Nota 10

A arte secular das louceiras do Maruanum em exposição

Diferentes esferas do poder público abraçam a iniciativa de valorizar a cultura negra do estado do Amapá, que permanece por meio do saber tradicional das louceiras do Maruanum.


Em exposição aberta na segunda-feira, 24, no Laboratório de Arqueologia do Iepa, estão representadas as tradições e práticas dessas mulheres, materializadas em peças de barro. Nessa parceria pelo fortalecimento do patrimônio material e imaterial da cultura amapaense, a Prefeitura de Macapá se faz presente por intermédio do Instituto de Promoção da Igualdade Racial (Improir), um dos principais articuladores para que a exposição se tornasse realidade.

A mostra ficará aberta para visitações durante um ano. Nela, o visitante poderá conhecer o artesanato rústico talhado por um grupo de mulheres descendentes de antigo quilombo. Uma arte centenária que permanece por gerações, preservando a mesma técnica utilizada pelos antepassados. Essa rede de mulheres artesãs cria, em cerâmica, panelas, fogareiros, potes, bandejas, conjuntos de copos e xícaras, porta-alho, tigelas e tudo o que a imaginação, a criatividade e a habilidade permitirem. Dona Marciana Nonata, 75 anos, é uma dessas mulheres. Ela aprendeu o ofício com a mãe, mas em sua família, todas as mulheres que a antecedem foram louceiras.

“Quando eu me entendi, minha avó já dizia que a mãe dela também fazia esta cerâmica do Maruanum. Eu aprendi com a minha mãe, mas desta nova geração, apenas a minha neta mostrou interesse pelo barro. Lembro que, quando mais nova, a gente ia tirar barro e encontrava cacos das peças dos antigos”, contou tia Marciana, como é conhecida.

Fabrício Ferreira, professor da Unifap e autor da tese de mestrado que despertou o interesse em realizar a exposição, reunindo diferentes parcerias, diz que, como arqueólogo, o prazer maior foi de ter dialogado com a comunidade, enxergando o cotidiano como patrimônio. “O fazer das louças não é um trabalho fácil – buscar as lascas karipé (imensa árvore nativa), buscar o barro, a Jutaí-Cica (isolante, retirada da árvore do Jutaizeiro), distribuir as louças para venda, é muita força de vontade e amor. Então, essa exposição é para mostrar essa força de vontade e a arte delas passada por meio de gerações”.

Ele também agradeceu o apoio do Improir. “O instituto esteve presente em todo o processo de construção e de organização dessa exposição. Estiveram em todas as reuniões com as louceiras, trouxeram as peças para o laboratório”.

O diretor-presidente do Improir, Maycon Magalhães, retribuiu a fala. “Essa é uma pequena homenagem às mulheres do Maruanum, mas que tem peso muito grande por essa integração entre o saber popular e o científico ser fundamental. São essas iniciativas que fortalecem e fazem com que nossa cultura seja resguardada, para que os valores e saberes tradicionais não se percam. Essa integração que faz o Iepa, a Universidade Federal do Amapá, o Iphan, a sociedade civil organizada, por meio das louceiras do Maruanum, e nós, como poder público, tem uma importância histórica fundamental para que a cultura negra continue resistindo”.

Maruanum é assim: cheio de mulheres que mantêm as tradições, crenças e costumes de seus antepassados, possibilitando que esta região ribeirinha mantenha viva a arte de construir artefatos e louças pelas mãos de suas filhas. Por toda essa riqueza histórico-cultural, vale a pena conferir a exposição “As Louceiras do Maruanum”, no Núcleo de Pesquisa Arqueológica do Iepa, ao lado do Museu Sacaca. Para quem se encantar com as peças, pode adquirir as que estão à venda.


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