Nilson Montoril
Herundino, alfaiate, futebolista e policial
O alfaiate Herundino do Espírito Santo veio para Macapá, em 1945, a fim de jogar futebol pelo Cumaú Esporte Clube, a agremiação alviverde local. Em sua companhia estava o Adinamar, um valoroso atleta que figura na galeria dos futebolistas que vestiram a camisa do Paysandu Esporte Clube. Em Belém, Herundino atuava pela União Esportiva, um time de futebol, que, em 1913 teve a honra de ser o primeiro campeão paraense. Na época em que o Herundino integrava o conjunto da União Esportiva o time não ia bem. As noticias que ele ouvia sobre as excelentes oportunidades de alguém se tornar funcionário público federal motivou a sua saída de Belém. Através da representação do governo do Amapá, instalada em Belém, Herundino soube que havia sido criada a Guarda Territorial estando à corporação precisando de alfaiates para compor sua oficina de costura. Preencheu uma ficha cadastral e aguardou sua chamada. Ela ocorreu em curto espaço de tempo, graças ao interesse que o macapaense José Serra e Silva, presidente do Cumaú demonstrou por ele.
O Adinamar Resende, parceiro de viagem do Herundino era um eficiente centro-médio com passagem pelo Clube do Remo, Tuna Luso Brasileira, Paysandu e União Esportiva. Os dois chegaram a Macapá em meado do mês de outubro e acertaram com os próceres do Cumaú a vinculação deles ao time alviverde. Pediram um tempo para irem a Belém providenciar a mudança. No dia 3/11, quando era voz corrente na cidade a desistência dos citados atletas, ambos apareceram na sede do clube, apresentando mais dois atletas dispostos a jogar e trabalhar em Macapá: Pariché e Cara-de-Onça. Em Belém, atuavam no campeonato paraense da segunda divisão integrando o time do Sacramenta. Herundino foi o único que permaneceu em Macapá, desenvolvendo suas atividades de alfaiate na oficina de costura da Guarda Territorial, então instalada nas casamatas da Fortaleza São José. Adinamar foi chamado pelo Paysandu e preferiu vincular-se mais uma vez ao Papão da Curuzu.
Ciente de que poderia auferir uns cruzeirinhos a mais nas suas folgas, Herundino alugou uma sala em um prédio edificado à Rua Cândido Mendes, onde instalou a alfaiataria “Zaz Traz”. Sua estréia pelo Cumaú ocorreu dia 22/12/ 1945, no campo da Matriz enfrentando o Macapá. O time alvi-verde perdeu por 4×1, mas a atuação de Herundino foi muito elogiada. Neste jogo, o centro-médio Laércio, egresso da Tuna também agradou. A formação do Cumau era: Judidath; Casemiro Dias e Herundino; Tenente, Laércio e Gaivota; 115, Caveira, Souza, Tomé e Jurandino. Os atletas torcedores de Paysandu e Remo sempre realizavam partidas amistosas, rotulando os times como Alvi-Azul e Azulino. Herundino jogava pelo Azulino. Logo na estréia, dia 26/4/1946, seu time perdeu para o Alvi-Azul por 2×1 e ele cometeu um pênalti, que o zagueiro Brasil converteu em gol. O 115 marcou o segundo e Taumaturgo descontou para o Azulino. No dia 7 de maio de 1946, Herundino vestiu a camisa do Macapá pela primeira vez, amargando uma derrota frente ao Amapá Clube por 1×0, gol de Caboclo Alves. Sentiu o sabor de uma vitória no prélio Macapá 3×2 Amapá, no campo da Matriz. A 4/1/1947, um domingo, integrou o primeiro time do Trem Esporte Clube Beneficente, fundado no dia primeiro. Pela manhã, depois da eleição da diretoria rubro-negra, aconteceu a demarcação do campo de futebol da agremiação, na área que hoje corresponde à Praça N. S. da Conceição, doada ao clube pela Prefeitura de Macapá. A partida foi realizada pela manhã, ocasião em que o Trem enfrentou um combinado formado por atletas do Macapá e Amapá. Herundino sentiu o travo da derrota, mas mostrou suas qualidades consignando os dois gols do conjunto proletário.
A 1ª escalação do Trem: Oscar; Herundino e Zeca Banhos; Cabral, Pedro Franco e Branco; Jorge, Oliveira, Labrione, Walter e Lando. Também esteve presente na 1ª excursão que o quadro “ferroviário” fez a Mazagão, onde empatou como Mazagão Esporte Clube por 1×1. O gol do Trem foi do Herundino. Tampinha empatou.O “Trem Lapidador”alinhou com Alcolumbre;Vavá e Zeca Banhos;Labrione,Pedro Franco e Herundino; Epitácio,Jorge, Smith(Oliveira),Walter e Branco.Atuou como juiz,Raimundo Nonato Lima, o Chibé.
Improvisação tenebrosa
A improvisação fez parte da vida de muitos trabalhadores, que vieram trabalhar em Macapá a partir de janeiro de 1944, marco o inicial da implantação e implementação do território federal do Amapá. Pequena e sem imóveis disponíveis para aluguel, a capital da nova unidade federada simplesmente inchou em termo populacional. As velhas casas do centro eram de taipa de mão, unidas uma às outras, compridas, mas possuíam poucos cômodos. Mesmo assim, diversas famílias aceitaram hóspedes e também viraram pensão fornecendo marmitas aos que não tinham onde preparar a própria comida. Alguns moradores aproveitaram espaços excedentes em seus quintais e construíram quartos, alocando-os a terceiros. Progressivamente, os que pagavam aluguel saíram desse sistema. Arranjaram namoradas, noivaram e casaram com relativa brevidade.
