“Se a ex presidente me levar na indústria dela hoje eu renuncio”
Em uma entrevista contundente, o novo presidente da Federação das Indústrias do Amapá, empresário Felipe Monteiro, lança um desafio à presidente afastada do cargo, a deputada federal Jozy Araújo (PTB-AP), para que ela apresente as provas de que existem indústrias em seu nome e também de familiares que comandam sindicatos que uma vez filiados à Fieap ajudaram a elegê-la para o cargo e, segundo o denunciante, turbinaram sua campanha ao Congresso Nacional. Felipe foi ontem ao programa Conexão Brasília, na rádio Diário FM, quando também falou a respeito da visão que tem sobre o papel da entidade e dos planos para resgatar sua credibilidade e confiança. A produção do programa franqueou o espaço para que a defesa de Jozy pudesse fazer o contraponto, mas até o fim do radiofônico ela não havia se manifestado.
Diário do Amapá – As pessoas têm acompanhado esse bombardeio de informações a respeito da disputa pela direção da Federação das Indústrias. A mais recente decisão judicial reconhece o processo de sua eleição para presidente da Fieap, então como vai se dar a retomada da gestão?
Felipe Monteiro – Olha, a Federação das Indústrias do Estado do Amapá é um órgão que agrega, quando não está sob intervenção, o Sesi, o Senai e o IEL, além de muitos programas sociais. Também capacita muitos jovens do estado do Amapá. Mas hoje se encontra sob intervenção, segundo a CGU e o TCU, por suspeitas de desvios de mais de R$ 7 milhões, do Pronatec, dos fundos, enfim, aí aconteceu que a CNI veio para fazer a intervenção. O IEL, que é o Instituto Evaldo Lody também está suspenso da CNI, prejudicando os estagiários do estado todo, todo um processo.
Diário – Qual a situação de caixa, hoje, da Federação, presidente?
Felipe – Hoje a Federação está com uma dívida trabalhista de mais de R$ 1 milhão, e estamos tentando organizar a casa, buscar novos parceiros com o apoio do Conselho, com certeza. O que surge é muito atrapalho, ainda, da parte da ex presidente, tentando ainda retomar o comando da Federação, fazendo manobras pelas vias judiciais, induzindo juízes ao erro, mas nós estamos alerta, tanto que quando fomos afastados por dois dias voltamos de novo por que o juiz compreende que o processo foi natural e foi legítimo.
Diário – Houve uma confusão porque a decisão que favoreceu a ex presidente foi da Justiça do Trabalho e a sua defesa buscou a Justiça Comum, por meio do Tribunal de Justiça do Estado, e foi a que acabou prevalecendo, não é?
Felipe – É, verdade, pois a Federação é uma associação de sindicatos, são vários sindicatos que se associam na federação para formar uma entidade, daí a decisão da Justiça Comum, daí que houve essa grande confusão, quando eles entraram com o foro de competência e o desembargador arquivou o processo deles. E nós estamos com vontade de trabalhar, pois tem muito a ser feito. Para que se tenha uma ideia, completou um ano que o salário dos funcionários da Federação está atrasado.
Diário – Um ano sem pagar os salários?
Felipe – Um ano. Com o pessoal trabalhando como voluntário ali…
Diário – Quantos funcionários são na Federação presidente?
Felipe – São 23. E hoje já tem gente que perdeu o carro, que foi despejado do imóvel alugado, que os filhos não estudam mais em escola particular, o desespero é grande. Eu encontrei a Federação totalmente sucateada, com veículos em casas de amigos, no escritório do advogado, aponto de termos de demandar ação judicial, a polícia ir buscar os veículos porque eles não queriam entregar, como se já fossem patrimônio particular deles, quando era da Federação das Indústrias. Tudo isso é uma coisa vergonhosa falar, mas encontramos a Federação com R$ 0,29 centavos em caixa, uma entidade de respeito, uma entidades que aglutina vários sindicatos e que pode ajudar a desenvolver esse estado.
Diário – São denúncias graves.
Felipe – Queremos resgatar o papel da Federação, que foi totalmente desviado. Levaram a política partidária para a Federação, quando lá deveria ser a política institucional, pois a grande questão da Federação é fazer o elo entre a indústria e o governo para gerar empregos para o estado. Isso aí nunca foi feito.
