O adeus ao eminente professor Nilson Montoril de Araújo
Após submetido à cirurgia cardíaca, imortal da Academia Amapaense de Letras deixa grande legado na cultura e na comunicação amapaenses
Paulo Tarso Barros
O dia 28 de março de 2023 nos deixou tristes com a morte de Nilson Montoril de Araújo, um cidadão que dedicou ao Amapá o foco de suas extensas pesquisas amplamente divulgadas no rádio e na imprensa, e através de dois livros publicados em 2004: Banda – O Arrastão do Povo e Mar acima, Marabaixo).
Nascido no dia 2 de maio de 1944, um ano após a criação do Território Federal do Amapá, Nilson se dedicou ao trabalho na imprensa, tornando-se o decano. Passou por praticamente todos os principais veículos de comunicação do Amapá e depois do advento da internet criou o seu blog e, posteriormente, um perfil no Facebook.
Nilson passou os primeiros anos de sua vida em Mazagão e no reduto do rio Furo Seco, na Ilha de Marajó (entre 1944 a 1948). Filho de Francisco Torquato de Araújo, natural de Mazagão, e da cearense nascida em Assaré, no Crato, Olga Montoril de Araújo, que tinha parentesco com o grande poeta Patativa do Assaré. Desde criança acostumou-se aos festejos populares, tanto profanos como religiosos, e absorveu muitas influências positivas da cultura e da religiosidade do nosso povo.
Nilson era casado com dona Rosa Montoril e, na época da pandemia, o casal perdeu seu filho primogênito, Nilson Júnior, o que foi um abalo muito grande para a família e certamente afetou a sua saúde de forma visível. Seus outros filhos chamam-se Débora e Torquato Neto.
Sua infância em Macapá foi rica em brincadeiras e amizades que se estenderam para o resto da vida e que lhe possibilitaram ser testemunha de muitos eventos que posteriormente serviram de inspiração para os seus trabalhos de pesquisador que ele incansavelmente foi divulgando ao longo dos anos, tendo sempre grande receptividade do público carente de informações sobre esta terra. Foi uma testemunha da vida social e cultural do Território Federal do Amapá e de sua transformação em Estado.
Na sua vida pública, como funcionário federal, o professor Nilson Montoril de Araújo exerceu vários cargos, como presidente do Conselho de Educação, presidente do Conselho de Cultura e se aposentou como servidor da Unifap. Era também conselheiro da Banda.
Formado em Administração, tinha muito talento para organizar as coisas, como se diz, e foi o que fez nos conselhos de Educação e de Cultura e na Academia de Letras. Nilson também era integrante da Academia Amapaense Maçônica de Letras.
Desde os anos 80 ingressou na Academia Amapaense de Letras, que havia sido criada em 1953, e poucas vezes se reunira ou fizera alguma atividade, até por falta de membros ativos – muitos dos quais estavam em Macapá a trabalho e logo foram embora, ou mesmo faleceram, como ele frequentemente nos relatava.
Essa reativação dos anos 80 também teve poucos efeitos práticos, e a entidade ficou inativa até 2017, quando houve um edital e no dia 17 de outubro 18 novos acadêmicos tomaram posse no Centro de Convenções, revitalizando a entidade que abriu novo edital para completar as 40 cadeiras, o que ocorreu em outubro de 2022, com o ingresso dos demais membros, e pela primeira vez a Academia completou o seu quadro de sócios efetivos e perpétuos, que agora lutam para a aquisição de uma sede própria e digna.
Em 2022, o professor Montoril, já se sentindo cansado e enfrentando problemas de saúde (tratou-se de um câncer e estava usando marca-passo), deu como cumprida a sua missão à frente do silogeu, decidiu deixar a presidência da Academia e passou o comando para o escritor Fernando Canto.
Em uma reunião, apresentei ao plenário a proposta de homenageá-lo, tornando-o presidente de honra, o que foi aprovado por unanimidade. Foi uma maneira de agradecermos sua imensa contribuição durante muitos anos, cuidando da papelada e sendo o guardião do arquivo e da memória da Academia.
Infelizmente, quando estamos nos preparando para as festividades dos 70 anos de fundação da Academia, programando uma série de eventos, inclusive com a entrega de uma placa de homenagem especial ao professor Nilson Montoril, ele nos deixa. Seu legado de trabalho, seu firme caráter, sua inteligência brilhante e talento para contar histórias hão de ficar em nossa memória. Nós da Academia Amapaense de Letras temos essa referência acadêmica na figura austera, dinâmica e muito competente do professor Montoril.
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Paulo Tarso Barros, escritor, editor e professor, membro da Academia Amapaense de Letras – AAL.
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