Presidente da OCB/AP é preso na segunda fase da operação ‘Senhores da Fome’
Gilcimar Barros é acusado ameaçar membros da empresa Agrocoop para que ficassem calados e não colaborassem com as investigações da operação que apura desvio de verba pública.
O presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas no Amapá (Sistema OCB-AP), Gilcimar Barros Pureza, foi preso preventivamente na manhã desta sexta-feira (15), em casa, no bairro Beirol, zona sul da capital, durante a segunda fase da operação ‘Senhores da Fome’, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério Público Federal (MPF), e que investiga o desvio de cerca de R$ 2 milhões destinados a compra de merenda escolar na rede pública estadual.
Segundo a PF, Gilcimar é acusado de ter ameaçado membros da empresa Agrocoop, investigada no esquema, para que ficassem calados e não colaborassem com as investigações.
Algemado, ele chamou de ‘pirotecnia’ a ação, afirmando não ter envolvimento com os crimes citados.
Ainda durante a operação foram cumpridos três mandados de condução coercitiva e três mandados de busca e apreensão em Macapá. Em nota a PF diz que o presidente da OCB/AP “exercia influência direta na administração da Agrocoop, empresa investigada pela não entrega de alimentos de agricultura familiar para as escolas do Estado do Amapá”. Mais de 50 diretores escolares e outros servidores públicos estão sendo investigados no esquema.
Também em nota, a assessoria do Sistema OCB diz que: “Desde o início tem contribuído com as investigações da operação Senhores da Fome, na qual a Cooperativa Agrocoop está sendo investigada, e que enviou um documento a Polícia Federal no dia 6 de novembro de 2017, se colocando a disposição para prestar qualquer tipo de esclarecimento e entregar a documentação necessária que estivesse em posse da OCB-AP para garantir o sucesso da investigação”, diz um trecho a nota.
A assessoria do sindicato conclui afirmando que “O presidente do Sistema OCB-AP, Gilcimar Pureza, tem contribuído diretamente nas investigações, e foi levado para prestar esclarecimentos neste momento, e soma junto ao trabalho da PF”, conclui.
Prisão, condução coercitiva e busca e apreensão
A Polícia Federal, com o apoio da Controladoria-Geral da União e do Ministério Público Federal, deflagrou na manhã desta sexta-feira (15) a segunda fase da operação ‘Senhores da Fome’, que investiga o desvio de recursos destinados a merenda escolar do Amapá. Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva, três mandados de condução coercitiva e três mandados de busca e apreensão em Macapá.
Segundo a PF, ao longo da investigação, foi apurado que o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Amapá (OCB/AP), Gilcimar Barros, exercia influência direta na administração da Agrocoop, empresa investigada pela não entrega de alimentos de agricultura familiar para as escolas do Estado do Amapá. O ‘sócio oculto’, no entendimento da PF, é suspeito de ter ameaçado membros da empresa para que ficassem calados e não colaborassem com as investigações.
Também estão sendo investigados os membros do conselho fiscal da Agrocoop. De acordo com o apurado, eles não tinham conhecimento do funcionamento da empresa e constavam no quadro apenas para dar aparência de legalidade. Os investigados irão responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de organização criminosa e obstrução de justiça.
Empresários já haviam sido presos
Os empresários Edilson da Rocha Lima, Elivaldo da Silva Santos e Edilson dos Reis Lima foram presos no dia 31 de outubro passado, Polícia Federal (PF), em cumprimento a mandados de prisão provisória expedidos pela Justiça Federal para apurar desvio de recursos destinados à merenda escolar no Amapá. O outro empresário que teve a prisão provisória decretada, Daciel Cunha Alves, foi apresentado posteriormente. Alvo de mandado de condução coercitiva, a ex-secretária de Educação Conceição Medeiros foi ouvida, mas liberada logo em seguida.
As investigações apontam o envolvido de 50 diretores de escolas e outros servidores da secretaria de estado da Educação (Seed) no desvio de metade dos recursos de um contrato de R$ 3 milhões e 200 mil destinados à merenda escolar em vários municípios amapaenses. A Operação Senhores da Fome, deflagrada pela PF em ação conjunta com o Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual (MP/AP), Controladoria-Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU), cumpriu, em sua primeira fase, quatro mandados de prisão temporária, sete mandados de condução coercitiva e 18 mandados de busca e apreensão.
