O imortal R. Peixe
Foi o mais popular e eclético artista plástico do Amapá que se tem notícia. Valorizava muito as paisagens amazônicas, uma temática comum utilizada por ele. Também produziu centenas de paisagens urbanas, nas quais os aspectos da fortaleza de São José eram evidenciados, bem como a velha igreja, a doca, a dança do marabaixo e retratos de personalidades locais.
Raimundo Braga de Almeida/R.Peixe. Mestre imortal das formas e cores, dos enigmas, das dimensões do real e irreal, do imaginário popular e do cotidiano amazônico. Sua exposição intitulada Expressões de Tons, organizada pela família, no Monumento Marco Zero do Equador, é show! Um excelente convite aos amantes da boa pintura. Pintura Impressionista e Expressionista, Cubista, Fantástica e Abstrata, por exemplo, é a diversidade da mostra plástica. O período de visitação pública vai até o dia 24 de julho, de terça a domingo, das 8h às 19h.
Na abertura de sua exposição lá estavam familiares e velhos amigos de arte, desde a criação do Movimento Artístico Popular, o MOAP (1983): Wellington Silva, Siqueira, Ivan Amanajás, Wagner, Deko, Ronaldo Picanço, Irê Peixe, Beto Peixe, Reginaldo Almeida (peixinho), Cinthia Peixe, Nilda Peixe e dona Maria de Nazaré, a matriarca da família Peixe.
Mentor da chamada Pintura Fantástica em óleo sobre tela,pintura que só admite linhas curvas e cores fortes assim como da Nova Figuração, concebida através do emprego de espátulas, imprimem a nós mortais, admiradores de sua arte, o inesperado. Temáticas fortes e show de formas e tons,eis o que se pode dizer de sua Pintura Fantástica e da Nova Figuração, por exemplo. Mas, o que mais me chamou a atenção na exposição foram os painéis em óleo sobre tela intitulados Inédito 2, 3 e 4. Antes de falecer o artista plástico declarou que “os quadros modernos refletem minha revolta”. Pânico, fuga, horror, medo e morte retratados com rara maestria. A temática e a técnica empregada impressionam qualquer um. Foram as últimas obras criadas pelo mestre. Diabólico,murmurariabaixinho um leigo. Não, diria Freud,“somos feitos de carne. Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.A nossa civilização é em grande parte responsável pelas nossas desgraças (Sigmund Freud)”.
Sobre a pintura de R. Peixe, o artista plástico Iaperi Araújo, membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, escreveu:
“Gratifica-nos aos olhos a extrema concisão e equilíbrio de formas e cores de um artista como R. Peixe. Sua temática regional obedece a um esquema nitidamente de alegoria festiva. O artista sabe-se criador e por mais estilos que exercite, deixa demonstrar essa inquietude de fazer nascer sempre o belo.”
O sociólogo, poeta, músico e escritor Fernando Canto assim se referiu aoartista:
Foi o mais popular e eclético artista plástico do Amapá que se tem notícia. Valorizava muito as paisagens amazônicas, uma temática comum utilizada por ele. Também produziu centenas de paisagens urbanas, nas quais os aspectos da fortaleza de São José eram evidenciados, bem como a velha igreja, a doca, a dança do marabaixo e retratos de personalidades locais.Apesar da diversidade de sua obra, R. Peixe costumava dizer que não seguia nenhuma escola de pintura. Admirava Pablo Picasso, Rafael, Lavoisier, a brasileira primitivista Djanira e o potiguar Dorian Gray. “Sou um eterno aprendiz”, dizia ele.
No catálogo de sua 37 Exposição Individual de Pintura, realizada no período de 26 de setembro a 6 de outubro de 1995, no hall de entrada do Teatro das Bacabeiras, o saudoso poeta e escritor Isnard Lima publicamente manifestou sua crítica sobre a Pintura Fantástica:
“Acompanho há muitos anos a caminhada artística de R. Peixe. Fui olhar de perto seus novos trabalhos. Nesta mostra destaca-se a Pintura Fantástica, que Peixe oficialmente apresenta ao público desta terra pela primeira vez. É uma escola de pintura que aceita apenas linhas curvas. São símbolos, transparências, figuras e uma riqueza de cores que permite ao observador uma estranha viagem. Há uma conotação hermética na simbologia plástica das telas. O psiquismo do pintor flui em espirais, tremeluz em fantasias cromáticas e dimensiona a sua visão de um mundo que é o seu próprio microscópio. A arte de R. Peixe é dinâmica. O novo, o extraordinário e o emocionante sempre surgem em suas exposições que se mostram a nós como um universo plástico em permanente ascensão”.
O decano da pintura amapaense faleceu aos 73 anos em Natal, Rio Grande do Norte, no dia 1 de março de 2004, por volta das 13h45. Seu corpo foi velado com honras e pompa fúnebre na Loja Maçônica Acácia do Norte, em Macapá, capital do Amapá, no dia 4 de março, e depois seguiu em cortejo fúnebre no carro de bombeiros pelas principais ruas da cidade, com pequena parada em frente à Escola de Artes Cândido Portinari, obra por ele idealizada, construída no Governo Annibal Barcellos, em meados dos anos 80. Com sua arte, Peixe projetou internacionalmente o Amapá.
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