CLEBER BARBOSA
EDITOR DE TURISMO
A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial não foi só com o envio de tropas para lutar na Itália, onde batalhas heróicas foram registradas, como a ‘Tomada de Monte Castelo’. Aqui no país, foram diversas unidades que se envolveram no conflito bélico, seja movimentando militares para áreas consideradas de maior risco, como o Nordesde e Norte do Brasil, como combatendo a ação de espiões. A historiografia cita as bases em Natal e no Rio de Janeiro, mas poucos se lembram da do Amapá. Nela os EUA instalaram uma base de operações de dirigíveis (blimps).
Como acontece em vários países pelo mundo, os palcos de guerras viram atração turística. Mas diferente de lá, por aqui a guerra acabou, a base deixou de ser usada e praticamente foi esquecida, abandonada, por assim dizer. “O Amapá é muito longe e o local foi esquecido … até agora. Ao que parece, historiadores e entusiastas aeronáuticos amapenses estão buscando resgatar essa história”, narra o advogado e pesquisador Luiz Eduardo Parreira, que em seu perfil no Blog Parreira House, define como suas áreas de interesse “de tudo um pouco, com carinho especial para a Polemologia, Direito, Política, História, Sociedade e Aviação”.
Chance – O governo federal anunciou no ano passado um arrojado projeto que prevê investimentos na ordem de R$ 74 milhões na recuperação de aeródromos pelo interior do país. Dois terminais amapaenses foram incuídos, o de Oiapoque e o de Amapá. Batizado oficialmente como “Programa de Investimentos em Logística: Aeroportos”, trata-se de um conjunto de medidas para melhorar a qualidade dos serviços e da infraestrutura aeroportuária, ampliar a oferta de transporte aéreo à população brasileira.
O então superintendente do Banco do Brasil no Amapá, Rosélio Fürst, foi quem anunciou a novidade, pois será o banco estatal o interveniente financeiro do projeto. “Tive a oportunidade de visitar os dois aeródromos juntamente com nossa equipe técnica e fiquei realmente impressionado com a possibilidade de resgatar algo que foi tão importante para a história do país e da humanidade”, disse o executivo, em alusão ao forte apelo histórico da velha base aérea.
Além desse projeto, que ainda não detalhou como irá revitalizar a antiga Base Aérea, existem iniciativas de universidades e de guias de turismo sensibilizados em não deixar que a ação do tempo continue a apagar os registros de uma das mais importantes histórias da presença federal no Amapá.
Primeira capital, Amapá herdou imponente nome
O município de Amapá já desfrutou da condição de capital do então Território Federal do Amapá, passando o privilégio para Macapá a partir de 1945. As primeiras informações do município são de 1893, quando os garimpeiros paraenses, naturais de Curuçá, Germano e Firmino, descobriram ouro em Calçoene (a esse tempo pertencente ao município de Amapá).
O rush dos franceses da Guiana, que queriam o ouro a todo custo, criou vários incidentes, com choques violentos que culminaram com a vitória dos brasileiros sob o comando de Francisco Xavier da Veiga Cabral, o “Cabralzinho”. Em 21 de janeiro de 1901, as terras do atual município, antes contestadas pela França, foram anexadas ao Estado do Pará após o ganho de causa do Brasil, compreendendo três municípios (Amapá, Oiapoque e Calçoene), com o nome de Aricari.
Segundo estudos de pesquisadores, há na base: Cassino dos Oficiais Americanos; Hospital do Exército Americano; Sistema de Abastecimento de Água, Poço e Sistema; Casa de Força e Luz; Casa de Hidrogênio; Almoxarifado Geral; Pista de Vôo; Torre de Atracação de “Blimps” Zeppelins; dentre outros pontos.
Relato histórico sobre a antiga base, que os EUA chamam de ‘NAF Amapa’
A USN deu início às obras da Naval Air Facility Amapá (NAF Amapá) em 22 de junho de 1943, concluindo essas obras em 180 dias. Isso incluiu a pista de pouso, pátio de estacionamento e edificações. A idéia inicial era não somente implantar um aeródromo que desse apoio às aeronaves sendo trasladadas desde os Estados Unidos até o Brasil (e daqui para os distintos teatros de operações), mas lá sediar uma unidade ou destacamento de blimps. Três meses depois o primeiro blimp da USN (K-84) chegou em Fortaleza, sendo seguido por outros que iriam pertencer aos esquadrões ZP-41 e ZP-42, ambos subordinados ao Fleet Airship Wing 4, esse último com sede em Recife. As sedes administrativas e operacionais desses dois esquadrões eram mudadas com bastante freqüência, mas o importante aqui é de que entre os dois esquadrões foram operados 16 blimps do tipo “K”, com destacamentos de duas aeronaves nas distintas bases em que operavam.
A partir de 2 de outubro de 1943 foi executada a primeira missão operacional, que era de dar cobertura para um comboio TJ. Curiosamente, os blimps destacados na NAF Amapá eram particularmente ativos – especialmente na realização de missões SAR. A primeira dessas missões ocorreu na véspera do Natal de 1943, quando o blimp K-106 foi socorrer a tripulação de um avião de transporte da USAAF que caiu no meio da selva alguns quilômetros do Amapá.
Com a abrupta queda nas atividades dos submarinos alemães e italianos no último trimestre de 1944, rapidamente tornou-se desnecessário o uso dos blimps na cobertura dos comboios ligando os Estados Unidos ao Brasil, e vice-versa. Assim, em 14 de maio de 1945 foi desativado o Fleet Air Wing 4 e muitos dos NAF desativados ou transferidos à USAAF.
* Luiz Eduardo Parreira, advogado e pesquisador.
CURIOSIDADES
– A Base Aérea de Amapá fica distante cerca de 302 km da capital, Macapá, e 9 km da sede municipal.
– Foi construída durante a II Guerra Mundial, como base de apoio aos Aliados na luta contra o nazi-fascismo, permitindo o abastecimento de aviões norte-americanos com destino à África, que levavam ajuda aos aliados como Inglaterra e União Soviética.
1941
Este foi o ano do início da construção da velha Base Aérea do município de Amapá.
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