Política

Congresso do PSB define rumos do partido de olho nas eleições de 2018

Camilo Capiberibe diz que candidatura de Randolfe é prioridade, mas garante que o partido dele está preparado para voltar a governar do Amapá


Em entrevista exclusiva concedida ao presidente do Grupo Diário de Comunicação, jornalista e radialista Luiz Melo, o ex-governador Camilo Capiberibe fala sobre o congresso do PSB que acontece neste sábado em Macapá e das tratativas para a formação de uma ampla frente das esquerdas para a disputa das eleições de 2018. Filho do senador João Alberto e da deputada Janete Capiberibe, Camilo, que já foi deputado estadual, onde se destacou como uma das principais vozes de oposição na Assembleia Legislativa do Amapá disputou a reeleição ao governo em 2014, mas foi derrotado pelo atual governador Waldez Góes (PDT). Coordenador estadual da Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB, Camilo reafirma o seu empenho pessoal para que Randolfe Rodrigues (REDE) concorra ao governo do estado, mas admite que, pela projeção nacional, o senador também surge como opção para disputar a Presidência da República.


Luiz Melo – Em meio à forte crise e no centro do furacão da polêmica do decreto de extinção da Reserva do Mineral do Cobre e Associadas (Renca), onde o Amapá possui extensa área territorial, que acontece neste sábado, em Macapá, qual é a pauta do congresso do PSB?
Camilo Capiberibe – Nosso congresso vai debater os rumos do nosso partido e do Amapá, abordando a conjuntura política e o papel das esquerdas e das forças progressistas no contexto da disputa eleitoral de 2018, com o objetivo de construir uma grande frente política, mas também aprofundando o debate local, incluindo a Renca, claro.

Luiz Melo – O senhor é contra ou a favor da extinção da Reserva?
Camilo –
É oportuno deixar bem claro que o Amapá de hoje é conseqüência direta do Projeto Icomi, mas a mineração ainda vai ser muito importante para o estado daqui a muitas décadas, daqui a muito tempo; a Renca foi criada pensando na soberania nacional. Só que no momento nós vivemos um momento de crise e o atual governo está vendendo tudo, quer vender o Brasil a preço de liquidação. E vender barato o nosso subsolo, aí fica complicado e eu não posso concordar com isso.

Luiz Melo – Dentro desse pacote de ‘liquidação’, como o senhor nomina, o governo já está trabalhando para a privatização da Eletrobras…
Camilo – Isso é mais um equívoco. O Amapá recebeu recentemente o Linhão de Tucuruí, um investimento mais de 1 bilhão de reais. Se a Eletrobras fosse da iniciativa privada jamais investiria tanto dinheiro, porque dificilmente o nosso mercado traria retorno financeiro, e para nos liberarmos da economia do contracheque dependemos de energia. Bastar ver no que acontece em países mais desenvolvidos, como Canadá e Estados Unidos, onde o setor energético é estatal. É um descalabro vender por R$ 20 bilhões o que vale R$ 400 bilhões.

Luiz Melo – No que diz respeito à exploração dos minérios que comprovadamente existem na Renca, desde que seja de forma racional, a conseqüência não seria benéfica para a economia do país e mais especificamente do Amapá?
Camilo –
Claro, mas não pode ser como aconteceu com os episódios da MMX, da Anglo Ferrous, Zamin e outras experiências desastrosas. A MMX vendeu as minas para a Anglo, que vendeu a um indiano que absolutamente nada tinha a ver com o setor de mineração, que era atuante só na área de transação financeira, que especulou e o Amapá perdeu. O governo federal e o próprio governo do estado têm que ter outra atitude com relação à mineração, que tem vai dar muito fruto para o Amapá, mas não pode ter corrupção e desgraça. Achei que o governo agiu certo suspendendo os efeitos do decreto durante 120 dias para que o assunto seja amplamente discutido com a sociedade, porque tem que haver serenidade, responsabilidade e muita cautela no debate.


Luiz Melo – O PSB vinha pregando ‘diretas já’, mas o presidente Michel Temer ganhou o 1º round com a Procuradoria Geral de Justiça e se mantém no cargo. Mesmo assim o movimento continua?
Camilo –
O movimento pelas diretas é pela democracia e vai continuar independentemente de qualquer circunstancia. Ontem teve delação do Funaro que confirma o que o Joesley Batista tinha dito, que o Temer pediu pra ele continuar comprando o silencio do doleiro para ele não dizer que dava dinheiro pra um, pra outro e pra terceiro. Nós vamos continuar lutando para que ele (Temer) seja investigado, por essa é a vontade do povo do Amapá e de toda a população brasileira.

