Médico Papaléo Paes morre aos 67 anos, vítima da Covid-19
Médico e político amapaense, Papaléo Paes vinha travando uma batalha contra a Covid-19 nas últimas semanas, mas não resistiu ao agravamento da doença e morreu na noite de quinta-feira (25) na UTI do Hospital São Camilo.
Elden Carlos
Editor
O médico cardiologista Papaléo Paes, de 67 anos, morreu por volta de 23h30 desta quinta-feira (25) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Camilo, em Macapá, onde ele estava internado há cerca de uma semana, após ter sido transferido do Hospital da Unimed, onde agravou o quadro infeccioso provocado pela Covid-19.
Após ter sido diagnosticado com o novo coronavírus, Papaléo iniciou o tratamento, mas agravou rapidamente. Já no Hospital São Camilo, sofreu uma septicemia. Chegou a passar por processo de hemodiálise, apresentando leve melhora, mas acabou não resistindo.
Em nota, já na madrugada desta sexta-feira (26), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, externou pesar pela morte do médico e político amapaense. “Uma partida repentina que comove a todos que conheciam a gentileza de um homem cujo olhar sempre foi generoso e que fez do amor ao próximo a sua profissão. Sempre trabalhou pelo Amapá com afinco e compromisso”, diz trecho da nota.
O governo do Estado, também em nota, decretou luto oficial de três dias em memória do ex-vice governador e das demais vítimas da Covid-19.
“Além de vice-governador, foi prefeito de Macapá e senador da República. Papaléo deixa um grande legado pelo trabalho desenvolvido na vida pública, sendo um político atuante em várias décadas e médico extremamente dedicado à profissão, em especial ao cuidado dos mais humildes”, cita trecho da nota governamental.
Sepultamento
Foi confirmado que, sem velório, o corpo de Papaléo Paes sairá às 8h da funerária Centro Pax, na Mendonça Furtado, subindo pela Rua Hildemar Maia até à Avenida FAB. Lá, o corpo receberá homenagens em frente ao Hospital de Clinicas Alberto Lima, onde dedicou a maior parte de sua vida médica. O cortejo passa, também, em frente a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), onde ele ocupou cargo de secretário na gestão do governador Anibal Barcelos; em frente ao prédio da Prefeitura de Macapá, onde foi prefeito, Palácio do Setentrião, na avenida General Rondon, e segue até a Avenida José Tupinambá até o hangar do Governo do Estado, de onde seguirá de avião até Belém (PA) onde será sepultado no jazigo da família.
De médico a senador da República; Papaléo Paes teve uma trajetória de vitórias e decepções
Médico cardiologista entrou para política e teve passagens pelo governo do Estado, Prefeitura de Macapá e Senado Federal. Em 2018 ele renunciou ao cargo de vice-governador em meio à uma crise política interna no Setentrião.
O médico João Bosco Papaléo Paes, de 67 anos, nasceu em Belém (PA) em 27 de agosto de 1952. Sua biografia é marcada pela dedicação à medicina, e, posteriormente, ao universo político. Ao entrar para a Universidade Federal do Pará (UFPA), Paes se dedicou à medicina. Após se formar, seguiu para o Rio de Janeiro (RJ) onde fez sua especialização em cardiologia no Hospital Miguel Couto. Ainda no RJ, Papaléo também se especializou em medicina desportiva, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e medicina do trabalho, na Universidade Gama Filho.
Já no Amapá, o jovem médico teve uma carreira profissional brilhante, consolidou nome e se tornou uma das maiores referências na área da cardiologia. Com jeito fácil de se comunicar e sempre muito prestativo, ampliou em pouco tempo seu leque de amizades e acabou despertando para o cenário político.
Em 1990, aos 38 anos de idade, veio o primeiro grande desafio político de Papaléo. Filiado ao então Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), que tinha como cacique nacional o também médico cardiologista, Enéas Carneiro, que ainda era conhecido por suas referências como militar, físico, matemático, professor e escritor, Paes lançou candidatura ao governo do Amapá.
Naquele ano, Papaléo disputou a cadeira do Palácio do Setentrião com o comandante Anibal Barcelos (PFL), Gilson Rocha (PT), Abelardo Vaz (PTB), Guairacá Nunes (PDC), Antônio Cabral de Castro (PDT) e Bernardo Rodrigues (PMDB).
Tendo como vice-candidato Adriano Lago, Papaléo pleiteou a eleição com chapa pura [sem coligação] obtendo no primeiro turno 18,76% dos votos válidos, ficando em terceiro lugar geral. O segundo turno foi disputado por Gilson Rocha e Anibal Barcelos. Em 25 de novembro daquele ano, com 67,02% dos votos no turno decisivo, o comandante Barcelos vencia o pleito, assumindo o comando do Estado.
Dois anos depois [1992], já no PSDB e com maior musculatura política, Papáleo Paes decidiu disputar a prefeitura da capital [Macapá], que tinha como prefeito há época João Capiberibe (PSB).
O pleito eleitoral foi disputado por Papaléo com os candidatos Murilo Pinheiro (PFL), Idelgardo Gomes (PT) e Jacy Siqueira (PRN). Paes – que diferente da eleição para governo do Estado – tinha uma aliança com sete partidos na eleição municipal, acabou eleito prefeito de Macapá.
Ele voltaria a disputar o comando do Palácio Laurindo Banha [sede da prefeitura] no ano de 2000. Foi uma das eleições mais acirradas. Papaléo já estava filiado ao PTB e acabou derrotado – com uma diferença de apenas 415 sufrágios – pelo candidato João Henrique Pimentel (PSB).
A derrota daquele ano o fez desenhar um projeto ao Senado. Em 2003, o médico amapaense era eleito e assumia cadeira de senador, onde permaneceu até 2011, pois não conseguiu reeleger-se.
Após rápida passagem pelo MDB, retornou ao PSDB, em 2005. Em 2006, tentou novamente o governo do Estado do Amapá, ficando em terceiro lugar. Em 2014, Papaléo compunha chapa como vice de Waldez Góes (PDT).
Juntos, no segundo turno, Papaléo e Waldez são eleitos com 60,58% dos votos, pondo fim à tentativa de reeleição do então governador Camilo Capiberibe (PSB). Mais tarde, em 2018, Papaléo e Waldez, na tentativa de consolidar uma nova parceria para reeleição, tiveram uma das mais graves crises políticas da história.
Ostentando título de vice-governador, Paes acabou sendo preterido do cargo de vice na chapa de Waldez, que optou pelo nome do empresário Jaime Nunes (PROS) para a nova disputa. A substituição gerou insatisfação e em 7 de agosto de 2018, Papaléo Paes reuniu a imprensa no Palácio do Setentrião, onde anunciou a renúncia do cargo. Terminava ali uma longa aliança política entre Papaléo e Waldez.
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