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Aos 26 anos, mãe de cinco filhos é diagnosticada com câncer de

Cerlene Lima descobriu que tem câncer em estágio avançado ao fazer exames complementares durante a gravidez



 

Às vésperas do Dia das Mães [10 de maio], uma jovem de 26 anos de idade e mãe de cinco filhos descobriu que está com câncer de mama. A doença foi diagnosticada há cerca de dois meses, antes que a filha dela, Vitória Sofia, que nesta quinta-feira, 7, completa 1 mês e 20 dias de nascida, viesse ao mundo.
Cerlene Lima da Costa [mãe] contou ao Diário que antes mesmo de engravidar já vinha sentindo fortes dores no colo e costas. Depois uma mancha avermelhada na mama esquerda passou a lhe incomodar.

“Já vinha apresentando algumas dores, mas somente quando estava com quatro meses de grávida procurei um médico para fazer uma avaliação. Esse médico me disse que era apenas uma ‘mastite’, e que com o medicamento seria curada sem maiores riscos, confiei nele, mas prestes a dar à luz ao bebê passei mal e já no hospital os médicos fizeram uma biopsia. Foi quando diagnosticou preliminarmente o câncer. Por isso precisei fazer uma cesárea para minha filha nascer em segurança.

A mastite a que ‘Lene’ se refere é uma inflamação da mama que provoca o surgimento de sintomas como dor, inchaço ou vermelhidão e o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível para evitar o desenvolvimento de bactérias no tecido inflamado.

Ainda de acordo com Cerlene, a doença está em estágio avançado e pode afetar a outra mama. “Os médicos me aconselharam amamentar minha filha só pela mama direita, mas isso também não será possível mais por causa da medicação que terei que tomar. Estou sem chão, me sentindo enfraquecida, mas quando olho para meus filhos retiro deles as forças para lutar contra essa doença maldita. Preciso viver para criar meus filhos”, disse.

Jovem será submetida a sessões de quimioterapia

Após descobrir a doença, Cerlene Lima foi amparada por vários médicos. Já na próxima semana ela deve iniciar a quimioterapia. No entanto, todos sabem que esse processo é longo e doloroso. E, como cuidar de cinco crianças nessas circunstâncias?

A pergunta foi feita à Lene que respondeu: “Minha mãe – que mora em Marabá (PA) – já disse que posso mandar as crianças para ficar com ela por um tempo. Mesmo longe minha mãe nunca me desamparou.

A vizinha de Cerlene, Dorinete Sotero, 46 anos, propôs-se a fazer a viagem para levar os filhos da amiga, porém, eles enfrentam um drama. A falta de passagens. O deslocamento de Macapá até Marabá só pode ser feito via área. Por isso, seriam necessárias cinco passagens para o deslocamento.

A pequena Vitória – de 1 mês – permaneceria com a mãe e seria amparada pelos próprios vizinhos que fazem um mutirão de solidariedade. Porém, nenhum assistente social do município ou estado apareceu para dar encaminhamento à demanda.

Vida sofrida dentro de um quarto alugado

Desempregada, Cerlene Lima cria os cinco filhos apenas com o valor de R$ 182 que recebe mensalmente do Bolsa Família [programa do governo federal de combate à miséria]. Ela vive há cerca de um ano em um quarto alugado com 16m², onde tem apenas uma cama, um fogão, uma geladeira, um ventilador e uma televisão antiga que foram doados.

Na geladeira, apenas água. A máquina de lavar roupas – encostada no canto da parede – serve apenas como cesto de roupa suja, já que o motor queimou. No armário com portas remendadas não há mantimentos. Além disso, todos os meses ela precisa arrumar R$ 250 para pagar o aluguel do pequeno cômodo.

“Ajuda. É disso que sobrevivo. Quando podia fazia meus ‘bicos ‘, mas agora nem isso. Tenho contado com a ajuda dos vizinhos para dar de comer aos meus filhos, mas eles também são pobres e nem sempre podem ajudar. Já passamos fome aqui muitas vezes”, disse com o coração apertado a jovem mãe.

Apesar de todo sofrimento, Cerlene sorri e se faz de dura para não chorar, mas o sentimento de impotência é percebido pelas mãos tremulas durante a entrevista. Além da pequena Vitória Sofia, de 1 mês e 20 dias, Lene ainda tem as meninas Débora Vitória Lima, de 2 anos; Yasmin Vitória, de 4 anos, e os meninos Kelvin Franklin, de 9, e Cauê Victor, de 11 anos.

“Muitas vezes cheguei no quarto deles e percebi que não havia nada para comer. O pior é que na noite anterior eles já tinham dormido com fome. Então, mobilizo os amigos aqui para arrumarmos um café, bolacha e tudo o que podemos. Porém, não podemos ajudar muito com coisas materiais porque também somos pobres. Mas nunca deixamos de dar carinho e atenção para ela”, disse a dona de casa Dorinete Sotero, 46 anos, que doa todos os dias um pouco do seu tempo para ajudar a amiga.

Ajuda providencial

Ao tomar conhecimento da história de Cerlene Lima, 26 anos, a produção do programa LuizMeloEntrevista (Diário 90,9) enviou na manhã desta quarta-feira, 6, uma equipe de reportagem à casa da jovem mãe que mora no bairro Parque dos Buritis, zona norte de Macapá.

No local a constatação da situação degradante da família. Logo uma campanha humanitária foi aberta no rádio com resposta imediata da população. Em alguns minutos foi arrecadado quase R$ 1 mil em dinheiro de doações, além de alimentação. Tudo entregue de forma imediata à mãe desolada.

“Preciso fazer um exame final que não está disponível na rede pública, e que custa cerca de R$ 700. Esse dinheiro já vai dar para fazer esse exame. Só tenho a agradecer a todas as pessoas que estão me ajudando”, disse.

Abandonada no nascimento, mulher não vê pais adotivos há mais de uma década

Paraense, 26 anos, olhos verdes, um belo sorriso esperançoso, mas rosto e pele abatidos por causa da vida sofrida. Cerlene Lima – que estudou até a 6ª série primária – disse ter saído do interior da cidade de Marabá (PA), em 1997, com os pais. O destino: Macapá.

“Existia um sonho de emprego e vida melhores. Porém, as coisas não deram certo. Em 2002 meus pais retornaram para Marabá e eu fiquei sozinha. Desde então não os vejo. A saudade é muita, mas não tenho como ir vê-los”, disse com um choro preso no peito.

Lene disse que sua vida foi sofrida desde pequena. “Sou filha adotiva, fui dada para minha mãe de criação dias após meu nascimento. Quando tinha uns 8 anos me apresentaram para minha mãe biológica, mas não quis saber dela. O abandono me causou revolta e angustia, mas com o tempo isso foi sendo amenizado. Dou valor nas pessoas que me criaram, apenas isso”, desabafa.

Às vésperas do Dia das Mães, Cerlene declarou ainda que seu maior desejo é ter um lar digno para poder criar seus filhos e poder reencontrar com os pais. Ela também disse que será difícil se separar dos filhos – nem que seja por um período – mas é algo necessário.

“Vai ser muito difícil, mas preciso. Sei o quanto uma mãe faz falta na vida da gente, do lado da gente. Não quero abandonar meus filhos como fui abandonada por minha mãe. Chuva ou faça sol estaremos juntos”, concluiu.

 


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