A condição de “amigado” e ”amancebado” atingia uma considerável parcela dos operários. Quando o relacionamento dava certo eles evoluíam para o matrimônio. Quando um solteirão convicto sumia do convívio com seus amigos de boemia, esses diziam que o desaparecido havia arranjado um “cobertor de orelhas”. Se o relacionamento capengasse e ficasse marcado por aconchegos e desprezos, a mulher não passava de um “quebra galho”. Para a turma da birita, que não admitia perder sua liberdade de vaga-mundo, valia passar aperreios em relação à alimentação, fosse de dia ou á noite. Conheci alguns solteirões pertinazes, que residiram em quartos alugados na área onde hoje fica a Praça Isaac Zagury. Eles enfrentavam o batente com denodo, mas passavam rasteiro nas noites de domingo, porque as mais simples biroscas fechavam suas portas e nem ovo frito vendiam. Essa turma não tinha fogão. Alguns alimentos de rápido preparo eram feitos em fogo de lenha colocada entre dois tijolos e instalado fora do quarto. Nestas ocasiões prevalecia o consumo de carne enlatada e sardinhas. Se estivesse chovendo, a gororoba descia sebosa com a ajuda de água ou cachaça. Certa vez, uns quatro ferrenhos solteirões passaram a manhã e as primeiras horas da tarde de um domingo no “Bananeira”, um local relativamente aprazível onde a plantação de bananas era marcante. Ali, saia peixe cozido, frito, grelhado, camarão no bafo, galinha cabidela, feijoada e outros quitutes que porre não rejeita depois do terceiro trago. Por volta das 15h30min, acrescido por outros frequentadores do dançará, o grupo rumou para o então Estádio Municipal de Macapá.
Macapá estava sob os efeitos de fortes chuvas e a “aviação canela” era o meio de transporte maciçamente usado. Os personagens que me contaram o fato lembravam que o jogo tinha sido entre o Trem Esporte Clube Beneficente e o Amapá Clube, mas nenhum dos desportistas lembrava o placar da partida. Também não tiveram a curiosidade de perguntar a alguém. Saindo do estádio grudaram no Bar do Pina e no “Canta Galo” dois renomados estabelecimentos frequentados pelo amantes da “marvada pinga”. Em torno das 21 horas, com o sono e a fome martirizando o grupo, o retorno para o “doce lar” tornara-se imperioso, notadamente porque havia chovido bastante. A jornada foi penosa e despertou nos caminhantes uma fome danada. No interior do quarto sentiram que seria difícil dormir com fome. Um deles decidiu ir à casa de um comerciante, dono de uma geladeira a querosene, buscar a carne do grupo que ali ficava conservada.
O encarregado da façanha levou uma esculhambação sem precedentes,mas pegou a carne. Farinha tinha. De tempero, só o sal. E o fogo, como seria aceso? O fogão improvisado ficava no quintal e a lenha estava molhada. Alguém lembrou ter visto um saco de sarrapilheira cheio de papel na frente do Fórum e foi buscá-lo. Despejaram o papel no chão e jogaram a lenha molhada sobre ele. O calor faria os restos de caixas de madeira pegar fogo. Quando a lenha ardeu os espetos de carne foram estendidos. O mau cheiro era muito forte, gerando a suspeita de que a carne estava estragada. O mais faminto gritou: “vai assim mesmo, depois a gente toma magnésia”. Na 2ª feira, bem cedo, os farristas viram que o papel recolhido no Fórum era de sanitário.
Promessas a granel
Os promesseiros políticos estão de volta. Eles correspondem aos periquitos que só pousam nas mangueiras quando elas estão frutíferas. Chegam com uma fome feroz e não dispensam bem as manguinhas verdes. As palavras chaves são as mesmas de sempre: novas escolas, postos médicos, atendimento dentário, assistência hospitalar esmerada, novos coletivos, geração de empregos, asfaltamento de ruas, avenidas, becos e pontes, bibliotecas com moderníssimo acerto, segurança pública eficiente, limpeza total das cidades, aberturas de novas estradas e revestimento asfáltico das existentes, etc. Segundo informes de domínio público, são mais de 400 candidatos concorrendo aos cargos de prefeito e vereadores. Alguns deles já alcançaram o píncaro da glória, mas agora estão em queda livre e prestes a sentirem o “cheiro da perpetua”. Mesmo assim não perdem a pose. Falam com a voz mansa como se fossem “anjos de candura”, mas só parecem. Dizem, que o diabo quando não vem manda o secretário ou alguém que o represente neste vale de lágrimas.
Para agradar os eleitores, vários candidatos evidenciam apelidos bem bizarros e até abreviados, porque a escrita ou a pronuncia literal não soam bem. Sujeito de baixa estatura, que tem a bunda baixa, conhecido por parentes e amigos como “cu-de-râ”, propala que seu nome de guerra é “De rã”. Outro, cujo “cegonho” não levanta mais o pescoço é “P. Mole”. Em Rondônia apareceu agora um tal de “Sobre Cú.” É famosa a história de um individuo que ficou rotulado como “calça nova”. Sendo conhecidíssimo no serviço público por exigir e receber propina caiu na besteira de enaltecer sua duvidosa honestidade por ocasião de um comício. Batendo nos bolsos laterais da calça gritou: “nestes bolsos nunca entraram dinheiro público”. Um eleitor, que conhecia muito bem a vida pregressa do bafento, retrucou: “calça nova, né Gabiru”? O candidato prometedor de instalar bibliotecas municipais bem modernas não é um marinheiro de primeira viagem. No presente momento tem o domínio do órgão estadual responsável pelo desenvolvimento da política cultural da nossa combalida “Capitania do Cabo Norte”. A Biblioteca Elcy Rodrigues Lacerda passa por um dos seus piores momentos e há muito tempo não recebe a atenção que merece.
