Entrevista

“Voltamos para o mapa da fome em 2021”.

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, conversou com as jornalistas Daniela Santos e Isabella Cavalcante sobre a (nova) meta de tirar o Brasil do Mapa da fome e a miséria.


 

Quais países já deram uma sinalização de que vão aderir e como está essa situação e se esse tema do combate à fome e à pobreza continua quando o Brasil for assumir a Presidência para sediar a COP30?

Wellington Dias – Então, nós temos notícia boa. Os países do G20, que são na verdade 21, agora entrou mais a África do Sul, que representa na verdade um bloco de países e os países da União Africana, e tomaram já uma decisão que vão participar, porque nós temos duas formas de participação. A participação com um plano maior, a partir de toda essa discussão que foi feita na Presidência do Brasil no G20, o presidente Lula, sempre defendendo há muitos anos uma tese. Alguém que já saiu da pobreza, alguém que deixou de passar fome, teve ajuda de alguém e, a partir daí pôde caminhar com suas próprias pernas. Então, a ideia dele [Lula] é que só é possível o mundo alcançar a condição de uma meta, de um mundo com fome zero, ou seja, todo mundo podendo tomar café, almoçar e jantar todo dia, e também saindo da extrema pobreza, saindo da situação de risco por conta da renda que se tiver, se tiver ali a participação dos mais ricos. Então, no foro dos mais ricos, que é o G20, os 20 países mais ricos do mundo, ele propõe na Índia que se tenha essa retomada da chamada meta um e dois dos objetivos para sustentá lo. E o bom é que, e agora cada um faz o seu plano. Ainda tem pobreza nos Estados Unidos? Sim. Então, qual é a meta para poder superar? Ainda tem pobreza no Brasil? O Brasil Sem Fome e o plano de redução da pobreza são dois planos que a gente trabalha.

 

Esse tema do combate à fome ele continua na COP 30 no ano que vem também?

Wellington – Sim, a COP 30, ela é parte de uma outra meta. E quando você olha ali, a gente estava se aproximando do final do último milênio e tinha ali uma ideia das Metas do Milênio. E o mundo tem problemas que precisa superar. Dentre os problemas, o risco do mundo alcançar uma temperatura que poderia desequilibrar o planeta. Desde a Revolução Industrial, quando começou a ter queima fóssil, passou a ter muita emissão de crédito de carbono, muita emissão de CO2, melhor dizendo, nós passamos a ler até um risco e passamos em 2021 essa temperatura assim do que era, vamos dizer, recomendado. Todo o esforço era para não subir a temperatura do mundo acima de um grau e meio e em 2021 ele alcançou. E o resultado disso? Mudanças climáticas. Então, agora, como é que em meio a mais esse desafio, a gente vai tratar? O Brasil sediando a COP quer resgatar os compromissos, o compromisso com a transição energética, o compromisso com a garantia de que se tenha ali, por exemplo, o replantio. No Brasil, é uma meta de, até 2030, ter 12 milhões de novas árvores. Não só nós temos que conter desmatamento, mas ainda garantir reposição de novas árvores para ter mais produção de oxigênio, captação de CO2, e uma das metas e também esse olhar para os mais pobres.

 

Ministro, ainda falando sobre combate à fome, o governo tinha o plano para tirar o Brasil do mapa da fome até 2030. Hoje, o presidente fala de alcançar essa meta até o fim do mandato, ou seja, 2026. O que o governo está fazendo para alcançar essa meta?

Wellington – Vocês são muito jovens. Eu vivi um período do Brasil, sou do Piauí como vocês sabem, da região Nordeste, eu vivi um período em que a fome e a pobreza, elas eram também ali um fator que causava a instabilidade, a fome. A fome, eu lhe digo, nós somos um animal, a gente esquece, nós somos um animal e com fome, nós somos tão racionais assim. Então, eu vivi situações na minha região em que o governo não tinha um plano. Tinham umas frentes de emergência, que cadastravam as pessoas para fazer estrada, mas era assim, muito limitado. Resultado: as pessoas que passavam fome, as pessoas na extrema pobreza, invadiam os armazéns para saquear, invadiam os supermercados, enfim. Então isso causava uma instabilidade para todo mundo. Aquela escola tinha lá a merenda escolar e o pessoal entrou lá e levou e agora fica sem merenda os alunos.

 

Então, com todo esse trabalho que o governo federal tem feito, o senhor acredita que é realista essa meta realista até 2026 ou mais para 2030?

Wellington – A meta oficial do Brasil é a mesma dos outros países do mundo, é dos objetivos de sustentar até 2030. O que significa um país sair do Mapa da Fome? É quando você reduz para um patamar abaixo de 2,5%. Você tem uma parcela da população que tem problema de, vamos dizer assim, de desnutrição em razão de saúde, às vezes é um problema que não tem a ver propriamente com o acesso ao alimento. Então, o mundo padronizou esse patamar. O Brasil tinha saído do Mapa da Fome. Por quê? Porque durante pelo menos três anos seguidos, ali foi 2011, 2012, 2013, o Brasil abaixo de 2,5%. Então, ali recebeu a certificação de país fora do Mapa da Fome. Quebrou toda a estrutura que tinha e infelizmente, em 2021, voltamos ao Mapa da Fome.

 

Perfil

Wellington Dias – Ministro(a) de Estado do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

 

Breve perfil
-José Wellington Barroso de Araújo Dias nasceu na cidade de Oeiras, Piauí, em 5 de março de 1962 e foi criado em Paes Landim, no Vale do Fidalgo.
– Estudou Letras na Universidade Federal do Piauí (1982). Cursou Políticas Públicas e Governo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998) e especializações no exterior.
– Bancário e escritor, trabalhou no Banco do Nordeste do Brasil, Banco do Estado do Piauí e Caixa Econômica Federal, da qual é funcionário aposentado de carreira.
– Trabalhou ainda na Rádio Difusora de Teresina. Filiou-se ao PT em 1985 e iniciou suas atividades sindicais como integrante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e presidente da Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef), entre 1986 e 1989.

Também escritor
– Atuou na literatura, contista e autor do livro Macambira, premiado em 1980 e publicado em 1995. Teve vários outros contos premiados: Maria Valei-me (1984) – que recebeu menção honrosa pelo “Concurso de Contos João Pinheiro”, da Secretaria de Estado da Cultura do Piauí. Escreveu as peças “Reisados da Minha Terra” e “Estamos Todos Inocentes”. Foi incluído nas coletâneas “O Conto na Literatura Piauiense” (1981) e “Novos Contos Piauienses” (1984).

 

 


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