A história da festividade se confunde, justifica, tem relação direta e de certa forma se completa com as origens históricas do município, com condimentos significativos da religiosidade de matriz católica e influências sincréticas, residindo nesses dois últimos aspectos as origens e as proporções atingidas pela festividade e a devoção a São Tiago como fator de maior identificação da população local e de sua autoestima.
Tudo começou na segunda metade do século XVIII, no período colonial, quando o rei de Portugal D. José I desativou a cidadela de Mazagão situada no norte da África (atual El Jadida, Marrocos), em 1769, e sua população entre idas e vindas foi transladada para a Amazônia Setentrional, em território pertencente à então província do Grão Pará e Maranhão, num período em que essa região era minimamente povoada e sofria com assédio de países estrangeiros interessados em suas riquezas.
Os motivos que causaram tal circunstância são políticos, econômicos e, especialmente, religiosos. Além da crise econômica que atingia o império mercantilista lusitano, e das dificuldades de administração de sua extensa e transcontinental área geográfica, os desgastantes conflitos entre nativos muçulmanos (mouros) e católicos portugueses (cristãos), também contribuíram para a agudização da crise, não restando alternativas à metrópole ibérica senão desativar aquele núcleo colonial e retirar os colonos lusitanos para Portugal ou outros compartimentos de seu imenso território colonial.
Em 23 de janeiro de 1770, no governo de Fernando da Costa Ataíde Teive (1763-1772), foi fundada a vila de Nova Mazagão (atual Mazagão Velho), a partir de um minúsculo povoado às margens do rio Mutuacá, que se avolumou demograficamente seis meses depois com a chegada de cerca de 160 famílias de um total de 340 que partiram com seus escravos e pertences da África na direção do Brasil.
Após sete anos na nova terra, com o incremento e desenvolvimento da produção agrícola baseada no plantio de arroz e algodão para o abastecimento interno e da própria Belém, sede de governo do Grão Pará e Maranhão, as famílias imigrantes iniciaram a festividade em louvor a São Tiago tendo como pano de fundo a “Guerra Santa” entre mouros e cristãos e que fora favorável aos católicos portugueses graças à bravura e heroísmo de São Tiago coadjuvado por outro guerreiro que segundo a devoção era ninguém menos que São Jorge.
Os episódios que constituem a narrativa da saga de São Tiago da Espada são emblemáticos e a simbologia da festividade resume em si a própria existência da vila assoalhada na devoção de sua gente e nos aspectos pitorescos que caracterizam a quadra festiva e que mobilizam toda a comunidade para recepcionar as pessoas que se deslocam para Mazagão Velho para prestigiar o maior evento de todo o município.
Além das novenas e ladainhas, arraiais e peregrinações, missas e procissões, o calendário da festividade inclui outros eventos que não são necessariamente circunscritos ao universo religioso católico. A cultura, o lazer e o entretenimento compõem o pacote de opções da festividade, e incluem gincanas estudantis, shows artísticos, comércio artesanal e gastronômico, entre outras circunstâncias que oxigenam a economia local e incentivam e viabilizam o turismo, além do aspecto mais significativo do ponto de vista visual, que é a teatralização a céu aberto dos diferentes episódios da “guerra santa” entre mouros
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