Política

Coral na Margem Equatorial é ‘fake news’, diz diretora da Petrobras

Segundo Sylvia Anjos, responsável pela exploração e produção da estatal, projeto de pesquisa mapeou região e encontrou recifes rochosos, mas não corais


Foto: EBC

 

A presença de corais na foz do Rio Amazonas, que seriam ameaçados pela exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial, é “fake news” científico, disse nesta quinta-feira a diretora executiva de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos. As perfurações na nova fronteira de exploração estão à espera de aval do Ibama e, segundo a executiva, não há mais tempo hábil para começar os trabalhos ainda este ano.

 

O órgão do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima negou a licença em 2023, mas a estatal recorreu da decisão e aguarda uma decisão final no processo de licenciamento. Desde então, o alto comando da Petrobras vem advogando a favor da liberação da exploração.

 

Em “aula aberta” sobre o tema na Coppe, o instituto de pós-graduação em Engenharia da UFRJ, Sylvia reforçou argumentos e disse que todas as exigências feitas pelo Ibama no processo já foram atendidas pela estatal.

 

Ambiente sensível

A exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial, região considerada ambientalmente sensível e pouco conhecida cientificamente, tem sido criticada por entidades de defesa do meio ambiente e cientistas. Um dos problemas levantados seria o impacto na vida marinha, incluindo recifes e corais.

 

Segundo Sylvia, a Petrobras já havia feito um mapeamento científico da região da Foz do Amazonas antes do estudo de impacto feito como parte do processo de licenciamento junto ao Ibama. O trabalho, a cargo do Cenpes, o centro de pesquisa da petroleira, em parceira com “mais de dez instituições”, durou nove anos e não identificou a presença de corais, disse a executiva:

– Não existe coral na Foz do Amazonas. Isso não é verdade, é uma “fake news” científica. Existem rochas carbonáticas (também conhecidas como calcárias, formadas por sedimentos), semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas.

 

O tema tem nuances e parece dividir cientistas. Na mesma linha de Sylvia, o geólogo Alberto Garcia Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), e o engenheiro Allan Kardec Barros, ex-diretor da ANP (agência reguladora do setor) e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), chamaram de “mito” o impacto ambiental sobre corais na Foz do Amazonas, em artigo publicado no GLOBO.

 

Outros especialistas, como o oceanógrafo Nils Asp, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e o biólogo marinho Carlos Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), afirmaram ao GLOBO, no ano passado, que os recifes daquela porção do litoral brasileiro abrigam esponjas e algas, apesar da menor quantidade de corais, o que é importante para a cadeia alimentar de outras espécies, incluindo peixes.

 

Argumentos pró-exploração

Em sua apresentação na Coppe nesta quinta-feira, Sylvia repetiu argumentos favoráveis à exploração na Margem Equatorial já citados publicamente pela Petrobras. Um deles é o fato de que o poço que a petroleira pretende perfurar fica 175km da costa do Amapá e a mais de 500km Foz do Amazonas.

 

A executiva também negou que a dinâmica das correntes marítimas daquela porção do Oceano Atlântico tenda a levar quantidades de petróleo eventualmente derramado para os manguezais da costa, outra preocupação de ambientalistas.

 

A diretora da Petrobras também repetiu que todas as exigências do Ibama foram cumpridas. É o caso da construção de dois centros de pesquisa para o atendimento de animais que eventualmente sejam atingidos por derramamentos de petróleo, em Belém (PA) e em Oiapoque (AP).

 

– Isso é caso haja um acidente, caso o óleo chegue na costa, afete os animais, e esses animais, sujos de óleo, vão ser tratados nesses centros. Aposto que vão ser tipo aquele cemitério do Odorico Paraguaçu – afirmou Sylvia, numa referência ao personagem de Dias Gomes (a peça teatral, posteriormente adaptada como novela da TV Globo, narra a saga do prefeito da fictícia Sucupira para conseguir inaugurar um cemitério, uma promessa de campanha, que acaba sendo postergada ao longo da trama pela falta de óbitos na cidade).

 

Mesmo que licença saia logo, perfuração fica para 2025

Após a palestra, a diretora da Petrobras contemporizou e disse que entendia as preocupações e exigências colocadas pelo Ibama. Sylvia demonstrou otimismo na obtenção da licença, mas evitou estimar quando isso poderia acontecer.

 

Mesmo assim, não há mais tempo hábil para a perfuração começar este ano, segundo a executiva, porque, diante da demora no processo de licenciamento, os equipamentos necessários para perfurar foram retirados da região. Agora, terão que ser lavados e, depois, deslocados de volta para o litoral do Amapá, procedimentos que levarão mais de dois meses, disse Sylvia.

 

Na semana passada, a diretora já havia dito que, por causa da demora do processo, a Petrobras pediu à ANP e conseguiu mais prazo para iniciar a exploração do bloco no litoral do Amapá, adquirido pela estatal em 2013. Pelas regras do marco regulatório do setor, os contratos de concessão estipulam um prazo até o qual as empresas precisam iniciar a perfuração.

 


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