Janot diz que Lava Jato não salvará o Brasil e pede apoio da sociedade
Procurador-geral comparou luta contra corrupção à abolição da escravatura.
Vice-presidente do Senado propôs maior interlocução entre poderes.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta segunda-feira (27) que a Operação Lava Jato “por si só, não salvará o Brasil”, ao defender a mobilização social para combater a corrupção e acabar com a impunidade no país.
Janot participou nesta segunda-feira da abertura do seminário Grandes casos criminais – experiência italiana e perspectivas no Brasil, realizado na sede da Procuradoria Geral da República.
“Não chegaremos ao fim dessa jornada pelos caminhos do Ministério Público ou do Judiciário. Esses são peças coadjuvantes no processo de transformação e de aprofundamento dos valores republicanos. A Lava Jato, por si só, não salvará o Brasil, nem promoverá a evolução do nosso processo civilizatório. Para tanto, é indispensável a força incontrastável da cidadania vigilante e ativa”, afirmou durante evento na PGR.
Em discurso, Janot comparou o atual momento vivido pelo Brasil com o fim do século 19, quando iniciou-se no país a luta contra a escravidão. Lembrou que, na época, a elite política, tanto no Partido Conservador quanto no Partido Liberal, resistiam ao fim do regime, apesar da pressão internacional e interna contra o trabalho escravo.
Apesar da aprovação em 1871 da Lei do Ventre Livre (que deu liberdade aos filhos de escravas), a abolição da escravatura só se deu efetivamente em 1888, com a Lei Áurea, ressaltou Janot, acrescentando que o episódio serve de “advertência e exortação” à atual classe política.
“A engrenagem do progresso é irrefreável. Não há força humana, de pessoas ou de grupos, que possa se interpor entre o caminhar coletivo e o futuro. Quando um corpo social está maduro e anseia por mudanças, o poder secular pode até retardar a sua implementação, mas jamais impedir os desdobramentos dos fatos”, afirmou, completando que o atual anseio social é pelo fim da corrupção e da impunidade.
“Se os nossos timoneiros não perceberem rapidamente a direção dos novos ventos, certamente estarão fadados à obsolescência democrática. Ficarão, com os seus valores ultrapassados, presos irremediavelmente no tempo do esquecimento e condenados pelo juízo implacável da história”, completou depois.
Janot afirmou que temos hoje no Brasil “a maior e mais profunda investigação de combate à corrupção de nossa história” e talvez uma das maiores investigações em termos globais de que se tem notícia”.
Disse depois que a Lava Jato desvelou um “sistema de favores mútuos entre políticos, partidos e empresários, que mais do que locupletar os seus sócios, frauda a democracia representativa, conspurca os valores republicanos e transforma o Estado em um clube exclusivo para desfrute de poucos, mas penosamente custeado por todos os brasileiros”.
Em outro momento do discurso, manifestou contrariedade a manifestações de políticos que esperam o fim da operação para trazer estabilidade ao país.
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