Da esperança à crise: os 13 anos de PT no poder
Os dois lados da moeda no quesito “Brasil Esperança” e “Brasil ruína”
Desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, o Brasil governado pelo PT viveu anos de crescimento econômico com criação de emprego, ampliação de programas sociais e redução da pobreza. Passou por dois grandes escândalos de corrupção envolvendo a alta direção do partido: o mensalão, em 2005, e a Lava Jato, deflagrada em 2014. Com o impeachment de Dilma, o partido deixa o poder e uma herança de recessão, inflação acima da meta, rombo nas contas públicas e redução de programas sociais. O impeachment interrompe o mais longo período de poder de um partido eleito democraticamente no Brasil: 13 anos e 132 dias.
A chegada ao poder
Lula perdeu três eleições presidenciais: em 1989, na primeira eleição direta após o fim da ditadura militar, foi derrotado no 2º turno por Fernando Collor de Mello; depois, em 1994 e em 1998, viu Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ser eleito no 1º turno. Durante a campanha eleitoral, com a possibilidade cada vez maior de Lula vencer, o dólar superou R$ 4. Era o medo dos operadores de mercado de que Lula, ao assumir, aumentasse gastos e cancelasse reformas feitas por FHC. Lula venceu no 2º turno o tucano José Serra. No primeiro pronunciamento após a vitória, disse que “a esperança venceu o medo”. O governo do ex-torneiro mecânico alcançaria índices expressivos de crescimento econômico e redução da pobreza.
Responsabilidade fiscal e escândalos
Ao assumir, Lula contrariou ao mesmo tempo as expectativas de parte dos críticos e de simpatizantes. Promoveu um intenso ajuste fiscal, cortando gastos, e aprovou no Congresso mudanças em regras da Previdência do setor público e do mercado de crédito. Ainda em 2003, a economia se recuperou e engatou um crescimento contínuo até a crise mundial de 2009, já no segundo mandato de Lula.
Na política, o PT enfrentou escândalos políticos já no primeiro mandato. O primeiro, em 2004, gerou a CPI dos Bingos após o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, cujo ministro era José Dirceu, ter sido flagrado em vídeo negociando propina com um empresário do ramo de jogos. O escândalo do mensalão estourou em junho de 2005, quando o deputado Roberto Jefferson, do PTB, então aliado de Lula, acusou José Dirceu de comandar um esquema de pagamento a parlamentares em troca de apoio político ao governo. Dirceu renunciou em 16 de junho ao cargo de ministro e reassumiu o mandato de deputado federal para se defender das acusações e foi cassado pela Câmara em dezembro. No lugar de Dirceu na Casa Civil, assumiu a então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Governo Dilma
Ao longo do segundo mandato de Lula, Dilma ganhou protagonismo, comandando o principal programa de investimentos governamentais, o Programa de Aceleração do Crescimento (foi chamada por Lula de “mãe do PAC”), e assumiu a posição de pré-candidata do PT à Presidência. Com a participação direta de Lula na campanha e capitalizando sucessos nas áreas econômica e social, venceu José Serra no 2º turno.
Seis meses após a posse, seu principal ministro deixou o cargo: Antonio Palocci, da Casa Civil, saiu sob pressão política por suspeita de aumento de patrimônio incompatível com a renda.
Dilma iniciou o que ficou conhecido como “faxina ética”, que resultou na saída de sete ministros em 2011. A presidente ganhou elogios em eventos públicos e sua aprovação subiu. No mesmo ano, o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou a 6ª maior economia do mundo. O Banco Central, sob pressão do governo, reduziu a taxa básica de juros para 7,25% em 2012.
A crise
No primeiro mandato de Dilma, a economia cresceu em média 2% ao ano, contra 3,5% da média mundial, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). De 2002 a 2014, a média anual de crescimento foi de 3,4%. A queda mundial dos preços das commodities reduziu o valor das exportações brasileiras. Endividada e pressionada pela inflação persistente, a população passou a consumir menos. Em setembro, a mesma “Economist” se perguntava se o Brasil “estragou tudo”. Em 2014, a vitória de Dilma sobre o tucano Aécio Neves no segundo turno refletiu a disputa mais apertada para presidente desde 1989, quando o país voltou a ter eleições diretas. “Não acredito que estas eleições tenham dividido o país ao meio”, declarou Dilma no discurso de vitória.
Lava Jato e protestos
Mas os reflexos dos protestos de junho de 2013 ainda se mostrariam mais contundentes diante da deflagração da Operação Lava Jato, que revelou um escândalo de corrupção na maior empresa do país, a Petrobras. A Operação Lava Jato começou investigando um esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Yousseff e acabou sendo a maior investigação da história do país, englobando corrupção na Petrobras e envolvendo empreiteiras e políticos. Dilma viu sua popularidade cair com os escândalos envolvendo o partido e seus integrantes. Durante a operação, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o marqueteiro das campanhas de Dilma e Lula, João Santana, foram presos. Em 13 de março de 2016, houve o maior protesto nacional contra o governo Dilma. Poucos dias depois, o ex-líder do governo, o senador Delcídio Amaral, também envolvido no escândalo, acertou acordo de delação premiada, envolvendo Lula e Dilma em suas acusações. Apesar da retomada da política de juros altos, a inflação fechou o ano em 10,67%, a maior dos governos do PT. O Brasil perdeu o grau de investimento no exterior. O desemprego voltou a crescer, passando de 8%. E o déficit primário (despesas maiores que as receitas, sem contar os juros da dívida) foi o maior da história: R$ 111 bilhões.
Denúncias contra Lula
Também em março de 2016, o PT assistiu ao seu maior símbolo, Lula, ser denunciado pelo Ministério Público pela suposta compra de um apartamento triplex em Guarujá (SP), mantido no nome da construtora OAS. No mesmo mês, o Planalto anunciou o ex-presidente como novo ministro da Casa Civil – o que lhe daria foro privilegiado. Lula não chegou a tomar posse. Foi impedido pela Justiça após a divulgação de um grampo de um telefonema entre Lula e Dilma, autorizada pelo juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal. A “campanha da esperança contra o ódio”, pregada por Lula pouco antes da reeleição de Dilma, deu lugar à impopularidade recorde de Dilma. Em janeiro, a presidente admitiu que seu maior erro foi não ter observado que a crise era tão grande. O mea culpa veio “tarde demais” nas palavras do ex-ministro Thomas Traumann, que pediu demissão após a divulgação de um relatório em que afirmava que o governo apresentava “comunicação errática” e alertava para um “caos político”. A essa altura, as “pedaladas fiscais” haviam sido reprovadas pelo Tribunal de Contas da União. O conflito com o presidente eleito da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), resultou no aceite do pedido de impeachment pelas supostas manobras.
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