Devoção religiosa na formação da identidade cultural da Vila de Carmo do Macacoari
No livro “A promessa que virou a festa de São Sebastião de Carmo do Macacoari”, Durica Almeida conta a história da tradicional vila através de pesquisa, documentos, da fala dos antigos moradores e do fervor religioso
Célio Alício
Da Redação
No dia 2 e junho deste ano a professora, pesquisadora, escritora, ativista cultural e defensora do direito das mulheres negras Maria das Dores do Rosário Almeida, conhecida como Durica Almeida, lançou seu mais recente livro intitulado “A promessa que virou a festa de São Sebastião de Carmo do Macacoari”. A obra foi lançada através do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (IMENA) e impressa pela Editora Cromoset.
O livro aborda a religiosidade católica de viés popular pautada na devoção a São Sebastião cuja festa litúrgica é celebrada pela festejada pel catolicismo no dia 20 de janeiro e é a principal data do calendário cultural da Vila do Carmo do Macacoari, localizada no município de Itaubal do Piririm e distante 115 km de Macapá no acesso pela Rodovia AP 70 Alceu Paulo Ramos, conhecida tradicionalmente como Rodovia do Curiau.
De acordo com o texto da autora, a evolução histórica da comunidade tomou um rumo diferente a partir de um fato histórico ocorrido há 113 anos e que se constituiu num “divisor de águas” na história local. Em 1910, um cavalo apelidado “Pé de Dança” pertencente ao vaqueiro Januário Paulo do Rosário, conhecido como “Januário Apurema”, adoeceu e seu dono fez uma promessa a São Sebastião para que o seu animal tivesse a saúde restabelecida.
Com a graça alcançada, o promesseiro honrou a promessa de realizar anualmente uma festa em louvor ao santo “milagreiro”. Assim, a Vila do Carmo do Macacoari se tornou palco de uma das maiores festividades do estado do Amapá e da Amazônia, composta de novenário, missa, procissão, atividades lúdicas e sociodesportivas, competições como a corrida de cavalo, e o tradicional baile dançante. Cerca de 15 a 20 mil pessoas de Itaubal do Piririm, Macapá, demais municípios amapaenses e visitantes de outros estados e países se juntam aos membros da comunidade no evento em louvor a São Sebastião que dura cerca de 10 dias.
Dividido em cinco capítulos, o livro “A promessa que virou a festa de São Sebastião de Carmo do Macacoari” trata da evolução histórica, religiosa e cultural da comunidade a partir de uma cuidadosa pesquisa documental e de um roteiro de entrevistas com antigos moradores, especialmente as mulheres, cujos relatos emolduram e enriquecem o conteúdo produzido pela autora.
O primeiro capítulo, “No tempo dos mururés e dos bacurizeiros”, traz as origens históricas da comunidade e a etimologia que inspirou sua denominação; o segundo capítulo, “O tempo do promesseiro festeiro da festa de São Sebastião” discorre acerca da pessoa que fez a promessa que deu origem à festividade, a partir de um fato inusitado: a doença de um animal; O terceiro capítulo, “O tempo das aves ciganas e das poucas casas” aborda os primórdios da festa religiosa; o quarto capítulo, “No tempo do festeiro e dos(as) promesseiros(as)” detalha o roteiro da festividade e as pessoas envolvidas na sua organização; e, o quinto e último capítulo, “O tempo dos outros”, observa as alterações ocorridas no evento religioso a partir de influências e interferências externas, com acento no aspecto econômico e seus impactos.
Com a obra, Durica espera poder contribuir substancialmente para que outros estudos sobre a comunidade sejam ensejados em diferentes áreas da pesquisa científica e para a preservação da história e da cultura da Vila do Carmo do Macacoari, especialmente no tangente às tradições e festividades que marcaram a trajetória histórica local e a tocante devoção religiosa de sua gente.
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