Entrevista

Realizei-me na advocacia e na política, mas ser professor é o que gosto

Tem uma carreira multifacetada que vai da advocacia à academia, e uma presença política marcante que o levou de Lisboa a Bruxelas e, mais recentemente, ao cargo de Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros


 

Cléber Barbosa
Da Redação

 

Advogado, académico ou político? Em qual destes papéis melhor o senhor se revê?
Paulo Rangel – Tenho de reconhecer que fui sempre um privilegiado, fiz sempre aquilo que gosto; embora também tenha o mérito de fazer por gostar daquilo que faço. Realizei-me sempre na universidade, na advocacia e na política. Mas não tenho dúvidas de que dar aulas, ensinar, ser professor é o que mais gosto de fazer. Não é tanto a academia, mas é o ensinar. Nada, mas nada, se compara com isso. A minha vocação é mesmo essa: ser professor.

 

Desde abril de 2024, o senhor lidera o Ministério do Estado e dos Negócios Estrangeiros. O que o levou a aceitar este desafio?
Paulo Rangel – Foi a consciência de que podia servir o meu país e de que, nessa pasta em especial, podia servi-lo bem. A minha experiência europeia e internacional, especialmente depois de 15 anos de atividade intensa no Parlamento Europeu, poderia ser posta ao serviço do país no quadro de um projeto político e de uma liderança política em que acredito convictamente.

 

Durante o seu mandato como eurodeputado, integrou comissões cruciais como a das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos e a dos Assuntos Constitucionais. E de que forma considera que essas experiências influenciam positivamente a sua abordagem enquanto Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros?
Paulo Rangel – Como acabo de sugerir, esses largos anos deram-me experiência, conhecimento e rede de contactos que são muito úteis para o exercício desta função. Julgo que me prepararam para desempenhar o cargo com competência e com proveito para Portugal.

 

No contexto das suas aulas de Ciência Política e Direito Constitucional, como a teoria e prática do ensino influenciam a sua abordagem à política externa? Que lições dos seus tempos como docente considera mais relevantes na sua atual função ministerial?
Paulo Rangel – TOs mais de 30 anos de estudo e de lecionação de matérias ligadas ao Direito Público e à Ciência Política são, sem dúvida, muito relevantes. Pelo enquadramento teórico e filosófico e pelo conhecimento histórico que dão; e, por outro lado, pela possibilidade de criar uma base doutrinal e um pensamento próprio sobre as relações internacionais. Não escondo que, aí, o rigor e a exigência da formação jurídica e o seu apuramento contínuo são de um préstimo enorme.

 

Quais os principais objetivos estratégicos que definidos para o seu mandato como inistro de Estado e dos Negócios Estrangeiros? Que iniciativas e políticas específicas pretende implementar para alcançar esses objetivos, especialmente no que diz respeito à promoção das relações bilaterais, à integração europeia, e ao reforço da presença de Portugal nas organizações internacionais?
Paulo Rangel – A pergunta é demasiado complexa e até ambiciosa. Resigno-me, pois, a evidenciar três pilares: No domínio da segurança, é fundamental a relação com a NATO, os Estados Unidos e o Reino Unido. Bilateralmente é necessário reforçar este pilar atlântico. No domínio de afirmação multilateral, a CPLP é a prioridade das prioridades. Não porque desprezemos as relações com todo o resto do mundo; mas porque estamos cientes que a nossa projeção global está intimamente relacionada com a nossa aposta na CPLP. Finalmente, a dimensão europeia, onde queremos sempre estar e estaremos no pelotão da frente.

 

Dado o complexo cenário geopolítico atual, com desafios como as tensões entre grandes potências, crises migratórias e questões de segurança global, quais são os desafios mais significativos que prevê enfrentar durante o seu mandato?
Paulo Rangel – As guerras em curso são obviamente desafios de exigência incomensurável, lançando grandes incertezas na cena internacional. A par disso, a previsível ou mesmo certa mudança de lideranças em Estados-chave consubstancia um fator de instabilidade que exige uma governação muito prudente e atenta. O lançamento do alargamento da União Europeia e as reformas que ele implica, bem como a revisão do quadro financeiro congraçam desafios de monta. Os fluxos migratórios e as tensões que eles têm gerado na política interna de tantos Estados obrigam a uma política moderada e humanista, que regule as migrações.

 

 

Perfil

Paulo Rangel – Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do Governo de Portugal.

Perfil biográfico
– Nasceu em Vila Nova de Gaia em 1968.
– É licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
– É advogado de profissão.
– É docente da Faculdade de Direito da Universidade Católica no Porto, onde já lecionou Direito Administrativo e Direito Constitucional e onde rege a cadeira de Ciência Política.
– É também, desde 2011, docente do MBA Executivo da University of Porto Business School.
– No mundo da política, foi eleito deputado à Assembleia da República em 2005, na X legislatura, assumindo a presidência do grupo parlamentar do PSD em junho de 2008.
– Foi secretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça no XVI Governo Constitucional, entre julho de 2004 e março de 2005.
– Foi eurodeputado de 2009 a 2024, eleito como cabeça de lista nas eleições europeias de 2009, 2014 e 2019.
– Em 2015, foi eleito vice-presidente do Partido Popular Europeu e é, desde julho de 2022 vice-presidente do PSD.

 

Posto atual
– Atualmente, é Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do XXIV Governo Constitucional. Deixando as posições e ofícios de lado, o pensamento do professor Paulo Rangel são destaque nessa entrevista.

 


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