‘Mala diz tudo’, diz Janot sobre denúncia contra Rocha Loures
O ex-deputado deixou na manhã deste sábado (1º) a superintendência da Polícia Federal em Brasília. Procurador-geral da República discursou em congresso de jornalismo em São Paulo.
Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que havia provas suficientes para pedir a prisão de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). O ex-deputado foi solto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e deixou na manhã deste sábado (1º) a superintendência da Polícia Federal em Brasília.
“A mala diz tudo”, disse, referindo-se ao vídeo feito pela PF que mostra o ex-parlamentar deixando uma pizzaria em São Paulo com uma mala com dinheiro. “Houve a decretação da prisão cautelar de uma autoridade que estava no curso de cometimento de crime”, disse Janot sobre a detenção de Loures.
A frase foi dita durante a palestra “Desafios no combate à corrupção: a Operação Lava Jato” no 12° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). A Operação Lava Jato foi tema central do evento.
A jornalista Renata Lo Prete, da GloboNews, mediadora da palestra, brincou logo no início do painel com Janot e seu cargo dizendo que ele era o “entrevistado mais procurado da República”. O procurador-geral rebateu, de imediato, com bom humor: “Mas sem tornozeleira”.
Nesta sexta (30), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin mandou soltar Rocha Loures, mediante o uso de tornozeleira eletrônica. Mas a PF informou que não tinha o equipamento e que somente podia liberar o ex-deputado após receber a tornozeleira, cedida pelo estado de Goiás.
“A leitura que eu faço de ontem é que ambos os ministros entenderam que as cautelares deferidas já tinham surtido seus efeitos no sentido de impedir a continuidade delitiva e, portanto, houve a revogação”, afirmou Janot.
“Faz parte do processo, tanto o deferimento quanto a revogação. Cada um de nós tem seu entendimento jurídico sobre as questões. O que eu posso dizer é que o MP tem a mão mais pesada que os outros atores de Justiça”, acrescentou. Janot disse que vê a soltura de Loures “com tranquilidade, sem nenhum problema”.
Durante a participação no evento, ele preferiu exaltar a decisão do Supremo desta quinta (29), que validou a delação da JBS e não permitiu que se alargasse a influência do Judiciário nos acordos acertados entre o MP e os delatores. “Aquela decisão é fantástica. Ela salvou o instituto da delação premiada.”
Questionado sobre quando devem sair novas denúncias, Janot disse: “Temos duas linhas de investigação. Essas investigações têm vida própria. Essas investigações têm prazos diferentes de acordo com a possibilidade. Uma está mais avançada, outra vai exigir um pouco mais de trabalho.”
Temer
Janot também falou sobre a denúncia contra Temer. Segundo ele, denunciar o chefe do Executivo do país não é algo que lhe dá prazer. “Queria passar ao largo disso, mas tenho que cumprir minha missão.”
Ele relembrou uma frase antiga dentro da Procuradoria para defender que as provas contra o presidente são mais do que suficientes para se apresentar uma denúncia. “Não é possível que, para eu pegar um picareta, eu precise tirar uma fotografia dele pegando a carteira do bolso de outro. Ninguém vai passar recibo. Esse tipo de prova é satânica, é quase impossível. Tem que se olhar a narrativa.”
Janot também comentou sobre a imunidade concedida a Joesley e Wesley Batista, irmãos sócios da J&F, dona da JBS. De acordo com o procurador, os irmãos garantiram entregar altas autoridades da República, provaram que tinham indícios para tanto, mas não abriram mão do benefício da não denúncia no acordo. “Se eu não tivesse dado imunidade, não tinha acordo. Se não tivesse acordo, não tinha investigação. E se não tivesse investigação, não cessava o crime”, afirmou. “Se me perguntassem se faria de novo, hoje eu afirmo tranquilamente que faria de novo”.
Segundo Janot, apesar de os Batista não estarem presos, não deixam de ser criminosos. “Continua sendo bandido. É réu colaborador.” Para o procurador, a delação proporcionou um “ganho para sociedade”. “Estancar eu acho que é impossível, mas vamos diminuir esse nível de corrupção”, explicou.
Ele admitiu, no entanto, que passou por uma “escolha de Sofia”. “A escolha de Sofia a fazer era fingir que não ouvi isso e deixar que isso continue porque a premiação ao delator é alta. Ele não deixou de ser bandido porque colaborou, mas a sociedade brasileira ganhou mais. Estou com a consciência tranquila”, disse.
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