronel Palmira é combatente, aliás a primeira a chegar a esse posto sendo do quadro operacional.

Diário – Então ela pode também um dia vir a ser a comandante-geral da PM?
Rodolfo – Pode sim, concorre em condições de igualdade com os demais oficiais, somos dezesseis coronéis ao todo.

Diário – E esse período fechado em 2018 no comando coronel, como tem sido para o senhor essa experiência que imagino o oficial se prepara a carreira toda para chegar ao topo, o comando?
Rodolfo – Foi um período um pouco difícil também, pois esbarramos na maior dificuldade que está relacionada ao problema do efetivo, pois temos um déficit de 60%, porém graças a Deus e à sensibilidade do governador do estado nós estamos iniciando uma reposição desse efetivo, com a formação no final do ano de 300 policiais militares novos, que estrearam sendo inseridos na Operação Papai Noel, e depois foram distribuídos para todo o estado. Mas esse ano já chamamos mais 300 candidatos para uma nova turma que iniciou a formação e até o meio do ano estarão à disposição do policiamento não só na capital como também no interior.

Diário – Qual o parâmetro utilizado para a definição do efetivo ideal em relação à população coronel?
Rodolfo – Sim, existe um parâmetro que a gente segue, onde o ideal seria um efetivo de 7.998 policiais, mas temos 3.436 integrantes, então daí vem o nosso cálculo sobre o déficit. A gente compensa isso com estratégias, principalmente para ocupar os locais que mais apresentam índices de criminalidade. A gente estuda bem o terreno, pontuando o policiamento de forma mais intensa nos locais onde há mais necessidade.

Diário – O senhor falando de estratégia lembra, claro a famosa cena do filme Tropa de Elite, onde inclusive foi mostrado de forma até didática a história do mapa da violência, ou seja, a partir dessas estatísticas é que o policiamento ostensivo se define?
Rodolfo – Sem dúvida, nós temos uma diretoria de operações, a quem é ligado um núcleo de estatísticas, onde trabalhamos o direcionamento mais eficaz para i policiamento de modo a dar um resultado mais eficaz para a nossa população. Diante disso temos um comitê operacional, formado pelos comandantes dos batalhões operacionais e especializados, que se reúne quinzenalmente para avaliar a produção do levantamento para o planejamento das ações a partir das demandas apontadas.

Diário – Tem um tema recorrente e que sempre chega aos meios de comunicação através de demandas das comunidades, que se reúnem para a construção dos famosos postos policiais. Como a PM avalia essa forma de policiamento?
Rodolfo – Às vezes é uma ilusão. Seria interessante a leitura inicial de que a gente passa a ocupar aquele determinado território, mas o importante é que neste posto policial haja uma viatura, para que se possa realizar rondas naquela região. O posto policial acaba acomodando o policiamento digamos assim, então só age quando provocado, isso é ruim para a Polícia Militar. Posso até dar um exemplo. Se um grupo de pessoas está no escuro consumindo drogas e em tese não atrapalha ninguém, as pessoas não vão sair de suas casas para ir ao posto denunciar. A gente sabe também por experiência que esse grupo que consome droga logo depois vai sair para cometer um delito, é comum. Já se esses policiais estiverem patrulhando há a possibilidade de abordar aquele grupo, vão achar uma arma e assim evitar que um crime aconteça. Daí em achar que posto policial é uma ilusão, as pessoas se enganam.

Diário – É uma solução ultrapassada, o senhor diria?
Rodolfo – O patrulhamento é muito mais eficaz a gente fazer um patrulhamento do que implantar um posto policial.

Diário – Existem algumas minúcias nessa questão das rondas, como aquela técnica de andar com a cabeça para fora da viatura, lembro de um caso de descoberta de traficantes aqui em Macapá onde a sensibilidade do policial o levou a desconfiar do simples olhar do suspeito. Como é isso coronel, tem até uma gíria que vocês usam, não é?
Rodolfo – É, ele deu uma circuitada… [mais risos] Olha, para se ter uma ideia, nós atendemos no ano passado quase 60 mil ocorrências, o que pode passar até a ideia de que o estado está inseguro, violento demais. Só que muitas delas são ocorrências de iniciativas do próprio policial militar, que é proativo, como nesse exemplo clássico que você deu agora. O policial observa e pela experiência e a devida técnica ele detecta a atitude suspeita, aborda mesmo e resulta numa apreensão de entorpecentes e até armas de fogo, e sendo assim são vidas que estamos preservando lá na frente.

Diário – E as redes sociais comandante, como elas estão sendo usadas pela polícia para interação com a comunidade? Ajudam na prevenção aos delitos?
Rodolfo – Sim, pois quando a gente começa a interagir, e essa é a melhor forma de se fazer segurança, junto com a comunidade, essas novas ferramentas como as redes sociais contribuem bastante, com denúncias que nos chegam, casos importantes solucionados, prisões realizadas a partir dessa interação. Mas também existe a interação com os demais órgãos de segurança, que se inicia pelo serviço e inteligência, uma outra grande iniciativa do nosso secretário de segurança, então a gente compartilha conhecimento em inteligência fica muito mais fácil a nossa atuação, daí o sucesso da utilização dessas plataformas, que vamos ampliar em nome da defesa social.

 

Perfil…

Entrevistado. Rodolfo Pereira de Oliveira Júnior, ingressou nas fileiras da PM-AP em 01 de junho de 1989, como soldado. Em 1993 foi aprovado no concurso público para o Curso de Formação de Oficiais (CFO), o qual frequentou na Academia de Polícia de Militar de Alagoas concluindo em 01 de dezembro de 1995. Frequentou o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais na Academia de Polícia Militar do Estado do Pará e o Curso Superior de Polícia na Academia de Polícia Militar de Alagoas, cursos estes obrigatórios na carreira de oficial militar. Entre suas especializações Gerenciamento de Crise, Combate a Entorpecente, Polícia Comunitária, Tiro Defensivo, Gerenciamento de Crise e Negociação; Assumiu o Comando da Polícia Militar em 06 de janeiro de 2016.


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