CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO
O aniversariante desta segunda-feira, dia 24, é um dos políticos brasileiros de mais longeva carreira no Congresso Nacional e com uma passagem marcante pelo Palácio do Planalto – na verdade duas. Sim José Sarney foi duas vezes presidente da república, a primeira em 1985 e a segunda até recente, em 2012, quando era o presidente do Senado Federal e assumiu por três dias as rédeas do Executivo, em substituição à presidente Dilma e no impedimento de Temer e do então presidente da Câmara, deputado Marco Maia, que estavam em viagem para fora do país.
Naquela ocasião, tratada pela imprensa como uma curiosidade da linha sucessória, os jornalistas indagaram a ele se passava por sua cabeça retornar ao posto mais importante da república. Sarney declarou que estava pronto para cumprir apenas seu dever. “Cumprirei o que determina a Constituição. Eu cumpri com o meu dever no tempo devido”, disse. E foi com essa postura sempre equilibrada, serena e de um autêntico estadista que José Sarney sempre pautou sua carreira política tanto no Planalto Central do país como no Amapá, estado que o acolheu depois de deixar a faixa presidencial. Foi eleito três vezes consecutivas senador, período em que fez aquilo que se esperava, usou a experiência e o prestígio, além de uma mente fértil de boas ideias, para ajudar o estado a se desenvolver.
O começo
O primeiro projeto ainda seria gestado e ele sacou do telefone sempre muito requisitado para dar um jeito de resolver um problema do Amapá naquele começo da década de 90, que era o racionamento de energia elétrica. Usinas térmicas foram transferidas de Camaçari (BA) para Santana (AP) e assim garantir a normalidade do abastecimento. Depois foram muitas outras ações até melhorar a capacidade da única hidrelétrica existente e nos anos seguintes garantir mais investimentos no setor. Atualmente outras três hidrelétricas foram ou estão em construção no estado, sempre com forte atuação dele.
Mas o primeiro grande projeto concebido por Sarney no Amapá foi a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (ALCMS) até hoje vital para a economia local e que acaba de ser sucedida pela segunda etapa desse projeto, com a criação da Zona Franca Verde. Para ele, é a consolidação de toda a obra edificada no estado, que envolve ainda muita coisa “que eu nem estarei aqui para usufruir”, costuma dizer Sarney.
Gratidão ao Amapá e sua gente, uma marca
Mesmo tendo ocupado os mais importantes cargos da república, como presidente, senador e até por quatro vezes presidindo o Congresso Nacional, Sarney sempre dedicou espaço em sua concorrida agenda e nos gabinetes que ocupou, para receber amapaenses e suas principais lideranças. Em relação ao estado, duas coisas são marcantes em toda a retórica para se referir ao estado: sua gratidão ao povo e o sentimento de grande otimismo em relação ao futuro desta unidade da federação. “Não tenho dúvida de que será um dos estados mais importantes do norte do Brasil, por sua posição geográfica privilegiada, sua vocação portuária e por ter cumprido etapas de um planejamento que visava garantir sua sobrevida econômica e preparar o Amapá para ser competitivo, com obras de infraestrutura como pontes, portos, aeroportos, energia e a interligação ao sistema nacional de energia”, lista o ex presidente. O lado intelectual de Sarney – membro da Academia Brasileira de Letras – também conspirou a favor do Amapá, projetando o estado, sua gente, suas tradições através de romances e outras obras traduzidas para vários idiomas.
Uma biografia de fatos históricos e defesa firme da democracia
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu na cidade de Pinheiro, Maranhão, em 24 de abril de 1930. Adotou o nome de Sarney em homenagem ao pai, Sarney de Araújo Costa. Formado em direito em 1954, ingressou na política como suplente do deputado federal pela UDN (União Democrática Nacional). Foi eleito por dois mandatos como deputado federal (1958-1965) e, como um dos líderes do grupo progressista da UDN, defendia entre outras bandeiras, a reforma agrária no início dos anos 60. Em 1964, fez oposição ao golpe militar que depôs o presidente João Goulart. Com a instituição do bipartidarismo, em 1965, aderiu ao partido governista, a Arena (Aliança Renovadora Nacional).
Governou o Maranhão (1966-1971) e cumpriu dois mandatos como senador (1971-1985), trabalhando para recuperar as prerrogativas do Congresso. Em 1979, após o fim do bipartidarismo, participou da fundação do PDS (Partido Democrático Social). Deixou o partido em 1984, por ser contrário à escolha de Paulo Maluf para disputar a eleição indireta à presidência da República. Ingressou no PMDB e foi indicado como vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, pela Frente Liberal. Em virtude do falecimento de Tancredo, assumiu a presidência no dia 15 de abril de 1985.
O período de governo foi marcado por medidas econômicas de combate à inflação e pelo estabelecimento de uma nova Constituição. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Carta, considerada a mais democrática da história brasileira, estabeleceu eleições diretas em dois turnos para presidente, governador e prefeito. Abdicou do último ano (de seis) do mandato e garantiu a redemocratização, com a eleição de um civil em 1989.
CURIOSIDADES
– Quando tomou posse, Sarney afirmou que as mudanças viriam durante o processo de redemocratização. As primeiras delas vieram em 8 de maio de 1985, quando foi aprovada a emenda constitucional que estabeleceu eleições diretas para presidente, prefeito e governador.
– Os maiores índices de popularidade de seu governo viriam com o Plano Cruzado, proteção ao salário, congelamento de preços e o surgimento dos “fiscais do Sarney”.
60anos
Tempo de vida pública de José Sarney.
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