Manobra na Câmara retarda rito de pedido de cassação de Cunha
Mesa Diretora fará análise prévia de requerimento enviado à Corregedoria. Cunha também é alvo de denúncia no Conselho de Ética da Casa.
Uma manobra vai postergar ainda mais a tramitação dos requerimentos apresentados à Corregedoria da Câmara que podem culminar na cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do vice, Waldir Maranhão (PP-MA).
A Mesa Diretora decidiu nesta quarta-feira (28) que dois dirigentes da Câmara farão uma análise prévia da “aptidão” dos pedidos de abertura de processos de quebra de decoro parlamentar contra os deputados por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, investigado na Operação Lava Jato.
Não foi determinado um prazo para os dirigentes elaborarem os pareceres e para votação deles na Mesa Diretora. Só depois disso que, eventualmente, os pedidos de cassação serão encaminhados à Corregedoria da Câmara para o início das investigações.
Além do requerimento na Corregedoria, Eduardo Cunha também é alvo de pedido de abertura de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética, que recebeu a representação na tarde desta quarta.
Relatores
Na reunião desta quarta-feira da Mesa Diretora, Cunha designou o primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), para fazer a análise prévia do requerimento que pede sua cassação à Corregedoria.
“Eu não vou dar admissibilidade num processo contra mim mesmo. Não posso praticar ato a meu favor nem contra mim. Deleguei. Foi uma coisa bem transparente. Foi normal. Eu não tenho que protelar nada. Tem um processo contra mim no Conselho de Ética ao mesmo tempo”
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados
O deputado Felipe Bornier (PSD-RJ), segundo secretário da Câmara, irá analisar a denúncia contra Waldir Maranhão.
O requerimento contra Eduardo Cunha foi apresentado em 7 de outubro por deputados de sete partidos, entre os quais PSOL, PT e PPS. Já a solicitação para investigar o vice-presidente da Câmara foi protocolada no dia 14.
Desde então, os dois requerimentos estavam parados na Mesa Diretora, aguardando que o presidente da Casa avaliasse se foram cumpridos requisitos formais, como identificação do autor e especificação da denúncia.
‘Deleguei’, diz Cunha
Antes de entrar no plenário da Câmara nesta quarta, Cunha negou que tenha a intenção de protelar a abertura dos processos de cassação contra ele e o vice-presidente da Casa.
“Eu não vou dar admissibilidade num processo contra mim mesmo. Não posso praticar ato a meu favor nem contra mim. Deleguei. Foi uma coisa bem transparente. Foi normal. Eu não tenho que protelar nada. Tem um processo contra mim no Conselho de Ética ao mesmo tempo”, justificou o peemedebista.
‘Pedalada regimental’
Autor da representação contra Cunha na Corregedoria, o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) afirmou que vai apresentar uma questão de ordem, no plenário, questionando a regularidade da decisão da Mesa Diretora de postergar o envio do pedido de cassação à corregedoria.
Para o parlamentar, a decisão de designar relator para analisar a aptidão da representação é “inédita” e serve atender aos “interesses” do presidente da Câmara.
“Isso é uma pedalada regimental. Mais uma que esse presidente deu, à revelia de qualquer jurisprudência ou regra. É uma manobra que ele utiliza para proteger seus interesses. Vou pedir que a representação seja encaminhada imediatamente à corregedoria”, disse.
Conselho de Ética
A representação apresentada ao Conselho de Ética da Câmara que também pede abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Cunha foi protocolada pelo PSOL e pela Rede Sustentabilidade no último dia 13.
O processo que pode cassar o mandato do presidente da Câmara foi encaminhado pela Mesa Diretora ao Conselho nesta quarta-feira, depois de transcorrido prazo de três sessões ordinárias.
Também neste caso, Cunha tentou adiar ao máximo o início das investigações, aguardando que as três sessões transcorressem.
Rede e PSOL baseiam o pedido de cassação em um documento enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmando que Eduardo Cunha tem contas secretas na Suíça. Os partidos argumentam que ele mentiu quando disse em depoimento à CPI da Petrobras, em março, que não possui contas bancárias no exterior.
Fora do padrão
A manobra adotada por Cunha de delegar a análise do requerimento a outro deputado e submeter os pareceres à Mesa Diretora diverge da prática adotada na tramitação de pedidos de cassação de mandato.
Segundo técnicos da Casa, em regra, os requerimentos são despachados em até três dias para a Corregedoria, após a análise do cumprimento dos requisitos formais.
Além disso, o presidente da Câmara tem autonomia para decidir sozinho, já que se trata de uma avaliação protocolar, e não precisa submeter o caso aos demais integrantes da Mesa Diretora.
Indagado sobre se a decisão de reter o processo na Mesa Diretora seria uma manobra para postergar a decisão, Beto Mansur se limitou a dizer que não faria “juízo de valor” sobre o caso. Ele afirmou ainda que o fato de ser amigo de Eduardo Cunha não influenciará seu desempenho como relator do processo.
“Não posso fazer juízo de valor dessa questão [de postergar o envio à Corregedoria]. Não sei qual foi o trâmite. Eu acho que a gente tem que fazer a coisa dentro da normalidade, do padrão. Você analisa dentro da lei e não porque A, B ou C é amigo ou inimigo”, afirmou o primeiro secretário da Câmara.
Trâmite na Corregedoria
Se as representações chegarem a ser encaminhadas à Corregedoria, o órgão terá de analisar novamente se foram cumpridos os requisitos essenciais para a abertura de processo de quebra de decoro, como cópia de documentos de identificação do autor.
Caso o corregedor-geral da Casa, deputado Carlos Manato (SD-ES), conclua que foram cumpridas as regras formais, ele irá instaurar a investigação e abrir prazo de cinco dias para que Eduardo Cunha e Waldir Maranhão apresentem suas defesas.
Manato terá 45 dias – prorrogáveis por igual período – para investigar as denúncias contra o presidente e o vice-presidente da Câmara. Ao final deste prazo, o corregedor terá de apresentar um relatório sugerindo a punição ou a absolvição dos parlamentares.
Ao longo das investigações, ele poderá ouvir testemunhas e requisitar formalmente documentos ao Ministério Público Federal.
O parecer do corregedor-geral, então, será apreciado pela Mesa Diretora e, posteriormente, encaminhado ao Conselho de Ética. Como nesta etapa já terá ocorrido uma investigação preliminar por parte da Corregedoria, o Conselho de Ética não precisará fazer um relatório prévio, podendo abrir imediatamente o processo por quebra de decoro.
Deixe seu comentário
Publicidade