A música do Marabaixo é composta de cânticos acompanhados de membranofones feitos em madeiras esculpidas. Ainda procuramos compreender, em uma perspectiva interpretativa, a importância desta manifestação enquanto elemento de identidade social e etnicidade, partindo de uma abordagem etnomusicológica
Os cânticos são chamados de “ladrões” (versos), porque, durante sua execução um participante “rouba” a “deixa! do outro e, a partir do mote roubado, de forma improvisada, compõe um novo verso. Depoimento deixado pelo saudoso “Mestre Pavão”, os mais de cinqüenta “ladrões” do Marabaixo, que ainda são lembrados pelos mais velhos, foram feitos pelos antigos. “Pavão” acrescentou que o sanfoneiro e compositor brasileiro, Luiz Gonzaga (Rei do Baião), quando passou por Macapá, por épocas da migração para o bairro do Laguinho, hospedou-se na casa de seu avô, Julião Ramos, e ouviu cantar “aonde tu vai rapaz”. Gostou, e, num repente, tirou outro verso – ou antes, um novo “ladrão”: “Marabaixo em Macapá já teve já teve um grande cartaz/já foi cantado no Rio Aonde tu vai rapaz”.
O tambor, chamado de caixa de Marabaixo, que foi adotado como símbolo da tradição para fins publicitários, pode ser tocado em diversos tempos e ritmos, denominados “dobrados da caixa”, conforme o canto. As pesquisas registram um grande fabricante de caixa de Marabaixo, Joaquim Sussuarana, mas hoje existem muitos outros e como destaque, citamos o “Pedro Bolão”, filho de Tia Chiquinha do Curiaú, uma família nobre de marabaixeiros. A madeira utilizada para a fabricação da caixa é de uma árvore cujo tronco é oco, chamada de “cabeça-de-negro”. O tronco é escavado com formão para não ficar pesado, é lixado e, por último, coberto com couro.
As baquetas, que tocam as caixas, não precisam ser específicas. Cada caixa tem uma afinação, dada pela “orelha” da caixa. É o que permite puxar a linha que aperta o aro da caixa que, por sua vez, aperta o couro e dá a afinação. “A gente afina uma bem alta, outra mais baixa e outra mais ou menos, pra ficar um som remediado e dar um som diferente, pra poder sair o som dentro do “ladrão” que a mulher está cantando”. Dizia o “Mestre Pavão”. E finaliza: “Com uma baqueta você bate só agüentando e com a outra dá o som, um baque diferente pra cada caixa”.
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