O atual prefeito de Macapá, que concorre à reeleição, também prometeu muita coisa na campanha passada. Ocorre que pretensão é um coisa e a realidade outra. A política bem praticada é importante e salutar. Porém, querer praticá-la usando de práticas aéticas e imorais penaliza os munícipes e só apresenta vantagens para os que agem em conluio ou “cumandita”. Por isso, a “política” é tida como a arte de enganar os trouxas. E é mesmo. Vez por outra, velhacos políticos tiram do fundo da cartola alguém que o eleitor nem conhece.
O sujeito é orientado a agir com cidadão exemplar e merecedor de toda a confiança possível. Este tipo de gente é rotulada como “jabuti”, que num passo de mágica sai do chão para o galho de uma árvores. Ora, jabuti não sobre em árvore, dirão alguns eleitores. Isso mesmo, mas vocês, estimulados por políticos velhacos o colocam em plano elevado. A desgraça é que, uma vez estabelecido no galho, o jabuti não quer descer de jeito algum.
A queda só acontece quando a árvore é derrubada. Para evitar o desmatamento é recomendável manter o jabuti no solo. Quem não dispõe de recursos fartos financeiros e não conseguir fechar acordo consistente com financiadores de campanhas não deve de atrever a concorrer a um cargo eletivo. Nem sempre o eleitor está disposto a fazer uso do voto de protesto, que é optar por um candidato tido sem expressão, cuja vitória despertará revoltas e rancores nos candidatos melhor qualificados. Coisas deste tipo já ocorreram no Brasil.Em São Paulo os eleitores votaram no rinoceronte “Cacareco”,que era do Zoológico do Rio de Janeiro e tinha cedido para o congênere paulista por um certo período de tempo.Os eleitores gozadores alegaram, que sendo vereador na paulicéia o “Cacareco” teria que exercer seu mandato na terra da garoa.Em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, foi eleito o “Bode Cheiroso”, caprino que chegou a vestir paletó e ser levado à Câmara Municipal no dia da posse.
Civismo não é subserviência
A crítica situação existente na educação brasileira, no tocante aos atos de indisciplina cometidos por alunos, ao ponto de espancarem professoras, desponta como uma gravíssima falha, que precisa ser corrigida. Em outros tempos, o sistema de ensino nacional contava com conteúdos referentes á moral, á ética e ao civismo. Os alunos recebiam ensinamentos sobre o comportamento que deveriam ter no convívio com seus semelhantes, alicerçados em valores morais, práticas de cidadania e respeito às instituições. O civismo, tão em falta ultimamente, refere-se à atitude e o modo de agir que no dia-a-dia manifestam os cidadãos em defesa dos direitos e deveres que tornam patente a preservação harmoniosa do bem estar de todos.
O civismo não relega a cidadania e o republicanismo, embora maus políticos e adeptos de correntes filosóficas de esquerda queiram torná-lo sinônimo de nacionalismo inexpressivo. Algo como a afirmativa de que os que apreciam o civismo têm inclinação para o militarismo. O civismo precisa voltar a ser praticado no Brasil, pois o cidadão consciente de seus direitos e deveres é um propulsor do crescimento da Pátria. Mas, o próprio governo não o pratica. O que o governo faz, distribuindo benesses ao povo carente é oportunismo cínico. O mau cidadãp é aquele que não respeita os valores, as instituições e as boas práticas políticas de seu país. Faz de tudo para se dar bem. Só visa seus interesses individuais.Não valoriza sua própria história, não conhece os hinos pátrios, não respeita os mais velhos, discrimina seus semelhantes pela cor, credo, religião, situação financeira. É o caso dos indivíduos que colocam seus carros nos lugares reservados para idosos e deficientes. Ignoram os indicativos de atendimento prioritário para gestantes, evidenciam sua condição de autoridade para ser o primeiro a usar um caixa eletrônico e entrar em avião. Antigamente, as regras de boa conduta eram ensinadas nas escolas. Diziam as professoras: “seja educado com as pessoas, ajude os mais velhos a atravessar as vias publicas, a subir escadas, a tomar ônibus, a carregar objetos. Nunca fale palavrões, não faça sinais ou gestos obscenos, não se aproprie de valores de terceiros e públicos”.
Os estudantes, militares, membros de instituições cívicas e o próprio povo apreciavam participar e assistir aos desfiles realizados por ocasião do dia da pátria. No decorrer do período que se estende de 1930 a 1945, denominado “Era Vargas”, notadamente a fase do Estado Novo (1937 a 1945), o civismo do brasileiro foi fundamental para a ocupação das faixas de fronteira, desabitadas e vulneráveis. O cidadão atendeu ao chamado dos governantes para participar de empreitadas marcantes, a exemplo do que se deu na área que hoje corresponde ao Estado do Amapá. Jovens de todas as profissões vieram atuar na novel unidade federada, aceitando encargos para trabalhar no interior. Isso foi possível porque essa gente tinha plena consciência do que é ser civista. Seus filhos cresceram ouvindo repetidos conselhos dos pais, dos mais velhos e das professoras. As escolas públicas foram eficientes ao tornar os alunos participes de importantes momentos da memória nacional. Disciplinas importantes como Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira, Estudo dos Problemas Brasileiros e Ensino Religioso foram incluídas nos currículos escolares. Todas tratando da ética, moral e civismo.
