“Quando você inova está suscetível ao risco e ao erro”
A pandemia mudou hábitos, fazendo com que a sociedade se ambientasse a um novo mundo, mais virtual e menos presencial. Mas esta especialista fala da assimilação da “cultura do erro” e faz alertas.
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – Mesmo sem perceber, todos foram impactados com a inovação e foram quase forçados a assimilar novos processos e novas tecnologias. Qual perfil de inovação tem sido mais comumente adotado?
Renata Zanuto – Inovação é você fazer algo totalmente novo, diferente do que já existe, ou criar novos processos ou ainda, dar uma nova solução ou propor um novo modelo de negócio, não esquecendo que a decisão nesses processos está suscetível ao risco e ao erro. Antes da pandemia, pensando em inovação e evolução, era algo que aos poucos estava entrando na vida das pessoas, nas startups já era uma realidade, e nas grandes empresas estavam olhando com interesse para iniciativas de inovação. Mas o que mais temos visto no Brasil é o uso da tecnologia em modelos antigos. Por exemplo, o táxi era um modelo tradicional em que foi colocada uma tecnologia para mudança do modelo e com isso foram criados os transportes por aplicativo como Uber e 99. Da mesma forma a Netflix, Blockbuster com tecnologia, em um modelo que facilita a vida das pessoas.
Diário – Qual tem sido o impacto da tecnologia em um público mais tradicional, que durante a pandemia se viu praticamente na obrigação em usar aplicativos e entrar em sites para fazer compras online?
Renata – Foi feito um estudo na China, cujo relatório pode, de alguma forma, nos dizer algo com relação ao comportamento do consumidor brasileiro, naturalmente, sem generalizar. Eles fizeram um estudo com pessoas de todas as idades, para avaliar seu comportamento durante a pandemia. Como o estudo se seguiu quando houve a retomada na China puderam perceber o comportamento também no pós-pandemia. O mais interessante, e que chamou a atenção de todos, é que antes da pandemia, as pessoas de 60 anos ou mais, mesmo com a tecnologia mais acessível ao dia a dia, continuavam indo aos estabelecimentos para fazer suas compras. Seja porque eles não acreditavam que o sistema era seguro, seja com relação aos dados ou mesmo se entregariam o produtor na casa deles. Na pandemia, no entanto, eles foram obrigados a fazer compras online por meio do uso da tecnologia e perceberam que não era tão difícil como imaginavam.
Diário – E qual foi o comportamento desses consumidores na reabertura da economia, na China?
Renata – Como eles perceberam que era uma compra segura, tanto inserindo seus dados em um site, quanto na confiança de que o produto foi realmente entregue em casa, eles demonstraram gostar tanto, que o estudo mostrou que o comportamento foi mantido e eles continuam a fazer compras com uso da tecnologia. Claro que é muito difícil generalizar e comparar com o Brasil. Mas assim como as empresas desafiaram suas verdades na pandemia, as pessoas também tiveram de se ambientar em um novo cenário tecnológico.
Diário – O que a crise gerada pela pandemia do coronavírus ensinou ou oportunizou para o mercado de inovação?
Renata – De uma forma geral, a pandemia acelerou o processo de transformação digital nas empresas. Foi a mudança de mindset (mentalidade) das grandes empresas, mesmo quem não estava olhando para a transformação como algo benéfico, tiveram de se desafiar. E mais do que uma mudança de mindset, ocorreu uma mudança cultural. Porque uma transformação digital não se faz apenas com a mudança de mindset, mas com transformação da cultura. Agora, as empresas que estavam mais inseridas em um cenário de inovação, com um olhar mais próximo da realidade das startups, tiveram menos “prejuízos”, ao passar pela crise de forma mais fluída. Em 2020, vimos acontecer, mais do que nos anos anteriores, as aquisições de startups por parte das grandes empresas. Porque neste ano, muitas delas tiveram seu valor de mercado diminuído.
Diário – Quais dicas podes dar aos jovens empreenderes que estão desenvolvendo projetos de inovação?
Renata – Primeiro, as startups de sucesso resolvem problemas que já existem. Se for dar uma dica, não fique pensando em uma ideia brilhante, mas tente resolver um problema e, nesse atual momento, o que não falta é problema e oportunidade. Faça pesquisa e entenda se esse mercado que você deseja apostar está em crescimento ou declínio. Se esse mercado vai existir daqui 10 anos, e se está em crescimento, faz sentido colocar seus esforços para encontrar ideias e soluções.
Perfil
Renata Favale Zanuto – A executiva é co-head do Cubo Itaú em parceria com o BID Lab lançam segunda turma do BID ao Cubo edição Norte e Nordeste.
Formação
– Com mais de 10 anos de mercado e atuação na IBM, onde liderou a área de Developer Ecosystem & Startups, hoje, Renata é co-Head do Cubo Itaú, responsável pelas conexões entre startups e demais agentes do ecossistema para geração de negócios e valor ao mercado.
– Formada em Administração de Empresas pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), com especialização em Gerenciamento Estratégico & Marketing Internacional pela University of LA Verne (EUA) e
– Pós-graduada em Marketing, pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Prêmio BID ao Cubo 2021
– Estão abertas as inscrições para o BID ao Cubo Norte e Nordeste, programa desenvolvido pelo Cubo Itaú, maior hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico da América Latina, e o BID Lab, Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
– O objetivo é beneficiar startups com soluções inovadoras, de uso intensivo de tecnologia, com escalabilidade e impacto social e/ou econômico para melhorar a vida das populações pobres e vulneráveis na América Latina e no Caribe.
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