Luiz Melo – Temos cinco candidatos até agora ao Palácio do Planalto: Bolsonaro, Dória, Alckmin, Álvaro Dias e Marina, da Rede. Essas candidaturas cheiram bem ou mal para o PSB?
Camilo –
A Marina Silva esteve presente no nosso evento de 70 anos do PSB, e lá eu também encontrei o Randolfe; coincidentemente nós sentamos um do lado do outro e conversei rapidamente com ele; temos muita afinidade, ele foi candidato a vice na minha chapa em 2008, quando fizemos uma campanha muito bonita conjuntamente; ele próprio (Randolfe), pela projeção nacional que tem, por suas convicções políticas e atitudes de grande repercussão é um potencial candidato a presidente da República, mas acho que ele vai ser mesmo é candidato ao governo do Amapá, liderando essa ampla frente de esquerdas que estamos formatando.

Luiz Melo – Então há possibilidade do senador Randolfe sair mesmo candidato ao governo do estado?
Camilo –
Eu sinto um vento favorável nesse sentido, torço e estou me empenhando muito para que ele saia candidato ao governo. Eu seio que o prefeito Clécio tem compromisso com o senador Davi (Alcolumbre, do DEM) por causa da força que ele teve na campanha à reeleição, mas o Randolfe não pode sobrepor aos interesses maiores do Amapá, por isso ele vai tomar uma decisão; se ele não for candidato governador, mas será apoiador de uma frente que tenha coerência mínima; quando se casa com alguém a união pode durar pouco meses; por que isso acontece? Porque o casal não consegue se acertar internamente. No Amapá o casamento político para dar certo é preciso um parceiro político pra se entender minimamente, porque se o casamento é feito com alguém sem identidade tem tudo para não dar certo.

Luiz Melo – Essas tratativas para a formação de uma frente ampla estão focando também partidos de outras vertentes doutrinárias?
Camilo –
Olha, se eu sou Botafogo no Amapá e também sou em Brasília, em São Paulo, não dá pra ser Botafogo no Amapá e Flamengo ou Vasco em Brasília; o Randolfe e o Clécio têm que estar no campo progressista, construindo uma grande frente de esquerdas; tivemos encontros com o Hildergard Gurgel e o Lucas Barreto e conversamos muito sobre político, falamos de 2018, tivemos uma conversa muito boa, amigável; eu acredito muito na política e na nossa capacidade de juntar forças para garantir que o Amapá fique melhor; para isso é preciso ganhar a eleição com plenas condições de governabilidade, com uma base de sustentação parlamentar forte.

Luiz Melo – O senhor será candidato em 2018?
Camilo –
Eu tenho dito que para eu continuar contribuindo para construir o futuro do Amapá não é necessário ter um mandato. Estou focado mesmo na formação dessa frente de esquerdas; a nível nacional o PSB vai conversar com a Marina, Ciro Gomes e o Randolfe, vamos abrir bem essas discussões, mas nós vamos ficar focados sobretudo no Amapá.

Luiz Melo – O senhor admite então que o senador Randolfe pode ser o candidato da Rede à Presidência da República?
Camilo –
Não há dúvida que ele tem uma projeção nacional muito grande projeção, mas eu quero mesmo é que ele seja candidato ao governo do Amapá. Ora, estou sendo acusado por alguns de lançar o Randolfe ao governo para que a disputa (do pai, João Capiberibe) fique mais fácil para o Senado; agora imagine se eu lançar ele para Presidente, aí vão dizer que eu quero rifar o Randolfe, eu poderia ser acusado disso; eu já tive a oportunidade, a honra e a felicidade que o povo me deu de governo o meu estado, mas eu não quero mais; e se o Randolfe não quiser ser e nem aceitar apelo pra ser candidato a Presidente da República, o PSB vai lançar candidatura própria, e nesse caso eu tenho defendido que seja o Capí (João), que tem experiência, qualidade e competência para colocar o Amapá nos eixos. E aí eu quero no Senado o perfil senador Randolfe, mas também pode ser o Lucas Barreto, a Aline Gurgel, o Promotor Moisés. promotor Moisés.

Luiz Melo – Nesse novo momento político que o país vive, o povo diz que não quer mais as velhas raposas e pede renovação. O PSB tem se preocupado com a preparação de novos quadros, tanto para o Executivo como para o Legislativo?
Camilo – Sem duvida nenhuma. O PSB tem seis segmentos internos muito importantes, entre os quais a juventude, e na realidade é um dos partidos que melhor está preparado nesse quesito para 2018; temos o Alan Ramalho, o Washington Picanço e tantos outros. O PSB é o segundo partido mais antigo do país, completou 70 anos agora, perdendo apenas para o PCB, mas é um partido que se preocupa muito com a renovação, está sempre atual.


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