Diário – O senhor veio da indústria têxtil, é isso?
Felipe – Eu tenho uma malharia, então sou presidente do Sindicato do Vestuário, assim como tem o dos moveleiros, tem o dos estufados, dos oleiros [cerâmicos], o dos reparadores de veículos, tem o dos gráficos, enfim, são vários.
Diário – E a entidade mãe é a Confederação Nacional da Indústria, é isso?
Felipe – Sim, a CNI, que aglutina todas as federações, ela já é uma associação de federações.
Diário – Nessa questão da CNI a gente sempre viu que historicamente ela é uma entidade que sempre se posiciona, opinando sobre as grandes questões da economia do país.
Felipe – Sim, e é respeitada, pois sempre faz pesquisas para esses posicionamentos. O que os industriais, o que a indústria se preocupa é com o bem-estar e com o desenvolvimento do país, então a Federação das Indústrias do Amapá tinha que estar preocupada com isso, o bem-estar e o desenvolvimento do estado do Amapá, quando isso na verdade não aconteceu. Foi um direcionamento totalmente político para chegar a um objetivo de ter um mandato.
Diário – E com o senhor também veio uma diretoria para ajudar a tocar a Federação não é?
Felipe – Com certeza, o meu vice-presidente é o José Góes, do Sindicato dos Moveleiros, o nosso grande Haroldo Pinto Pereira, o Júnior, o Alderico, enfim, toda uma diretoria, o Mauro, dos Gráficos, e vai, o Carlão, dos Reparadores de Veículos, toda uma diretoria formada por representantes de sindicatos que atuam, porque existem também aqueles sindicatos chamados de fantasmas, que foram montados apenas com o objetivo de chegar ao poder na Federação. Esses sindicatos estão com o mandato vencido desde 2013 no Ministério do Trabalho, pois eles não conseguem renovar a diretoria porque não existem indústrias. E vou dar um exemplo: o Sindicato da Indústria Naval, onde é que fabrica navio aqui no Amapá? Ou o Sindicato da Indústria do Combustível. Agora é que começaram a furar um poço aqui no Amapá. Por isso não conseguem ser renovados.
Diário – O senhor faz revelações importantes.
Felipe – Olha, tenho uma malharia, mas eu desafio a ex presidente agora a me levar na indústria dela agora. Se ela me levar na indústria dela hoje e me mostrar onde tem funcionários e a sua produção eu renuncio à Federação. Eu a levo na minha malharia, mostro meus funcionários trabalhando, fabricando uniformes, fazendo roupa. É um desafio que faço a ela. E ao irmão dela, que é presidente de sindicato também, que me leve na loja dele; o pai dela, que também tem sindicato, que eles me levem na indústria deles; se eles me levarem na indústria deles e me comprovarem que tem uma produção, uma fábrica, eu, Felipe Monteiro, renuncio agora à Federação.
Diário – Pelo que o senhor diz, esses sindicatos foram montados apenas para conseguir votos na eleição da Federação das Indústrias?
Felipe – Sim, foram montados apenas para conseguir votos, sete sindicatos, foi isso que aconteceu desde 2013 naquele escândalo nacional que envolveu sindicatos, envolveu até o ministro Lupi [Carlos Lupi], que caiu. Fabricaram federações, sindicatos e até confederações foram formadas.
Diário – Obrigado pela entrevista.
Felipe – Eu agradeço e reforço que não quero briga com ninguém, quero paz e apenas fazer o meu trabalho para ajudar a desenvolver o nosso estado.
Perfil…
Entrevistado. O amapaense Felipe Nazaré Monteiro tem 39 anos de idade, é casado e pai de quatro filhos; Possui formação acadêmica em Administração de Empresas, pela FAMAP, e especialização em Gestão Pública pela Faculdade META. Empresário, constituiu uma indústria de fabricação de roupas, uma malharia que o levou a se filiar e também a presidir o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Amapá, filiada à Federação das Indústrias do Estado do Amapá, a FIEAP. Ele liderou um grupo de empresários que defende a renovação da entidade, montando uma chapa que saiu vitoriosa em novo processo eleitoral na Federação, sendo eleito o presidente. Desde então trava uma batalha judicial contra a ex presidente Jozy Rocha, que é deputada.
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