Trabalhos arqueológicos possibilitam experiências sensoriais a pessoas com deficiência visual
Acessibilidade permite que cidadãos participem do processo de resgate histórico do Parque Residência

Durante as escavações que estão sendo realizadas, onde fica localizada a antiga Casa Oficial do governador do Amapá, na orla de Macapá, que será transformada em um “Parque Residência”, operários e arqueólogos, contratados pelo Governo do Estado, receberam a visita de Alice Chagas, aluna com deficiência visual, que estuda história na Universidade Federal do Amapá (Unifap) e é voluntária no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (Cepap) da universidade.
O local será um dos principais espaços de turismo e cultura da capital, com vários ambientes de contemplação, restaurantes, galerias, cafeteiras, playground para crianças e muitas oportunidades para empreendedores. A reestruturação da Residência Oficial visa preservar a história do imóvel e implantar estruturas mais modernas, de acordo com o Plano de Governo da gestão, utilizando recursos garantidos pelo Tesouro Estadual. As obras estão sob coordenação da Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinf).
A vontade de Alice, 22 anos, de visitar um trabalho de campo arqueológico, sempre existiu e foi ampliada pelo fato de que estão sendo encontrados, objetos raros como moedas, cachimbos e louças, vestígios materiais pertencentes a grupos culturais distintos, como europeus, indígenas, feitos com mão de obra africana que remetem aos séculos XVIII e XIX. Os estudos acontecem de acordo com as normas de preservação do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural (Iphan).
Alice destacou estar realizando o sonho de conhecer o trabalho e agradeceu ao Governo do Amapá por propiciar esse momento de imensa felicidade. Ela fala que nunca ouviu falar de um arqueólogo cego e que seu maior desejo é ser a primeira pessoa com deficiência visual a trabalhar na área.
“Sou apaixonada por arqueologia e por isso, atuo voluntariamente há um ano e meio no laboratório do Cepap. Lá, faço higienização, análise de material arqueológico e curadoria. Sou muito grata ao Governo do Estado e aos especialistas que possibilitaram que viesse conhecer o trabalho de escavação de perto. Sempre fui curiosa e quando criança já queria ter contato com urnas funerárias e objetos utilizados em outras épocas, por outras civilizações”, declarou a estudante.
Alice foi convidada por Kleber Souza, coordenador da pesquisa arqueológica que também está participando das escavações na área junto com a sua equipe técnica. O arqueólogo enfatiza que os estudos mostram que a casa foi construída, originalmente, em um sítio arqueológico, e que as pesquisas foram impreteríveis para a realização da obra, a fim de preservar o patrimônio histórico, segundo solicitação do Governo do Amapá.
“Estamos trabalhando aqui, há cerca de dois meses, e encontramos um repertório variável de louças europeias refinadas, conhecidas como “faianças” e cerâmicas indígenas em contexto de escravidão relacionadas ao final do século XVIII e XIX. São três diversidades culturais representadas pela materialidade dos artefatos”, frisou Souza.
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