A disciplina Educação Moral e Cívica foi instituída nas escolas pelo Decreto-Lei nº 869/1969, em todos os graus e modalidades do sistema de ensino do país. A novidade não foi bem aceita pelos políticos de má índole e só permaneceu em evidência até meados da década de 80. Na última década, 12 projetos de lei e, elaborados pó 11 deputados federais e um senador foram apresentados no Congresso Nacional propondo a volta do ensino que versa sobre moral e civismo. Até hoje, os documentos não foram integralmente digitalizados, prova do descaso dos parlamentares sobre o assunto. O senador Pedro Simon, autor de um dos projetos, afirmou que é preciso rejeitar a concepção puramente instrumental da escola, tornando mais conseqüente o fato de que ela é também responsável pela formação ética e cívica dos estudantes.
Recordações da minha infância – Praça da Matriz
Em fevereiro de 1758, ao ser feito o delineamento da área onde seria implantada a Vila de Macapá, dois amplos espaços retangulares foram traçados e identificados como Largo de São Sebastião e Largo de São João. Devido à edificação da Igreja Matriz de São José, com o passar do tempo, o Largo de São Sebastião ficou conhecido como Largo da Matriz e assim permaneceu até 1924, ocasião em que recebeu como patrono o Capitão do Exército, Augusto Assis de Vasconcelos. Em torno do Largo da Matriz despontou o centro histórico de Macapá compreendendo prédios públicos da administração municipal e residências diversas.
Entre os primeiros figuraram a sede do Senado da Câmara, a Cadeia Pública, a Escola São José, a Casa Paroquial e o templo religioso cujo patrono é o santo carpinteiro. Os imóveis em questão ocuparam terrenos à Rua São José, a única via pública de Macapá, que manteve sua designação original. Casas de comércio, oficinas e portas de prestadores de serviços contornaram o referido largo. Os principais acontecimentos ocorriam no centro da vila e depois cidade de Macapá. Em 1943, quando foi criado o Território Federal do Amapá, a decadência de Macapá era preocupante. A contar de janeiro de 1944, mudanças expressivas começaram a mudar o panorama desolador do burgo. Velhos casarões passaram por reformas bem interessantes. As chamadas casas de taipa, feitas de barro foram reparadas com o mesmo material e apresentaram ótimo aspecto. Elas serviram para abrigar órgãos da administração territorial.
No antigo casarão do Senado da Câmara foi instalada a Unidade Mista de Saúde e esse uso se estendeu até a Inauguração do Hospital Geral de Macapá. Posteriormente serviu pra o funcionamento do Palácio do Governo. Em 1970, o prédio estava seriamente avariado e sem condições de ser reformado ou adaptado. Na área despontou a Biblioteca Pública de Macapá, cujo aspecto era mais modesto do que vemos atualmente. Na Travessa Floriano Peixoto, onde o Padre Júlio Maria de Lombarde fez funcionar o Colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Maria passou a funcionar a Divisão de Segurança e Guarda.Mais adiante, na esquina da travessa em epigrafe, com a Rua Barão do Rio Branco( Cândido Mendes), o Fórum foi revitalizado.Entre a Travessa Siqueira Campos(Av. Mário Cruz e o Beco do Sambariri(Passagem Abraham Peres), o governo montou o Serviço de Geografia e Estatística.
Os demais órgãos dividira espaço com a Prefeitura de Macapá, onde hoje está funcionando o Museu Joaquim Caetano da Silva. Pequenas casas comerciais e residenciais prontificavam nas demais áreas.O Largo de São Sebastião foi o ponto vital da Vila de Macapá, que tinha no Senado da Câmara o órgão encarregado da gestão administrativa, da Justiça e de Policia. O pelourinho, símbolo das franquias municipais ficava próximo ao próprio Senado da Câmara. Em frente ao pelourinho eram lidas as proclamações e alvarás da edilidade macapaense e as oriundas do Grão-Pará e de Lisboa. As correções disciplinares principalmente as que se destinavam aos escravos também ali aconteciam.O Largo da Matriz não era dividido por caminho ou passarela.Por ocasião das festas de devoção, notadamente as consagradas a São José, competições comuns em Portugal eram levadas a efeito.
A mais empolgante era o “Jogo das Argolinhas” disputado por exímios cavaleiros que integravam a guarnição da Fortaleza. Cavalgando bons cavalos, e postando lanças, os competidores deveriam introduzi-las em pequenas argolas dependuradas em linha reta, que ficavam balançando como o pêndulo de um relógio. Os arraiais, com barracas bem ornamentadas e brincadeiras populares encantavam aos participes Ao longo do tempo, a área da atual Praça Veiga Cabral foi a mais utilizada por ser plana. A outra ala tinha um declive no sentido da Avenida General Gurjão.Em síntese, a Praça da Matriz serviu de pasto para animais, campo de futebol, armação de barracas de arraial,carrossel,barquinhas, roda gigante, circos,desfiles escolares, missa campal,comício político, show de artistas, etc.
