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Cresce violência contra comunicadores em 2018, diz relatório da ABERT

Em 2018, a violência contra os comunicadores brasileiros voltou a aumentar. Três radialistas foram covardemente assassinados por cumprirem a missão de informar. Em 2017, houve um assassinato.


Durante o lançamento do Relatório ABERT sobre Violações à Liberdade de Expressão 2018, nesta quarta-feira (20), em Brasília, o presidente da Associação, Paulo Tonet Camargo, afirmou que o número preocupa, principalmente se comparado ao cenário mundial.

“Se analisarmos que, durante o ano passado, 86 jornalistas foram assassinados ao redor do mundo, o número de três mortes no Brasil é muito elevado, considerando que o Brasil não é um país que vive em zona de conflito como outras partes do mundo. Três jornalistas assassinados por darem sua opinião, por fazerem a cobertura e exercerem seu trabalho, nos deixa, além de tristes, muito preocupados”, destacou Tonet.

Também o número de casos de violência não letal – atentados, agressões, ameaças e ofensas – aumentou 50% em 2018. O Relatório ABERT contabilizou 114 registros, envolvendo pelo menos 165 profissionais e veículos de comunicação. Em 2017, foram registrados 76 casos.

Depois do assassinato, o atentado é a forma mais grave de violência contra os profissionais de comunicação. Em 2018, foram três casos, mesmo número de 2017. Porém, a quantidade de vítimas foi maior: cinco radialistas foram alvo desse tipo de crime. Todos os profissionais, de rádios locais, são autores de reportagens com denúncias de corrupção ou críticas às atividades de autoridades e da classe política da região onde vivem. Armas de fogo foram utilizadas pelos criminosos em todas as situações, numa clara intenção de acabar com a vida dos comunicadores.

As agressões físicas contra jornalistas são as mais frequentes e representam 34,21% de todos os casos de violência não letal. Dos 39 casos relatados em 2018, pelo menos 54 comunicadores foram agredidos, um aumento de 11,42% em relação a 2017, quando houve 35 registros. Os profissionais de TV foram as principais vítimas de empurrões, socos e pontapés.

Em um ano marcado por importantes fatos de interesse público, como a paralisação dos caminhoneiros, a prisão do ex-presidente Lula e as eleições, manifestantes e militantes partidários foram os principais autores da violência contra comunicadores.

“Tivemos um ano com episódios importantes no país, que mereceram a cobertura pelos veículos de comunicação e que geraram vários casos de agressões contra jornalistas”, disse Tonet.

As ameaças respondem por 16,66% do total e merecem especial atenção, já que muitos casos não são relatados ou são minimizados por parte das vítimas. No ano passado, foram registrados 19 casos, com pelo menos 29 vítimas.

Para o presidente da ABERT, as hostilidades e agressões contra profissionais de comunicação demonstram intolerância e desconhecimento do real papel da imprensa – de informar a sociedade sobre assuntos de seu interesse.

“Isso traduz uma cultura que não é democrática. A democracia parte sempre do respeito à opinião contrária e da convivência de opiniões contrárias. Todas essas agressões a jornalistas são frutos de intolerância e essa intolerância é muito ruim para a democracia. Queremos que o exercício da profissão de jornalista seja entendido e absorvido pelas pessoas como algo fundamental para levar informação para a sociedade brasileira, de forma responsável, isenta e profissional”, ressaltou Tonet.

Diferentemente do levantamento do ano anterior, o Relatório ABERT de 2018 traz, em capítulo à parte, os crimes virtuais – ameaças, ofensas e ataques no ambiente digital – promovidos por notícias falsas e ódio disseminado contra jornalistas nas redes sociais.

As decisões judiciais também estão registradas, mas não entram na contabilização dos casos. Em 2018, foram proferidas 26 decisões, envolvendo conteúdo jornalístico.

Brasil no mundo
O aumento do número de casos de homicídios – de um em 2017 para três em 2018 – mantém o Brasil na lista dos países mais perigosos do mundo para o exercício da profissão. Segundo a organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF), o Brasil ocupa a 102ª posição entre os 180 avaliados no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa.

Também o levantamento do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) aponta o Brasil como um dos países mais impunes do mundo. Dos 14 países com pelo menos cinco casos de crimes sem a condenação dos criminosos – entre 1º de setembro de 2008 e 31 de agosto de 2018 – o Brasil ocupa a 10ª posição, com 17 registros. (Tainá Farfan)


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