Áudios revelam parte do esquema
O Ministério Público liberou mais áudios de conversas entre os envolvidos na operação Senhores da Fome, deflagrada em conjunto pela Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF/AP) e Ministério Público Estadual (MP/AP) no dia 31 de outubro deste ano em Macapá e em vários outros municípios do estado, revelam o esquema montado por servidores públicos para o desvio de recursos e distribuição de merenda escolar entre eles, além do recebimento de propinas. Em um desses áudios, um dos acusados, Daciel da Cunha Alves, afirma que “está tranquilo” porque o advogado dele “é o vice-presidente da OAB e é amigo do promotor de Justiça”.
As investigações apontam o envolvimento de 50 diretores de escolas e outros servidores da secretaria de estado da Educação (Seed) no desvio de metade dos recursos de um contrato de R$ 3 milhões e 200 mil destinados à merenda escolar em vários municípios amapaenses. A Operação cumpriue quatro mandados de prisão temporária, sete mandados de condução coercitiva, um dos quais em desfavor da ex-secretária de Educação Conceição Medeiros e 18 mandados de busca e apreensão.
A interceptação dos áudios de conversas telefônicas entre os investigados foi autorizada pela Justiça Estadual a pedido do MP/AP, tendo como alvos o empresário Elivaldo da Silva Santos, Proprietário da empresa E. Silva Santos Ltda, então fornecedora de merenda escolar nas escolas da rede estadual e o irmão dele, Rafael dos Santos Ferreira, também funcionário da empresa; Daciel da Cunha Alves, membro da Cooperativa Agroindustrial de Produção de Alimentos do Amapá (Agrocoop); Deodato Coutinho Lima, que exercia na época o cargo de gerente do Banco do Brasil; Joel Lopes dos Santos, funcionário da Escola Estadual Professora Nanci Nina Costa; Amélio da Silva Trindade, diretor adjunto da Escola Maria de Nazaré Pereira Vasconcelos; Maria do Rosário Costa Leite, então diretora da Escola Estadual General Emílio Garrastazu Médici; e, Vânia Regina Ferreira de Figueiredo, professora da Escola Estadual Professora Maria Cavalcante de Azevedo Picanço.
Em uma das gravações Elivaldo da Silva Santos comenta com Daciel que a troca dos gêneros alimentícios in natura (legumes, verduras, açaí etc…) por produtos industrializados é melhor e mais econômico pra ele. Também falam sobre a substituição do termo de recebimento dos produtos por uma declaração. Outro áudio mostra um diálogo entre Elivaldo e Deodato Lima. O primeiro, de posse dos cheques assinados em branco, conversa com o então gerente do Banco do Brasil, que se compromete a verificar os saldos das contas e informar a Elivaldo para que este preencha os cheques dos caixas escolares.
Uma gravação mostra Daciel da Cunha Alves afirmando a um homem não identificado que a situação da Agrocoop “está complicada” após denúncia feita ao Ministério Público Estadual. Outra conversa interceptada revela Elivaldo Santos articulando com Joel Lopes dos Santos para que “todos falem a mesma versão para evitar contradições”, na tentativa, segundo o MP/AP, de atrapalhar as investigações. Em outro áudio Amélio da Silva Trindade orienta Rafael dos Santos Ferreira, fornecedor de merenda escolar, a desviar parte dos produtos para sua casa, determinando que sejam entregues na escola somente as verduras.
Em outra gravação Daciel da Cunha Alves fala sobre um golpe que pretendem dar na Agência de Fomento do Amapá (Afap) e seu interlocutor, que não foi identificado, diz a ele para formarem um grupo de golpistas.
Em outro áudio Maria do Rosário Costa cobra de Edilson dos Reis Lima a entrega de material da merenda escolar que nunca foi entregue na escola Emílio Garrastazu Médici. Em outra gravação, Elivaldo da Silva Santos e Vânia Regina Ferreira de Figueiredo comentam sobre propina a ser paga, possivelmente, para os responsáveis do setor de licitação da Seed.
Elden Carlos
Editor
Deixe seu comentário
Publicidade