Recordações da minha infância – Praça da Matriz
Em fevereiro de 1758, ao ser feito o delineamento da área onde seria implantada a Vila de Macapá, dois amplos espaços retangulares foram traçados e identificados como Largo de São Sebastião e Largo de São João. Devido à edificação da Igreja Matriz de São José, com o passar do tempo, o Largo de São Sebastião ficou conhecido como Largo da Matriz e assim permaneceu até 1924, ocasião em que recebeu como patrono o Capitão do Exército, Augusto Assis de Vasconcelos. Em torno do Largo da Matriz despontou o centro histórico de Macapá compreendendo prédios públicos da administração municipal e residências diversas.
Entre os primeiros figuraram a sede do Senado da Câmara, a Cadeia Pública, a Escola São José, a Casa Paroquial e o templo religioso cujo patrono é o santo carpinteiro. Os imóveis em questão ocuparam terrenos à Rua São José, a única via pública de Macapá, que manteve sua designação original. Casas de comércio, oficinas e portas de prestadores de serviços contornaram o referido largo. Os principais acontecimentos ocorriam no centro da vila e depois cidade de Macapá. Em 1943, quando foi criado o Território Federal do Amapá, a decadência de Macapá era preocupante. A contar de janeiro de 1944, mudanças expressivas começaram a mudar o panorama desolador do burgo. Velhos casarões passaram por reformas bem interessantes. As chamadas casas de taipa, feitas de barro foram reparadas com o mesmo material e apresentaram ótimo aspecto. Elas serviram para abrigar órgãos da administração territorial.
No antigo casarão do Senado da Câmara foi instalada a Unidade Mista de Saúde e esse uso se estendeu até a Inauguração do Hospital Geral de Macapá. Posteriormente serviu pra o funcionamento do Palácio do Governo. Em 1970, o prédio estava seriamente avariado e sem condições de ser reformado ou adaptado. Na área despontou a Biblioteca Pública de Macapá, cujo aspecto era mais modesto do que vemos atualmente. Na Travessa Floriano Peixoto, onde o Padre Júlio Maria de Lombarde fez funcionar o Colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Maria passou a funcionar a Divisão de Segurança e Guarda.Mais adiante, na esquina da travessa em epigrafe, com a Rua Barão do Rio Branco( Cândido Mendes), o Fórum foi revitalizado.Entre a Travessa Siqueira Campos(Av. Mário Cruz e o Beco do Sambariri(Passagem Abraham Peres), o governo montou o Serviço de Geografia e Estatística.
Os demais órgãos dividira espaço com a Prefeitura de Macapá, onde hoje está funcionando o Museu Joaquim Caetano da Silva. Pequenas casas comerciais e residenciais prontificavam nas demais áreas.O Largo de São Sebastião foi o ponto vital da Vila de Macapá, que tinha no Senado da Câmara o órgão encarregado da gestão administrativa, da Justiça e de Policia. O pelourinho, símbolo das franquias municipais ficava próximo ao próprio Senado da Câmara. Em frente ao pelourinho eram lidas as proclamações e alvarás da edilidade macapaense e as oriundas do Grão-Pará e de Lisboa. As correções disciplinares principalmente as que se destinavam aos escravos também ali aconteciam.O Largo da Matriz não era dividido por caminho ou passarela.Por ocasião das festas de devoção, notadamente as consagradas a São José, competições comuns em Portugal eram levadas a efeito.
A mais empolgante era o “Jogo das Argolinhas” disputado por exímios cavaleiros que integravam a guarnição da Fortaleza. Cavalgando bons cavalos, e postando lanças, os competidores deveriam introduzi-las em pequenas argolas dependuradas em linha reta, que ficavam balançando como o pêndulo de um relógio. Os arraiais, com barracas bem ornamentadas e brincadeiras populares encantavam aos participes Ao longo do tempo, a área da atual Praça Veiga Cabral foi a mais utilizada por ser plana. A outra ala tinha um declive no sentido da Avenida General Gurjão.Em síntese, a Praça da Matriz serviu de pasto para animais, campo de futebol, armação de barracas de arraial,carrossel,barquinhas, roda gigante, circos,desfiles escolares, missa campal,comício político, show de artistas, etc.
Recordações da minha infância – o casarão de Sofia Mendes
O casarão do casal João de Azevedo Coutinho e Sofia Mendes Coutinho, edificado na esquina da Avenida General Maximiano Antunes Gurjão e a Rua São José era o prédio particular mais bonito da velha cidade de Macapá. Seus proprietários integravam famílias tradicionalíssimas e de elevado conceito. João de Azevedo Coutinho descendia do clã liderado pelo Coronel Matheus de Azevedo Coutinho e dona Sofia provinha do tronco familiar cuja figura maior era o Coronel Manuel Theodoro Mendes, cidadão que comandou a guarnição da Fortaleza São José, foi um dos mais destacados Intendentes do município paraense de Macapá e destacou-se como pecuarista na região do Rio Macacoary.
