Esportes

Com Paralimpíada na pele, candango vence preconceito: “Não me aceitava”

Paraplégico aos 16 anos, no começo não queria jogar basquete em cadeira de rodas: “Besteira”


Era setembro de 2006 e a festa estava armada em Planaltina, no Distrito Federal. A chácara da avó receberia mais um campeonato e Amauri era um dos que entrariam em campo. Jogando nas categorias de base do Gama, o garoto sonhava com o futebol profissional e tinha ali mais uma chance de mostrar o seu potencial. Só que não deu tempo. Um acidente de carro, um dia antes da partida, o colocou em uma cadeira de rodas aos 16 anos. A vida veio abaixo e o jovem conheceu a depressão.

Foram três longos meses de angústia até o reencontro com o esporte. Um recomeço que lhe deu um novo fôlego e também acabou com um preconceito que partia dele mesmo. Ao conhecer o basquete em cadeiras de rodas, o candango voltou a sorrir e oito anos depois daquele trágico dia está pronto para o debute paralímpico com direito ao símbolo dos Jogos tatuado na pele.

– De primeira não gostei, disse que não ia jogar. Tinha um preconceito. Coisa minha mesmo. Não me aceitava aquela minha condição. Dizia para eu mesmo que voltaria a andar, que voltaria a jogar meu futebol e não queria participar daquilo. No começo o cadeirante não aceita a condição. É difícil a aceitação. Depois que aceita, o preconceito sai, você começa a gostar mais de você e percebe que a vida não acabou, só está começando de outra forma. E o técnico insistiu. Me buscava em casa. Aos poucos pesquisei, vi que o esporte era grande, que haviam grandes torneios como a Paralimpíada. E o meu sonho sempre foi ser atleta. Então me apaixonei, explica Amauri.

Amauri se recorda com detalhes do dia em que sofreu o acidente que mudou sua vida. Ele havia ido até o distrito de Cariru para ajudar a cortar a grama do campo e preparar a festa do dia seguinte. A noite, com a chácara da avó cheia de visitas, resolveu que pegaria o carro para ir até a casa do tio, bem próxima, onde poderia tomar banho. Um amigo chegou antes, pegou a chave e dirigiu. Eles capotaram e aos 16 anos o candango perdeu o movimento nas duas pernas.

– Estávamos cortando grama, era um sábado. Estava tudo arrumado, tinha muita gente. Faríamos um churrasco de noite. A casa estava cheia de gente, eu ia pegar o carro do meu tio para tomar banho em outra casa, mas meu amigo foi na frente e pegou a chave. Ele dirigiu. Dali em diante eu fiquei paraplégico. Me recuperei na Rede Sarah (hospital referência no Brasil) e ali cheguei a conhecer o basquete.


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