Carlos Prado a caminho do céu
Pintar e expor duas mil telas eram o novo desafio que o artista plástico pretendia realizar nesta cidade na Fortaleza de São José de Macapá, em novembro de 2016.
Wellington Silva – Jornalista e historiador
Especial para o Diário
Santa Catarina, o Amapá, o Brasil e o mundo perdem Carlos Prado, citado no livro dos recordes como o pintor mais rápido do mundo. Deixa nesta terra, aos 69 anos, gratuitamente, um legado histórico de duas mil telas, árduo trabalho inspirativo que o artista plástico finalizou em Macapá, na Fortaleza de São José de Macapá, sob a brisa do rio Amazonas. Primitivismo, cubismo, impressionismo, expressionismo, abstracionismo, surrealismo e abstrato-geométrico. O pintor fez uma produção de 100 telas, em cada escola de pintura.
Cumprindo a sua vontade, com a permissão da família, as duas mil telas aos poucos serão gratuitamente distribuídas às faculdades, universidades, veículos de comunicação, escolas públicas, lojas maçônicas, Ijoma, Amapá Garden, rede de supermercados Fortaleza, rede de supermercados Santa Lúcia, Lojas Domestilar, Monte Casa e Construção, Lojas Center Kennedy, a órgãos públicos e aos amantes das artes que apreciam o trabalho do artista. O cuidadoso trabalho de entrega das obras estará a cargo da Academia Amapaense Maçônica de Letras.
Pintar e expor duas mil telas eram o novo desafio que o artista plástico pretendia realizar nesta cidade na Fortaleza de São José de Macapá, em novembro de 2016. Dizem que Prado não era só e não tinha nascido só. Se o produtor de arte é um escolhido do Criador e a arte é a porta-voz ou a luz de consciência do mundo, a explosão de criações plásticas é exatamente correntes de mensagens em variados tons, nuances, anatomias, estudos e escolas diversas.
Revelou-me o artista que aos 12 anos, prematuramente, despertou para a pintura:
“É como um sonho. A inspiração vem e entro numa espécie de transe. Pinto com as mãos e, às vezes, uso muito pouco os pincéis. Também gosto de botar a mão na massa, no cimento, e produzir esculturas sacras gigantes ou em tamanhos naturais”.
Na entrada do município de Santana, por exemplo, o artista fez uma escultura em homenagem a Nossa Senhora e outra retratando o Livro da Lei, as Sagradas Escrituras, em homenagem ao povo evangélico. Outros municípios do Estado do Amapá também possuem esculturas sacras gigantes, feitas de cimento.
Autodidata, sexagenário, pai de 19 filhos e 33 netos, consagrado como cidadão do mundo, suas criações atravessaram fronteiras. Inspirado por luzes externas e internas, “os Mentores da Arte”, como os denominava, eram quem o conduziam a uma incrível diversidade de produção. Óleo sobre tela, tintas para paredes empregadas em pinturas sobre compensado, cimento, areia e água, tudo em suas mãos transformavam a química das tintas e a matéria de construção em arte, a comunicação do belo inimaginável.
Sua paixão pela temática amazônica, nossos índios, peixes, lagos e rios, a arte marajoara, maracá e cunani, a cerâmica, fauna e flora, tudo seria retratado nas duas mil telas cuidadosamente por ele trabalhadas. São 500 pinturas de pássaros e cerca de 400 somente sobre peixes da Amazônia, além de 400 figuras impressionistas de índios e totens indígenas. Cerca de 300 telas foram pintadas mostrando toda a beleza e criatividade dos jarros indígenas, cada um com flores nativas. Somente sobre o Amapá, 400 obras mostram nossa história, ambiente, natureza e arquitetura. O que chama a atenção n’algumas de suas produções impressionistas, por exemplo, são os índios. Eles parecem estar vivos, como que a nos dizer alguma coisa.
“Não queime, não mate e não morra, conserve a Mãe Natureza”, eis a mensagem deste grande artista, natural de Santa Catarina, que resolveu adotar o Amapá como porto final de suas peregrinações. Quem o conhecia logo nele via a imagem de um homem simples, desprovido de vaidades. Tinha Luz própria e total desapego a luxúria, a coisas materiais. Para com todos era a encarnação prática da igualdade e da fraternidade. Foi livre enquanto sopro de vida, sempre irrequieto na sua arte de sonhar e criar o belo. A caminho do céu pintará as Luzes do Firmamento e A Morada dos Bens Aventurados. Nós, teremos que nos contentar com seu legado, aqui deixado.
O grande Carlos Prado também usava a sua inteligência para tratar o corpo e a mente através das artes marcais. Ele era faixa preta quarta DAN de judô, grau que poucos judocas consegeum alcançar. A última obra de Carlos Prado foi a pintrua óleo sobre tela do mestre Jigorokano, o fundador do judô.
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