Convocado por Randolfe, ministro do Turismo nega existência de candidaturas-laranja no PSL
O ministro depôs em uma audiência pública da Comissão de Fiscalização e Controle
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, negou nesta terça-feira (22) a existência de candidaturas-laranja no PSL de Minas Gerais. Presidente licenciado do diretório mineiro e eleito como o deputado federal mais votado do estado, ele disse que — por causa da onda produzida pela candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República — a legenda tinha muitos filiados com chances de eleição em 2018. Segundo Marcelo Álvaro, alguns nomes foram retirados da disputa para que a sigla tivesse 179 postulantes à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa.
— Nesse cenário, não fazia sentido ter laranjas. Quem foi candidato efetivamente concorreu e fez campanha — frisou.
O ministro depôs em uma audiência pública da Comissão de Fiscalização e Controle (CTFC). Ele foi convocado para explicar denúncias de que candidatas do partido em Minas Gerais teriam sido coagidas a devolver ao PSL recursos de campanha oriundos do fundo partidário. Elas teriam concorrido apenas para cumprir a lei que destina 30% do dinheiro a candidaturas femininas.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento de convocação do ministro, abriu a lista de perguntas. Ele questionou Marcelo Álvaro Antônio sobre contratos firmados durante a campanha pelo PSL com uma empresa posteriormente fechada. A firma pertencia a Mateus Von Rondon, que foi nomeado assessor do Ministério do Turismo e preso em junho por suposto envolvimento no esquema de candidaturas-laranja. Marcelo Álvaro explicou que a empresa de Mateus Von Rondon era especializada em marketing político e teve como clientes não apenas candidatos do PSL, mas também de outros partidos.
Randolfe também pediu esclarecimentos sobre as acusações de Zuleide Oliveira, candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas Gerais. Segundo ela, Marcelo Álvaro Antônio teria pedido de volta, pessoalmente, dinheiro público do fundo partidário. O ministro explicou que, no dia em que as câmeras registraram a presença de Zuleide no partido, ele estava a mais de 300 quilômetros do local, na cidade de Caxambu (MG), no sul de Minas.
O senador citou ainda o depoimento de Cleuzenir Barbosa, outra candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas Gerais. Ela afirmou que dois assessores de Marcelo Álvaro Antônio teriam pedido de volta R$ 50 mil dos R$ 60 mil recebidos do fundo partidário. O ministro explicou que a candidata fazia elogios a ele nas redes sociais, mas, ao perder o pleito, teria começado a pedir reiteradamente emprego para familiares por mensagens de áudio.
Diante da negativa, Cleuzenir teria se virado contra o ministro. Segundo ele, em um dos áudios, a candidata dizia estar na porta de uma delegacia e ameaçava “que faria um estrago” caso não conseguisse o emprego que esperava.
— Dois dias depois, essa mulher simples deixou o país com a família inteira rumo a Portugal, e eu gostaria de saber quem os mantém lá — disse.
Randolfe questionou por que a deputada Alê Silva (PSL-MG) disse ter sido ameaçada pelo ministro do Turismo durante uma reunião em Minas Gerais. Marcelo Álvaro Antônio disse que a parlamentar se sentiu prejudicada pelo fato de o suplente dele, deputado Enéias Reis (PSL-MG), ter assumido prerrogativas que Alê Silva julgava serem dela na região do Vale do Aço, em Minas Gerais. Para o ministro, a denúncia foi retaliação em uma disputa de território intrapartidária.
Randolfe também indagou sobre um pronunciamento da deputada Dra. Soraya Manato (PSL-ES). No Plenário da Câmara, ela admitiu o uso de laranjas por partidos políticos. “Não tem ninguém santo aqui. Tem laranja em tudo que é partido. Aqui no PSL tiveram candidatos laranja, mas a grande maioria foi eleito honestamente'”, disse a paramentar.
— Ela poderia estar dizendo de outros estados e outros partidos. Em Minas, eu garanto que isso não aconteceu — rebateu Marcelo Álvaro Antônio.
Para Randolfe Rodrigues, a existência de candidaturas-laranja femininas é real. Ele comentou que, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das 16.131 candidatas da eleição passada, 14.417 não receberam sequer um voto. Para comparar, disse que apenas 1.714 candidatos homens estiveram na mesma situação.
O parlamentar também citou estudo das professoras Malu Gatto, da University College London, e Kristin Wyllie, da James Madison University, que revela o número de candidatas-laranja lançadas por cada partido no Brasil. De acordo com a BBC Brasil, que divulgou o estudo, o levantamento de Gatto e Wyllie mostra que 35% de todas as candidaturas de mulheres para a Câmara em 2018 não chegaram a alcançar 320 votos. Elas teriam sido usadas para cumprir formalmente a lei de cotas, mas efetivamente não fizeram campanha.
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