O casarão foi demolido no final do ano de 1970, desapropriado pelo governo do Território Federal do Amapá para permitir a modernização urbanística do centro de Macapá. O terreno se estendia desde a Rua São José até a antiga Rua dos Inocentes, atual Passagem Rio Branco, que liga a Rua General Gurjão ao propalado Largo do Formigueiro. Era mais comprido do que largo. De frente para o velho Largo da Matriz, à margem da Rua São José, tinha à sua esquerda uma área anexa ao Senado da Câmara, que abrigou há pouco tempo a sede do Panair Esporte Clube, mas atualmente pertence à Telefônica OI. O majestoso imóvel, edificado em taipa de pilão, possuía cômodos amplos, um deles alugado à Prefeitura Municipal para acomodar a Escola Primária da cidade de Macapá. Em meados da década de 1950, o citado ambiente passou a abrigar a Secretaria do Colégio Amapaense, cujo prédio ainda estava em construção. Esta ampla sala ficava à esquerda da entrada do casarão, tinha instalações sanitárias e acesso para a Avenida General Gurjão. No lado direito de quem ingressava na “Casa da Tia Sofia” ficavam os quartos, copa, cozinha, dispensa para gêneros alimentícios, depósito para lenha e carvão, forno e galinheiro.
O vasto quintal tinha inúmeras árvores frutíferas, plantas medicinais e decorativas, além de um poço com sarilho. Lembro de um portão existente no cercado paralelo á Rua General Gurjão, posicionado de frente para a casa dos meus pais. Era difícil acontecer, mas as vezes Dona Sofia valia-se da passagem para ir em casa conversar com minha mãe Olga Montoril de Araújo, quase sempre para fazer fuxico contra mim. Ela costumava ficar sentada na sacada do seu quarto bisbilhotando tudo que acontecia na área que hoje abriga o Teatro das Bacabeiras, onde havia um campo de futebol. Ali passávamos a tarde jogando bola, empinando papagaio e disputando peteca. Quase todos os dias, por volta das 16 horas, Dona Sofia me chamava, entregava uma recipiente envolto em papel de embrulho e pedia para que fosse até o comércio do Duca Serra (Emanuel Serra e Silva) buscar uma encomenda. Em troca pelo recado eu recebia um cruzeiro. A recomendação era pra eu não desembrulhar o frasco. Seu Duca recebia o vasilhame, mandava que eu esperasse do lado de fora da venda e depois me chamava. Durante anos eu tentei saber qual era o segredo daquela compra. Somente há pouco tempo a Palmira Mendes Coutinho, uma de suas filhas, revelou que era cachaça alvorada, usada por Dona Sofia para preparar um delicioso licor de jenipapo. A cerca do terreno era de hastes de acapu, madeira super resistente, que ainda estava bem conservada quando ocorreu a desapropriação da área.
Ao longo dela, pelo lado externo, havia melões de São Caetano e muito gengibre. Meus vizinhos que participavam das festas do Marabaixo colhiam à vontade para o preparo da gengibirra. Conheci o casarão em detalhes, haja vista que, em inúmeras oportunidades fui convocado para apanhar goiabas, mamões e cajus. Eu comia mais goiaba do que colocava na sacola feita de saco de sal. Dona Sofia e Seu João Coutinho geraram três excelentes criaturas: Raimunda Mendes Coutinho, a Professora Guita, José Mendes Coutinho e Palmira Mendes Coutinho. Convivi com os três, todos amigos dos meus pais.Dos seus familiares, apenas o neto Círio de Nazaré Menezes Coutinho recebeu da avó a autorização para construir sua residência na nobre área, onde sua viúva ainda mora. No restante do espaço há um prédio das Lojas Kennedy e da Telefônica OI.
Recordações de minha infância (II)
O antigo prédio da Cadeia Pública de Macapá, erigido na esquina da Av. General Gurjão com a Rua São José mexia com a imaginação dos supersticiosos. Seu Jorge Modesto, o barbeiro que se encarregava de cortar o cabelo da molecada dizia que os causos sobrenaturais a respeito do imóvel não passavam de invencionices. O tal buraco escuro ficava exatamente na parte que ele e sua família ocupavam. Como eu era amigo do Clóvis e do Antonio, filhos de seu Jorge e Dona Nilza Madureira, tinha liberdade para entrar na casa e conhecia bem o lugar, Os cômodos ocupados por Dona Mariinha e seus familiares também abrigaram a alfaiataria do Seu José Atayde, o Barbudo. Seus auxiliares eram o Formiga e o Xunda, dois apreciadores da água que passarinho não bebe.
O Formiga era pacato, mas o Xunda virava o cão em figura de gente quando ingeria uns gorós. Seu Jorge faleceu no inicio do ano de 1952. Seus familiares não tardaram a obter um terreno no chamado bairro da CEA e ali construíram casa própria. Os cômodos passaram a ser alugados para o seu Edgar, um relojoeiro apaixonado pelo Paysandu Esporte Clube conhecido como “boca rica”. A edificação foi demolida em 1970, para permitir o alargamento da Avenida General Gurjão. Passando este prédio, estava a casa do senhor João Batista Coutinho, identificado como “João Barca”.Era um bom marceneiro e desenvolvia suas atividades funcionais na Garagem Territorial. Fabricava brinquedos, utensílios de cozinha em madeira, copos e tigelas de vidro. Os copos podiam ser cortados de garrafas de remédios, refrigerantes, cachaça, cerveja e vinho. As tigelas surgiam da utilização de garrafões de vinho de cinco litros. Ele utilizava óleo retirado dos motores geradores de energia da Usina de Força e Luz nos períodos de troca do lubrificante. A técnica empregada nos deixava fascinados.
