Nossa Opinião

O estadista sai de cena

Depois de mais de seis décadas de dedicação à política partidária, o senador José Sarney fez seu último discurso no Senado, nessa quinta-feira, 18. Ao se despedir, o ex-presidente do Brasil e do Senado Federal fez uma retrospectiva de sua vida pública e não poupou revelações: confessou-se muito supersticioso e, apesar de avesso a despedidas, por não gostar de dizer adeus, disse que fez questão de se despedir apenas para expressar sua gratidão.

Emocionado, sem se esquecer do Amapá, Sarney agradeceu ao povo do Maranhão, onde ele iniciou sua trajetória política, e que, segundo ele, é uma terra cheia de riquezas. Com os olhos marejados, recorreu à poesia que sempre temperou suas obras literárias para externar seus sentimentos: “Gratidão ao povo do Maranhão, minha terra, minha paixão, onde meus olhos se abriram para o mundo”.


Até os mais teimosos e eternos insatisfeitos reconhecem o papel fundamental que José Sarney teve na construção e na solidificação da democracia, com muitas renúncias e ações que muitas vezes lhe custaram a própria imagem. E ele próprio reconheceu isso, quando assim se expressou: “Só Deus é testemunha do que isso me custou e das cicatrizes que até hoje sangram”.

Ao agradecer ao povo amapaense, que lhe deu três mandatos de senador, José Sarney, mais uma vez, demonstrou sua visão futurista: “Gente boa, generosa, trabalhadora, que vai cumprir o destino de construir, isso não tenho dúvida, um dos maiores estados da Amazônia”.

Quando comentei sobre a decisão de José Sarney de não mais concorrer a qualquer cargo público, mesmo com todas as condições de se reeleger senador, eu afirmei – e agora reafirmo – que ele está acima de seu tempo, e longe de quaisquer controvérsias. A voluntária ausência dele do cenário político deixa um vazio enorme não apenas no Amapá, a cujo povo dedicou as duas últimas décadas e meia de sua vitoriosa e incomum carreira política, mas, também, em todo o país.

O que nós, amapaenses, não podemos fazer é deixar escondido na névoa do passado, o necessário e justo reconhecimento aos benefícios proporcionados por José Sarney ao Amapá. E cito alguns desses benefícios: Área de Livre Comércio de Macapá e Santana; ponte binacional, interligando o Amapá à França; construção de conglomerados habitacionais, via PAC; PEC-111, que transpõe os funcionários dos cinco mais antigos municípios para os quadros da União; Porto de Santana; Zona Franca Verde; cinco usinas hidrelétricas, duas já em funcionamento e outras três que estão sendo construídas; as escolas técnicas em funcionamento; a extensão do Linhão do Tucuruí, entre tantas outras obras que precisam ser lembradas como legados de José Sarney, uma das mais competentes, queridas e expressivas lideranças políticas que o povo amapaense já teve na história do Amapá.

Eu não poderia finalizar minha humilde opinião sem deixar de fazer como fez o próprio senador José Sarney, ao encerrar o seu discurso de despedida no Plenário do Senado Federal, fazendo dos folguedos populares do Bumba Meu Boi do Maranhão a sua própria toada de despedida: No raiar desse dia, o céu é o reinado das estrelas onde a lua tem sua morada. E o orvalho é a lágrima da noite que chora pelas madrugadas. Adeus, eu já vou me bora, é chegada a hora de eu me despedir. Assim como o dia se despede da noite, eu me despeço de ti. Deixo no Senado uma palavra: gratidão. Saio feliz, sem nenhum ressentimento. Ai meu Senado, tenho saudades do futuro, muito obrigado”.

O povo amapaense é que lhe agradece, senador José Sarney, por tudo o que o senhor fez por esta terra, cujos reflexos vão servir de norte, sempre, para que, como o senhor próprio disse, ao se despedir do Senado, o Amapá cumpra o destino de construir um dos maiores estados da Amazônia, pelas mãos de sua gente boa, generosa e trabalhadora.
Luiz Melo / Jornalista


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