Grupo “Guá” cria Movimento do Marabaixo Estilizado
“Guá” é uma forma de expressão verbal bastante utilizada para demonstrar emoções como a alegria, tristeza e, muitas vezes, surpresa. Um termo universal que tem a proposição de servir em ocasiões como receptivos, eventos, familiares, congressos e encontros comerciais, adequando-o de acordo com a sua necessidade.
Heraldo Almeida
Editor de Cultura
Há anos que aguardamos um novo olhar, um novo pensar e um novo fazer para abrilhantar, ainda mais, o cantar e o tocar dos “ladrões” da cultura-mãe popular do Amapá, que é o Marabaixo, Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mas isso, claro, sem perder a essência, respeitando sua tradição histórica e valorizando a raiz.
Foi com esse propósito que o jovem negro amapaense Wendel Uchôa, 22 anos, diretor e percussionista, criou em apenas dois meses o “Guá Movimento de Marabaixo Estilizado do Amapá” com outros jovens de comunidades e famílias negras tradicionais do Amapá. Wendel esclarece que o objetivo é valorizar e enriquecer o Marabaixo, sem agredir e respeitando sua história e tradição, mas com uma pitada de criatividade e modernidade em seu fazer na dança e musicalidade, tornando mais atrativa e moderna sua apresentação.
Para o doutor em antropologia, Fernando Canto, essa manifestação popular, que é o Marabaixo, precisa ser mais compreendida e aceita pela juventude, como a do Grupo Guá, que se manifesta de forma ensaiada, respeitosa à tradição, organizada e criativa. Lembra que o Grupo Pilão, criado por ele, seu irmão Juvenal Canto e Bi Trindade (falecido), em 1975, gravou suas primeiras obras (Marabaixo e Batuque) com essa mesma finalidade de evoluir, mas que até hoje, infelizmente, ainda há resistência à modernidade, o que em nada contribui para a evolução do belo. “Eu achei maravilhoso o que vi e ouvi desses meninos na Estação Lunar&rdquo ;, acrescenta Fernando Canto.
Perguntando ao maestro, músico, compositor e arranjador paraense Manoel Cordeiro (com mais de 40 anos pesquisando a música brasileira), sua opinião sobre essa novidade do Guá, ele respondeu que a atitude do grupo de Marabaixo Estilizado é genial e que é assim que surgem coisas novas. “Essa experiência de incluir outros instrumentos no Marabaixo eu fiz com o Grupo Pilão, em seu primeiro disco, ‘Quando o Pau Quebrar’. Cara, eu acho super legal essa experiência e parabenizo o grupo. Diga que aqui de São Paulo estou torcendo e que acredito nessas iniciativas de misturarem tambores e caixas de Marabaixo com instrumentos de harmonia. Isso é muito legal e atesta , mais uma vez, a criatividade da música amapaense”, finalizou Manoel Cordeiro.
O Grupo Guá é formado pelos artistas Marcelo Coimbra, Marcus Paes, Raullian Paes (caixas), Wendel Uchôa (reco), Paulinho Rosário (cavaco), Paulinho Albuquerque (baixo), Antônio Neto (violão), Ruan Diego (flauta), Jéssica Wanny e Juliana Souza (cantadeiras).
Os mestres ancestrais do Marabaixo, que já se foram e deixaram muitos “velsos bandaiados”, do céu estão felizes, pois essa nova geração está valorizando e tornando muito mais espetacular o que eles iniciaram, pois só quem ama o passado é quem não ver que o novo sempre vem. “No Marabaixo é assim/Cada canto tem sua história/Cada quilombo tem seu jeito e cada preto tem sua prosa”.
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