O óleo era colocado para ferver e depois derramado dentro do recipiente que seria cortado, que se encontrava dentro d’água. O gargalo quebrava certinho no nível da água. Seu João Barca possuía um “boi cavalo” preto muito manso chamado de “Beleza”. Nos período das festas de devoção (São José e Nossa Senhora de Nazaré), ele selava o animal e o levava para o Arraial. Quem quisesse dar uma voltinha sobre o bicho tinha que pagar. Sua esposa era a mazaganense Raimunda de Araújo Coutinho, Dona Dica, mulher trabalhadora e primorosa no preparo de açaí, cuscuz, pastéis, pé-de-moleque, bolo de macaxeira e filhós.
No quintal de sua residência havia uma mangueira que produzia mangas saborosas. Creio que era a única de Macapá com esta propriedade. Num dia de muita chuva e ventos fortes a mangueira veio ao chão. Passando o cercado do seu João Barca demorava uma velha casa coberta de palha e com piso de barro batido. Ela serviu de local para o funcionamento da unia fábrica artesanal de vinagre. Eram donos do empreendimento o Seu Júlio e meu pai Francisco Torquato, que depois se retirou do negócio. A produção tinha venda certa, mas as precárias instalações impediam a expansão. Como único dono, seu Júlio transferiu o empreendimento para a Rua José Serafim Gomes Coelho, atual Tiradentes, instalando em prédio de madeira entre as casas do casal Ramiro Leite/Sime Madureira e Luzia Francisca da Silva, a Mãe Luzia. O fundo do terreno conflitava com a área do casal João Costa Cecílio e Ursina, cuja frente ainda hoje demanda para a antiga Rua dos Inocentes (Passagem Rio Branco).A casa dos meus pais era a mais nova da rua, com a sala de visita e o pátio feitos em taipa de mão,mas sem a rede de ripas e cipós.
As paredes eram feitas de tábuas brutas, ripadas no sentido horizontal. Sobre as paredes foram assentadas camadas de argamassas preparadas com barro, cal e óleo animal. Quem construiu os dois cômodos era muito bom em sua profissão. Bem niveladas e alisadas, as paredes receberam demãos de cal e ficaram bem bonitas. O restante do material veio da serraria que meu pai possuía no “Reduto do Rio Furo Seco”. Madeira de lei de primeira qualidade e bem aparelhada. Nosso terreno se estendia da Rua General Gurjão à Avenida Professora Cora de Carvalho.
Recordações de minha infância (I)
Há momentos em minha vida, que fico lembrando da minha infância e do meu convívio com moradores da Avenida General Gurjão, no centro de Macapá. Gerado na cidade de Mazaganópolis, onde meu pai Francisco Torquato de Araújo era prefeito, ali vivi de maio de 1944 a abril de 1946, ocasião em que meu genitor decidiu solicitar exoneração do cargo e foi cuidas dos seus empreendimentos comerciais na região das Ilhas do Pará. Fixamos morada no “Reduto do Rio Furo Seco, cuja foz fica na margem esquerda do canal norte do rio Amazonas em frente a entrada do rio Mutuacá, mais conhecido como Mazagão Velho. Em dezembro de 1948, eu estava caminhando para completar 4 anos de idade, quando meu pai comprou um imóvel bem construído pelo empreiteiro João Pernambuco e decidiu transferir a família para Macapá. Ainda hoje tenho duas irmãs que residem na via pública acima mencionada, nº 171, entre as Ruas São José e a Tiradentes.
O cenário era muito diferente dos dias atuais. Quase todas as casas eram erigidas em taipa de mão, posicionadas nas duas laterais da General Gurjão.Umas ocupavam terrenos longos. Outras quase não tinham quintal. No trecho citado diversos imóveis estavam abandonados, quase em ruínas. Quando comecei a ter noção das coisas da vida, ainda entrei em alguns deles, sem pensar o quanto deve ter sido penoso seus ocupantes baterem em retirada. Nem todos os residentes da Avenida General Gurjão eram de Macapá, mas estavam bem confortáveis no seio da comunidade macapaense.A partir da Rua Cândido Mendes, no sentido do Cemitério Nossa Senhora da Conceição, relembro da casa do senhor Luiz Pires da Costa, proprietário da “Casa das Cordas”, cidadão português egresso de Manaus, que casou em Macapá com Lina de Matos, integrante de tradicionalíssima família local.
O casal havia morado bem perto da margem direita do rio Amazonas, ocupando área que o governo territorial do Amapá desapropriou para melhorar o aspecto da frente da cidade e construir o Macapá Hotel. Depois da Casa das Cordas existiam quatro residências geminadas feitas em taipa. Uma delas abrigou por muito tempo a Escola Municipal de Macapá. Onde estão eretos os prédios da Embratel e uma residência pertencente à Companhia de Eletricidade do Amapá, existiu uma espécie de pracinha, sendo possível trafegar por ela, entre as avenidas General Gurjão e Cora de Carvalho.Isso, antes da criação do Território Federal do Amapá. Com a implantação da nova unidade federada, o governo utilizou o amplo espaço para edificar a Garagem Territorial e a Usina de Força e Luz. A partir da usina recordo o aspecto da humilde habitação do casal Adão e Eva, vizinhos dos macapaenses Emanuel Serra e Silva e Antônia Picanço e Silva, conhecidos como Duca Serra ou Minduca e Antonica. Minduca era pequeno comerciante e já havia trabalhado no Serviço Especial de Saúde Pública-SESP, como “mata mosquito”. Vinha a seguir o “Café Moeda”, local preferido pelos funcionários da Garagem Territorial e da Usina de Força e Luz.Seu proprietário era o senhor Antônio Pinheiro Sampaio, rotulado como “Seu Moeda” e casado com Antônia Silva Sampaio. Passando um terreno sem construção alguma vinha a “Pensão Sempre Viva”, gerenciada pela Madame Nenem Veríssimo e por sua filha Maria do Carmo.
