Missa dos Quilombos exalta união e fé do povo afro do Amapá no Encontro dos Tambores
Em 2023, o tema da celebração, na segunda-feira, Dia da Consciência Negra, foi ‘Vidas e Culturas Negras Importam’
O rufar dos tambores das comunidades deu início à tradição de fé e resistência do povo negro na Missa dos Quilombos, nesta segunda-feira (20) Dia da Consciência Negra. A cerimônia trouxe o sincretismo religioso para marcar o ponto alto do 28º Encontro dos Tambores, no Centro de Cultura Negra Raimunda Ramos, no bairro do Laguinho.
Com as caixas de marabaixo ditando os passos dos santos e orixás, a Missa dos Quilombos apresentou o tema “Vidas e Culturas Negras Importam” e trouxe representações dos caboclos, orixás e entidades religiosas.
A celebração também contou com as imagens de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Conceição, São Benedito e São José, este último carregado pelo governador do Amapá, Clécio Luís. As imagens são trazidas para a missa pelas comunidades participantes da cerimônia. Este ano o Governo do Estado garantiu estrutura e hospedagem para 38 comunidades vindas do interior do estado.
“Esse é o momento de manifestar a importância de toda a sociedade, de ter a consciência negra. A Missa dos Quilombos é uma programação que tem ato político, mas com muita religiosidade, fé e ancestralidade. É um evento representativo da sociedade amapaense, feito ano a ano e é um exercício de autoafirmação do que nós somos, de onde viemos, o fazer cultural e a intelectualidade”, reforçou o governador Clécio Luís.
A missa integrou cultura, resistência e tradição. A oferta, simbolizada pelos alimentos entregues às pessoas, representou o entrelaçamento entre santos e orixás, a entrega de frutos e legumes também remete ao cultivo no campo, o alimento que sustenta as comunidades. O tradicional banho de cheiro benzido foi disputado entre o público presente, incrementado com atrativos de boa saúde, prosperidade e renovação das energias.
“Mais um ano nós estamos aqui e estamos vendo algo lindo, o Centro de Cultura Negra totalmente lotado. A Missa dos Quilombos é um ato de resistência, político, é o mais revolucionário do Amapá. Aqui, nós sonhamos a sociedade que Jesus sonhou. Em 30 anos, eu nunca vi esse lugar tão cheio, este é o maior Encontro dos Tambores de todos os tempos”, reforçou o padre Paulo Roberto Matias durante a cerimônia. A técnica em enfermagem Laura Maria Barros, de 24 anos, este ano, representou Yansã, que simboliza as matas, as ervas e os banhos que trazem cura.
“É uma honra muito grande para mim representar Yansã, porque há três anos que eu participo da religião, iniciada no Candomblé, então estar nesse evento é uma vitória muito grande, porque a gente está aqui, resistindo e lutando contra o preconceito para celebrar a vida, a cura e o acolhimento”, destaca Laura.
Representatividade
No Amapá, são mais de 12,5 mil pessoas quilombolas, segundo o Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representando 1,7% da população do estado. Este número integra os 73% daqueles que se declaram negros ou pardos no Amapá. Diante de uma presença tão forte, a construção de políticas públicas e de visibilidade dessa população se tornam uma marca da atual gestão.
“Em todo esse sincretismo religioso que nós temos aqui, é uma missa que simboliza a nossa cultura. Somos um povo preto resistente que reflete nesse Dia da Consciência Negra um sofrimento que ainda tem resquícios na sociedade, mas que também celebra o seu viver, porque a Missa é para dizer que se nós estamos aqui é porque muitos tombaram, mas também muitos garantiram que estivéssemos aqui tendo uma efetivação de políticas públicas”, explicou a presidente da Fundação Marabaixo, Josilana Santos.
O 28º Encontro dos Tambores é uma realização da União dos Negros do Amapá (UNA) com Instituto Cultural Língua Solta e Grêmio Recreativo Piratas Estilizados. O Governo do Amapá apoia o evento, que também conta com apoio da ex-deputada estadual, Cristina Almeida e do vereador Dudu Tavares, que destinaram recursos de emenda para a festividade.
O evento segue até o próximo domingo, 26, com uma vasta programação envolvendo comunidades rurais e urbanas, segmentos culturais diversos, visita da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e encerramento com show do grupo de pagode, Fundo de Quintal.
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