Da dor ao acalento: a Encomendação das Almas, o ritual dos homens
No período da Quaresma, moradores da vila entoam cânticos nas ruas e cemitérios de Mazagão Velho
Gabriel Penha
Especial para o Diário
A força da religiosidade é uma das características mais fortes e marcantes dos moradores de Mazagão Velho. Durante a Quaresma, o período de 40 dias que antecede a Semana Santa, um grupo de homens sai às ruas da vila durante a noite para realizar a chamada cerimônia de “Encomendação das Almas”, duas vezes por semana.
O coletivo é dividido em equipes de duas a seis pessoas, que percorrem lugares específicos da vila, os quais marcam as 14 Estações da Via Sacra – os pontos são marcados por cruzes pregadas nas portas. Ali, os “encomendadores” acendem velas e entoam cânticos para pedir a Deus, em nome de Cristo crucificado, a cura para os doentes e paz no descanso para entes que já se foram; o ritmo é uma mistura de tristeza e acalento, um verdadeiro bálsamo para a alma.
“Na verdade, são cânticos de solicitude e lamento. Nessas horas, pedimos proteção para os enfermos e paz para o que já se foram”, explica Genésio Rodrigues, um dos integrantes do grupo.
Além das Estações, a Encomendação acontece nos dois cemitérios existentes em Mazagão Velho e se encerra por volta de meia-noite na frente da igreja, quando as equipes voltam a formar um só grupo que faz o cântico final em volta de uma cruz formadas por velas acesas no chão, seguidos das orações do Pai Nosso e da Ave Maria. As letras são apócrifas e a cerimônia não tem uma idade definida; muitos acreditam ser mais uma herança dos chamados “primeiros mazaganistas”, colonizadores do lugar que vieram da África no século 18.
É mais um ritual que alimenta uma aura de magia e misticismo que cerca a vila de Mazagão Velho. Mais uma tradição secular que faz de sua gente um verdadeiro povo de cultura e fé.
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