A pensão integrava um bloco de casas geminadas composto por três unidades, às duas últimas pertencentes à Dona América Tavares e ao casal Herádito de Azevedo Coutinho (Ditinho) e Raimunda Coutinho (Dica). A Rua São José separava esse conjunto de uma edificação muito antiga, feita em taipa de pilão, com paredes bem grossas. Ali tinha funcionado a Cadeia Pública da Vila e da Cidade paraense de Macapá. Sua ocupante era Dona Mariinha tendo como co-habitantes o barbeiro Jorge Modesto e sua esposa Nilza, seu Jayme e dona Benedita (Biló). Diziam que o local era mal assombrado e que as almas dos que morreram no poço seco escavado em uma das celas gemiam e arrastavam correntes. Tudo fantasia. Rente a Cadeia morava João Barca e Raimunda Coutinho(Dica) compadres de meus pais Francisco Torquato e Olga Montoril.
Ações governamentais no interior
Ao iniciar sua gestão como governador do território federal do Amapá, a 25 de janeiro de 1944, o capitão Janary Gentil Nunes precisou contar com o apoio de uma valorosa equipe para poder mudar o cenário decadente que a região correspondente à nova unidade federada apresentava. Se na capital o estado sanitário era deprimente, no interior a realidade revelava um abandono absoluto, notadamente na área compreendida entre o arquipélago do Bailique e a margem direita do rio Oiapoque.
A cidade de Amapá e o povoado e Oiapoque, por exemplo, só podiam ser alcançada por via marítima, aérea e fluvial. Mesmo assim. Antes de meados do ano de 1945, o governo recorreu aos préstimos de proprietários de embarcações para visitar pontos afastados da sede administrativa. Uma vez por semana, aos sábados um avião do Correio Aéreo Nacional-CAN, vindo do Rio de Janeiro, pousava em Macapá, Base Aérea de Amapá e Oiapoque, estendendo seu vôo até Caiena. Nestas ocasiões cargas importantes e trabalhadores eram transportados.
A estrada de rodagem Macapá/Clevelandia sequer passava do quilômetro 25, entrada pata a região do rio Pedreira. Nos dias que antecederam o final do mês de junho de 1945, quando o governo já havia criado o Serviço de Transportes Marítimos e contava com alguns iates, entre eles o Itaguary, Janary Nunes convocou alguns membros de sua equipe para empreender uma importante viagem à região norte do Território do Amapá. A visita seria de inspeção aos serviços públicos e levantamento das necessidades vitais dos interioranos. Todas as providências foram tomadas com a antecedência necessária. A bordo do iate Itaguary foram colocadas carteiras escolares, material didático, medicamentos, gêneros alimentícios, aparelhagem cinematográfica, redes, mosquiteiros, combustíveis. Além da tripulação, comandada pelo mestre Idalino Oliveira, encontravam-se embarcados enfermeiros, professoras e alguns operários.
O Iate Itaguary antecedeu a viagem da comitiva governamental e foi aguardá-la em Oiapoque. No dia 30 de junho, uma quinta-feira, a comitiva governamental embarcou em um aparelho do Correio Aéreo Nacional com destino à fronteira norte do Brasil. Acompanharam o governador: o capitão Humberto Pinheiro de Vasconcelos Diretor da Divisão de Segurança e Guarda e comandante da Guarda Territorial; o engenheiro Hildegardo Nunes, Diretor da Divisão de Viação e Obras Públicas; o agrônomo Arthur de Miranda Bastos, diretor da Divisão de Produção e Pesquisa e o médico Célio Melo,representando a Divisão de Saúde. Ao chegarem ao Oiapoque, os excursionistas embarcaram no iate Itaguary, onde ficaram instalados. Na manhã do dia 1º de julho foi empossado o primeiro prefeito do município de Oiapoque, senhor Amadeu Burlamaque Simões. Em seguida, a embarcação seguiu para Clevelândia do Norte, aldeia dos índios Galibis, no rio Uaçá, propriedades da senhora Quity Guarany, do casal Jacynto Santos, casal Amaral, senhor Antônio Abreu e Ponta dos Índios. No Uaçá foi conhecido o trabalho que o Serviço de Proteção aos Índios vinha realizando. Os silvícolas receberam a assistência de que precisavam para produzir e vender seus produtos agrícolas. Seus filhos dispunham de um internato que, instalado a pouco tempo, prometia ser eficiente.
O Serviço de Proteção aos Índios estava sob o controle do inspetor Eurico Fernandes. Dia 4 de julho os excursionistas atracaram na cidade de Oiapoque, pela madrugada. Durante o dia o governador atendeu dirigentes locais e comunitários. À noite, a comitiva jantou na residência do casal Becil e participou de um baile na sede do Oiapoque Clube. Na tarde do dia 6 de julho, o Itaguary deixou Oiapoque, entrou nos rios Cassiporé e Jenipapo indo até Vila Velha. Concluído os trabalhos, o belo iate voltou a costear o litoral e, dia 8 atracava na propriedade do senhor Raul Nascimento, no Cunani. Dia 9 seguiu para a Vila de Calçoene e dia 10 atracava no trapiche da cidade de Amapá, ali permanecendo até dia 12. O governador Janary Nunes e seus diretores deslocaram-se até a Base Aérea, retornando a Macapá em avião dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul.