Uma vida em 13 anos: Gaurika dribla o terremoto para ser a mais jovem no Rio
Sobrevivente da tragédia que matou mais de 8 mil no Nepal em 2015, nadadora troca o trauma pelo sorriso e resume o Brasil em uma palavra: “Quente!”
Às 11h56 do dia 25 de abril de 2015, Gaurika Singh estava encolhida embaixo de uma mesa. No quinto andar de um edifício moderno em Catmandu, tudo sacolejava feito gelatina. A menina de 11 anos ficou ali por quase 10 minutos, com medo, esperando o chão voltar a ser sólido, ainda sem saber que prédios vizinhos desmoronavam num terremoto feroz que mataria mais de 8 mil pessoas no Nepal. Às 13h02 do próximo domingo, 7 de agosto de 2016, só uma coisa vai tremer em volta de Gaurika: a água da piscina no Estádio Aquático. E quando tocar a sirene para a eliminatória dos 100m costas feminino, ela será a mais jovem entre os mais de 11 mil atletas nos Jogos do Rio. Uma sobrevivente aos 13 anos.
Na noite desta quarta-feira, a delegação do Nepal vestiu seus sete atletas de forma impecável para a cerimônia de boas-vindas na Vila Olímpica. Gaurika amarrou os cabelos num rabo de cavalo e circulou meio tímida pela grama da zona internacional com o mesmo uniforme das outras duas mulheres que competem pelo país asiático no Rio: blazer azul-marinho por cima de um vestido vermelho que quase se arrastava pelo chão. No pescoço, carregava uma credencial de atleta que vai ser lembrada por muito tempo. Nos dentes, um clichê adolescente: o aparelho fixo que aparece a cada sorriso – e, olha, não foram poucos.
– Eu realmente não penso muito nessa coisa de ser a mais jovem da Olimpíada. Estou competindo como qualquer outro atleta. Minha idade não deveria importar. O sentimento é maravilhoso por estar nos Jogos – resume Gaurika, com o forte sotaque britânico de quem mora na Inglaterra desde os 2 anos.
O fato é que a rotina de braçadas não permite muito tempo para pesquisar amenidades sobre o lugar onde mora. Gaurika acorda todo santo dia às 4h15 da manhã. Treina até as 7h. Vai para a escola. Volta da escola. Treina mais. E fica repetindo, repetindo, repetindo. Tanta repetição rendeu um fruto que ela mal esperava. A vaga olímpica começou a amadurecer no Campeonato Mundial de Kazan, na Rússia. Apenas três meses depois do terremoto no Nepal, ela conseguiu bons números e somou pontos importantes para a corrida da Rio 2016.
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