Quilombo do Rosa recebe título definitivo de posse de terras do governo federal
Conquista é reflexo das batalhas enfrentadas por muitas comunidades tradicionais no Brasil que, em meio a ameaças de grileiros e grandes corporações, continuam a resistir em defesa de seu território, cultura e direitos básicos
O Quilombo do Rosa, juntamente com outras 20 comunidades quilombolas, viveu momento histórico de justiça e reparação, recentemente. Em cerimônia simbólica, o presidente Luís Inácio Lula da Silva entregou no Quilombo de Alcântara, no Maranhão, o tão esperado título definitivo de posse de terras a essas comunidades, em um gesto que resgata parte da dívida histórica do Brasil com sua população negra. O ato devolve aos quilombolas o direito de propriedade sobre suas terras, reconhecendo sua luta e resistência secular.
Ao todo, mais de 4,5 mil famílias de nove estados brasileiros foram beneficiadas, recebendo o domínio de mais de 120 mil hectares de território. Esses títulos representam muito mais do que uma formalidade jurídica.
O evento, que contou com a presença de autoridades e representantes de entidades como a Fundação Marabaixo do Governo do Amapá e a presidente da Associação do Quilombo do Rosa, teve um significado profundo para as comunidades quilombolas. Josilana Santos, diretora-presidente da Fundação, destacou a importância do momento: “Não foi apenas um ato político, mas um tributo às raízes africanas que sustentam a identidade cultural do Brasil. O reconhecimento dessas terras quilombolas reforça a conexão entre o passado e o futuro do país, alinhando a preservação da cultura negra ao desenvolvimento tecnológico, especialmente com o fortalecimento do Programa Espacial Brasileiro”, concluiu Josilana.
Joelma Menezes, presidente da Associação do Quilombo do Rosa, expressou sua gratidão emocionada por essa conquista tão aguardada: “Este é um momento histórico para todos nós. Foram 19 anos de luta, e, finalmente, o direito legítimo ao nosso território ancestral foi reconhecido. Agradeço especialmente ao nosso povo guerreiro do Quilombo do Rosa, que resistiu e insistiu na justiça.” Ela também homenageou sua mãe, Maria Geralda, de 73 anos, e todos os antepassados: “Honramos aqueles que construíram essa resistência e as gerações que ainda virão. O Título Definitivo de Domínio é mais do que um documento, é a consolidação de nossa dignidade e o reconhecimento do nosso direito de pertencer a essa terra. Este título é a materialização da resistência”, finalizou Joelma.
Quilombo do Rosa: um século de luta e resistência reconhecido com título de posse
O Quilombo do Rosa, situado nas margens do rio Matapi, em Macapá, carrega uma história de resistência que remonta ao século passado. Desde 1900, quando Josino Valério de Azevedo Coutinho registrou a Declaração de Posse, a comunidade lutou por gerações para preservar seu território. No século XXI, essa luta se intensificou. Em 2004, a comunidade iniciou o processo de titulação coletiva de suas terras junto ao Incra, com o reconhecimento formal vindo em 2010.
A resistência quilombola não foi apenas jurídica. A comunidade enfrentou em 2010 uma grave ameaça ambiental quando uma mineradora tentou despejar rejeitos tóxicos em seu território. Após a descoberta da ação, os moradores se uniram para expulsar a empresa e destruíram a estrutura que ameaçava contaminar suas terras.
Esse episódio desencadeou uma organização interna que resultou na criação da Associação dos Moradores e Produtores do Quilombo do Rosa, fortalecendo a luta pela regularização fundiária. Entretanto, a comunidade enfrentou um momento traumático com o assassinato do patriarca Benedito, encomendado por um grileiro, o que reforçou o estado de alerta e a necessidade de proteção permanente.
A luta do Quilombo do Rosa é um reflexo das batalhas enfrentadas por muitas comunidades tradicionais no Brasil que, em meio a ameaças de grileiros e grandes corporações, continuam a resistir em defesa de seu território, cultura e direitos básicos. Assim, além da conquista do título de posse de suas terras, o Quilombo do Rosa enfrenta o desafio de garantir um ambiente saudável para suas futuras gerações.
Texto: Cláudio Rogério
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